Erros grotescos na operação do suposto esquema de que envolveria os dois maiores fornecedores do governo de Mato Grosso do Sul, João Amorim e , podem revelar como verbas públicas teriam sido dragadas dos cofres estaduais e federais por intermédio de obras e serviços contratados nos mandatos de André Puccinelli (PMDB) e levadas para fora do Brasil.

Uma das ‘empresas' supostamente usadas para montar uma rede de ‘shell companies', ou seja, pessoas jurídicas criadas para confundir as autoridades e dificultar o rastreio de dinheiro remetido ao exterior, simplesmente não é encontrada nos registros da KvK (Kamer van Koophandel), órgão equivalente à junta comercial de Amsterdã. Mesmo assim, a Arklyleius Holdings C.V., consta nos documentos da Kamerof Participações Ltda como sócia de Elza Cristina Araújo dos Santos.

Elza por sua, vez, é sócia de João Amorim na Proteco Construções Ltda. Além disso, a própria Kamerof, apesar de ter na constituição uma companhia que a KvK garante não existir, foi sócia da Itel, do João Baird, durante a maior parte do governo de André Puccinelli.

Só rastros na Holanda

A equipe de reportagem do Jornal Midiamax verificou nas autoridades holandesas o registro da empresa Arklyleius Holdings C.V. e a resposta é taxativa. Não há dados sobre a empresa nem nas pesquisas feitas pelo nome e nem pelo registro informado na documentação da brasileira Kamerof Participações, que também indica endereço onde funcionam outras empresas. De acordo com as autoridades holandesas, a empresa não foi sequer registrada.

Com as verificações nos registros, o Jornal Midiamax entrou em contato com o serviço de consultas da KvK em ligação gravada para verificar todas as possibilidades que deixariam rastro da existência da empresa, como fechamento do empreendimento, mudanças no nome, ou outro tipo de registro. Não há nada que mostre a existência legal da Arklyleius perante a KvK holandesa.

Também foram feitas buscas em cartórios locais sobre dados da empresa, sobre a qual não há nenhum registro.

Offshores e Lavagem de dinheiro

Apesar disso, ela é citada até hoje no contrato social da Itel por ter sido sócia da Kamerof. E a equipe do Jornal Midiamax localizou ainda um rastro de movimentação financeira registrada pelo Banco Central do Brasil em 2010, justamente com Kamerof realizando um IED (Investimento Estrangeiro Direto) para a Arklyleius.

Assim como a Kamerof Participações Ltda.,a Arklileiys também usa endereço de outra empresa na Europa. No registro, a informação é de que a sede da empresa fica no WTC Amsterdam Tower C, 11, Strawinkylaan 1143.

O World Trade Center Amsterdam é conhecido por reunir “brievenbus bedrijf”, ou seja, endereços de correspondência. São espécies de caixas postais para offshores receberem correspondência, por exemplo. O uso desses endereços foi alvo de escândalo no país, porque a maior parte das empresas atuava fora da Europa, mas sem registro na KvK, como a Arklyleius. Fato considerado ilegal no país.

As investigações revelam que a finalidade de abertura dessas empresas seria o repasse de recursos, seja por lavagem de dinheiro ou pagamento de propina. Assim, as empresas brasileiras usariam dinheiro destinado a offshores fora do país para transferências, como no caso da Siems, denunciado em 2013, quando o ex-presidente Adilson Antonio Primo pode ter usado uma conta aberta em Luxemburgo para transferir US$ 7 milhões entre 2003 e 2004.

Elza e João Amorim

Além da sociedade na Proteco Construções Ltda., ambos têm em comum empresas holandesas no currículo. João Amorim é diretor da Stichting van Shelling. No Brasil, a empreiteira dos dois realizou obras suspeitas em Mato Grosso do Sul, com desvio comprovado de R$ 11 milhões em recursos federais, segundo a Operação Lama Asfáltica.

Elza, além de sócia de Amorim, também participou da Itel, de João Baird, que detém mais de R$ 212 milhões em contratos com o governo do Estado. A sociedade dos dois durou quatro anos, o período exato do segundo mandato de André Puccinelli.