‘Rota’ das operações levantou suspeita de motivação eleitoral
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) reagiu às suspeitas de que operações recentes do MPE-MS contra prefeitos do interior seriam influenciadas por interesses eleitorais do grupo político dele. Os alvos, prefeitos de Jaraguari e de Paranhos, dizem que foram vítimas das ações investigatórias na semana passada porque concorrem à reeleição e são adversários fortes de candidatos tucanos.
Em Jaraguari, policiais civis foram até lá para apurar suposto esquema de fraude em licitações e superfaturamento de obras, crimes que teriam causado prejuízo de R$ 8 milhões ao município. Já em Paranhos, o MPE (Ministério Público Estadual) ocupou três prédios públicos, prefeitura um deles, no âmbito da São Tomé, operação que apura a prática do nepotismo no município.
Para o governador, as denúncias devem ser apuradas e se houver crime que os envolvidos sejam punidos como prevê a lei, e acrescentou: “não fazemos da polícia um instrumento de governo, a polícia é um instrumento de Estado. E ela serve a todos. Havendo necessidade de investigação é preciso se aprofundar, ainda mais uma investigação que sinaliza desvio de recurso público”. Azambuja rebateu as queixas dos prefeitos via nota publicada no portal do governo.
O diretor-geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas, também rejeitou a ideia de manobra política nas operações: “toda ação investigatória tem por objetivo buscar a verdade real dos fatos, visando servir e proteger à sociedade. A Polícia Civil nunca é movida por interesses políticos por parte de nenhum partido. Nós somos uma polícia de Estado e não de Governo”.
SÃO TOMÉ
A operação São Tomé (alusão ao primeiro caso de nepotismo que se tem notícia no Brasil, ainda no regime imperial), em Paranhos (460 km de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai), contou com a participação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). O promotor de Justiça, William Marra, que conduz a investigação, disse ter cumprido mandados de busca e apreensão nos prédios da prefeitura, hospital municipal e secretaria de saúde local.
A ideia era a de juntar documentos que reforce o inquérito instaurado pelo promotor, que apura a contratação de um enfermeiro que seria parente do prefeito da cidade, Júlio César.
O prefeito reagiu à operação dizendo que o Gaeco estaria requentando uma investigação que, para ele, tinha sido resolvida em 2014, dois anos atrás. Júlio César disse que a prefeitura havia contratado um concunhado (marido da cunhada) para trabalhar no hospital municipal. Assim que contestado pelo MPE, o prefeito, mesmo contrariado, por assegurar que concunhado não é parente, demitiu o enfermeiro.
Júlio César disse que seu interesse em reeleger-se prefeito da cidade e ter como principal rival um candidato do PSDB, partido do atual governo, seria a razão da suposta perseguição. “Está nítido que essa operação tem cunho político”, protestou o prefeito.
JARAGUARI
Em Jaraguari (50 km de Campo Grande, saída para Cuiabá), policiais civis da Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado) cumpriram mandados de busca e apreensão no prédio da prefeitura. Licitações fraudulentas e obras superfaturadas teriam motivado a operação que ficou conhecida como Meteoro.
O chefe de gabinete do prefeito Vagner Vilela, Ariel Fernandes Lima, logo depois da operação, já suspeitou do suposto complô político: “lamentamos o ocorrido, por ter antes de tudo, cunho político, amplamente divulgado por veículos de comunicação que chegaram ao município praticamente junto com as forças policiais em uma clara demonstração de combinação com intuito de manchar a imagem do prefeito candidato à reeleição”. O prefeito da cidade nega as acusações.