Chefe do MPE-MS demite assessora por enviar carta anônima a desembargador

Trama envolve gabinete do PGJ, Câmara dos Vereadores e TJMS

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Trama envolve gabinete do PGJ, Câmara dos Vereadores e TJMS

Mais um episódio de suposto vazamento de informações no Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul atingiu a cúpula do órgão e levou à demissão de Tatiana Armôa Machado, assessora de assuntos institucionais do Procurador-Geral de Justiça, Paulo Cezar dos Passos, nesta quarta-feira (20).

Funcionária sem concurso mantida no cargo há 15 anos por Passos com salário bruto de R$ 16.856,58, ela admitiu participação no envio de uma carta anônima para o desembargador Paulo Alberto Oliveira. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Tudo começou com uma carta entregue no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul que supostamente teria saído do prédio da Procuradoria Geral de Justiça, no Parque dos Poderes, passado pela Câmara dos Vereadores, e chegado às mãos do desembargador empossado em fevereiro deste ano na vaga cuja indicação é feita pelo MPE-MS.

O conteúdo implicaria o promotor Marcos Alex Vera, ex-titular do Gaeco e atualmente também lotado no gabinete de Paulo Passos como ordenador de despesas do MPE-MS, no suposto vazamento de informações sigilosas para a imprensa. Oliveira, que é ex-procurador-geral do Ministério Público, ordenou a apuração da origem do material.

Email de R$ 13,90

Dois emails supostamente enviados a partir da conta [email protected] informariam sobre um episódio antigo envolvendo o desembargador e sobre andamento de investigações da Operação Coffee Break. O primeiro teria rendido uma nota em um blog e o segundo teria embasado notícia em uma emissora de televisão local.

Marcos Alex também ficou sabendo do caso na sexta-feira e nega qualquer tipo de envolvimento com o envio dos supostos emails. “É uma montagem primária, aparentemente feita para ser descoberta. Não tem a mínima consistência. Os supostos vazamentos são apenas links para notícias antigas de outros jornais. Eu usaria um email pessoal? E passaria esse tipo de informação por email?”, questiona.

O email [email protected], segundo informação do Universo OnLine, empresa que administra o domínio ‘uol.com.br’, não é usado atualmente e inclusive pode ser registrado por quem queira pagar R$ 13,90 por mês. Para fazer a conta, no entanto, é necessário informar dados pessoais verificados, como CPF, nome completo, cartão bancário para cobrança e endereço para envio de boletos.

Traição no gabinete

Passos garante que foi surpreendido com a revelação de que a assessora está envolvida no caso e nega qualquer participação. “Foi tão surpresa para mim como para todos. É uma traição. Uma atitude dessas quebra a confiança”, comentou. Ele confirmou que a demissão está diretamente ligada ao episódio. Questionado sobre como o caso será tratado, já que envolveu o gabinete dele, Passos diz que pretende descobrir de onde partiu a trama.

Marcos Alex também diz que pretende chegar ao fundo do caso. “Todas as medidas já estão sendo tomadas. Inclusive na esfera criminal. Essa investigação está apenas começando”, afirma. E começou rápida, supostamente embalada pela ordem expressa de um desembargador e com recursos que geralmente enrolam os procedimentos em ‘casos normais’ nas delegacias.

Usando imagens do circuito interno do TJ-MS e até laudos papiloscópicos, a investigação identificou um motorista lotado no gabinete de um vereador na Câmara Municipal. Lá, o servidor implicou Jean Fernandes. Confrontado, ele foi contundente ao afirmar que o material teria sido enviado com conhecimento, participação e anuência de Paulo Passos.

Casal de assessores

Jean Fernandes é assessor do vereador Eduardo Romero (Rede) e casado com Tatiana, assessora direta de Passos há 15 anos e apontada como ‘braço direito’ do PGJ. O salário bruto que ela perdeu nesta quarta-feira é de R$ 16.856,58. Segundo o marido, eles conversaram com Passos na sexta-feira (15) e não sabem ‘como as coisas vão ficar’ após a mudança causada pela exoneração.

Nesta quarta, o que também mudou foi a versão inicial dele. Agora, Jean disse que agiu só com a mulher, sem conhecimento de Paulo Passos.

Chefe do MPE-MS demite assessora por enviar carta anônima a desembargador“Eu falei que ele tinha mandado enviar porque inicialmente eu que passei isso pra ela. Eu achei que ela tinha mostrado pra ele. Mas só que ela nao teve essa coragem de mostrar isso pra ele. Não passou”, conta na nova versão. Questionado sobre porque teria dito que a ordem da denúncia partiu do chefe da esposa, justamente alguém ligado ao MPE, ele diz que ‘se enganou’.

“Eu falei isso porque, como eu enviei pra lá, eu pensei que ele sabia, mas ele nao sabia de nada, entendeu? A minha esposa que sabia disso tudo, eu passei isso tudo pra ela. Mas, de fato, ele não sabia”, repete pausadamente. Sobre de onde teria, então, partido o material e o plano para fazer a carta chegar até Paulo Alberto, Jean responde rápido: “É uma pessoa que eu conheço, mas eu nao posso passar o nome dele”.

Fumaça

Questionado sobre a ligação que mantém com o vereador Eduardo Romero, recentemente denunciado à justiça em peça assinada por Passos após a Operação Coffee Break, tocada pelo Gaeco sob comando de Marcos Alex, Jean Fernandes garante que o chefe dele na Câmara nunca soube de nada. “Pelo amor de Deus. O Eduardo Romero, ele não tem nada a ver com isso tudo”, disse.

À reportagem, Romero confirmou que tomou conhecimento do caso recentemente e disse que ainda nem sabe direito de que se trata. Ele adianta, no entanto que não tem participação alguma na trama. “Isso tudo pra mim ainda é fumaça. Eu estou sabendo agora, mas vou tomar pé da situação e investigar essa história”, diz. O assunto está sob investigação na Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado).

 

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