Na ausência de fiscais ‘testemunhas', população começa a fiscalizar o serviço de tapa-buracos na Capital

Já que a Prefeitura não cobra a presença de testemunhas para o serviço de tapa-buracos na Capital, a população resolveu fiscalizar as empreiteiras que realizam o trabalho a serviço do município. Hoje, quinta-feira (5), foi a vez de as empresas e LD Construções, do grupo de , chamado de ‘papa-obras do Estado', serem flagradas tapando buracos-fantasmas.

O flagrante feito por leitores do Jornal Midiamax aconteceu no Bairro Santo Antônio, região oeste da cidade, na Rua Eunice Weaver, entre a Rua Leônidas de matos e a Avenida Manoel Ferreira.

Com seis contratos firmados ainda na gestão de Nelsinho Trad (PMDB), que comandou a prefeitura de 2005 a 2012, as duas empresas juntas ‘abocanharam' pelo menos R$ 18,7 milhões apenas para o serviço de . Como cada contrato pode ser aditivado em até 25%, esses valores podem ultrapassar R$ 23,3 milhões.

Moradores do Bairro Santo Antônio procuraram o Jornal Midiamax para relatar as irregularidades. A reportagem foi até o local e constatou pelo menos 20 reparos em apenas uma quadra da Rua Eunice Weaver.

 “Eu passo de carro todo dia aqui. Dirijo aqui e com certeza não tinha tudo isso de buraco. De jeito nenhum”, disse a dona de casa Maria Denise, de 50 anos. Os moradores confirmaram que não havia tal quantidade de buracos no trecho.

“Dá para ver que não tinha (buraco) eles só jogaram o pixe  e passaram a máquina em cima. Na (Rua) Leônidas de Matos tem buraco de verdade e eles não arrumam”, disse Roberto Paulo da Silva, de 60 anos, aposentado.

Em frente à casa de Bruno Araújo, de 20 anos, morador da rua, havia um ‘remendo' no asfalto. “Moro aqui faz tempo e não lembro de nenhum buraco onde eles estão tapando”, contou o rapaz.

Os moradores contaram ainda que nenhum deles foi convidado para vistoriar o serviço. “Eles são completamente caras-de-pau”, disse um homem que preferiu não se identificar. “Se tinha algum desses que eles taparam era bem pequeno, então deveria tapar outros buracos na Manoel Ferreira”, afirmou o aposentado Auri Antonio Espíndola, de 63 anos, revelando ainda ter visto um ‘fiscal da Prefeitura' acompanhando os funcionários.

Quando a reportagem chegou ao local, um ‘assovio' vindo de alguém no caminhão que acompanhava os trabalhadores pôs fim ao serviço. Na sede da LD Construções não havia ninguém para comentar o assunto. Os diretores da Proteco não foram encontrados.

Influência

Firmado ainda em junho de 2010, apenas um dos contratos com a LD, de propriedade de Luciano Dolzan, genro de Amorim, já recebeu pelo menos sete aditivos, o último data de 1º de outubro de 2014, já na gestão de Gilmar Olarte (PP), prorrogando o contrato até 2 de outubro de 2015. Com os acréscimos contratuais, a LD vai receber mais de R$ 15 milhões pelos serviços prestados, independente se tapando buracos ou simplesmente despejando CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente) em vias sem buracos. 

Empresários ligados ao ramo da construção civil apontam que o empreiteiro João Amorim goza de muita influência junto à Prefeitura de . O secretário de Obras, Valtemir Brito, que deve prestar esclarecimentos sobre o serviço de tapa-buracos na Câmara de Vereadores, foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações e não retornou contato até o fechamento da matéria.

O poder do homem denunciado ao Ministério Público por liderar um suposto esquema de fraude em licitações no Estado para favorecer seu grupo chegou ao ponto da nomeação de Renilda Ota Miyasato, considera pessoa de sua confiança, para o cargo de ‘diretora de gestão de contratos da Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação)'.

Ela foi ‘blindada' pela prefeitura e alegou ‘não estar autorizada a falar de sua nomeação'. Amorim foi denunciado ao MPE (Ministério Público Estadual) acusado de liderar um ‘clube de empreiteiras' que teria ‘abocanhando' pelo menos R$ 450 milhões em contratos em Mato Grosso do Sul. 

Confira o vídeo do flagrante:

 

A reportagem chegou no local quando funcionários ainda realizavam o serviço. No vídeo é possível ouvir o assovio que pôs fim ao trabalho: