Que tem muita gente lucrando alto com o caos no transporte coletivo de Campo Grande, ninguém mais tem dúvidas. No entanto, desde 2012, quando foi assinado no apagar das luzes de um mandato, o atual contrato de concessão vive cercado de mistérios e suspeitas que nem a Câmara Municipal, nem os prefeitos que passaram pelo cargo e suas agências reguladoras, e muito menos o Ministério Público, parecem decididos a resolver.
Agora, enquanto a CPI aberta dez anos depois de cobrada pelos eleitores se arrasta, falando obviedades que rápida pesquisa nas notícias do Jornal Midiamax já escancara, vereadores comentam que ganham força rumores sobre supostas negociações paralelas que tentariam achar uma ‘solução honrosa capaz de satisfazer a todos’.
Faz muito tempo que esse ‘todos’ parece não incluir os principais interessados: os passageiros.
Muito se suspeita, mas nada se sabe (ainda) sobre quem anda, além do Consórcio Guaicurus, lucrando com o contrato para ‘atender as necessidades atuais e futuras de deslocamento da população’. Dizem funcionários mais antigos que está tudo lá para quem quiser investigar de verdade.
Desde uma repactuação, até o imediato rompimento do contrato, quem já atuou em procedimentos ligados às denúncias que envolvem a entrega do Transporte Coletivo de Campo Grande para os atuais donos, em dezembro de 2012, dias antes de Nelsinho Trad (PSD) deixar a prefeitura, garante que qualquer medida teria embasamento e justificativa.
Mas, nunca rolou. O que rola, a população já suspeita. Aliás, os clientes do Consórcio Guaicurus, apesar de esmagados pelo serviço de péssima qualidade, pela inércia de quem deveria, por obrigação de ofício, cobrar melhoria e segurar a sangria milionária, são os únicos a falar abertamente: muita gente além dos donos, lucra com esse caos.
Agora, enquanto supostas negociações para criar ‘momento favorável’ e a tal saída honrosa acontecem, reuniões e emissários de propostas espalham mais pistas no quebra-cabeças. Caso órgãos de controle resolvam agir, a verdade está aí. Não precisa nem olhar o rastro.
De 1992 para cá, transporte coletivo de Campo Grande foi de referência a caótico
O Transporte Coletivo de Campo Grande foi destaque nacional no fim do século passado. Em 1992, o então prefeito Lúdio Martins Coelho mandou sua equipe trazer o que havia de mais moderno para a capital de Mato Grosso do Sul. Nascia o SIT (Sistema Integrado de Transporte), que agilizou a mobilidade e interligou todos os cantos da cidade com passagens que valiam para mais de um trecho.
Terminais de ônibus nas pontas da cidade à época (Terminal Júlio de Castilho a oeste, Bandeirantes a sudoeste, General Osório ao norte e Morenão ao sudoeste) davam conta de diminuir o tempo para cruzar Campo Grande de um lado a outro pagando apenas uma tarifa.
Na época, três empresas historicamente ligadas ao transporte coletivo campo-grandense mantiveram as concessões e dividiram as linhas: Viação Cidade Morena, Viação Jaguar e Viação São Francisco. Havia problemas, logicamente, mas era uma época em que os motoristas e cobradores sabiam exatamente quem eram os patrões.
Com o passar dos anos, o sistema acabou desgastado pela falta de investimentos, pela crise nacional de mobilidade urbana e por situações que já rendiam suspeitas gravíssimas, como o rearranjo jurídico em uma ‘associação das empresas’, ou a gestão dos recursos do passe livre dos estudantes.
Assim, em 2012, o transporte coletivo de Campo Grande caiu nas mãos de um grupo grande, forte nacionalmente, que saiu ‘ganhando’ concessões Brasil afora.
Desde então, o ‘Consórcio Guaicurus’, conglomerado administrativo criado para reunir as empresas locais numa negociação envolta em reservas até para os funcionários, é quem manda. E como tem sorte:
- A licitação foi alvo de suspeitas graves, com flagrante de direcionamento denunciado por um delator no Paraná. Mas o MP de Mato Grosso do Sul, numa decisão pra lá de estranha, desistiu de ouvir a principal testemunha e enterrou as chances de sucesso para investigação.
- Ano após ano, os aumentos da tarifa ignoram dados óbvios, como auditoria no quilômetro efetivamente rodado pelos ônibus e cumprimento de regras básicas, como a troca dos veículos velhos.
- Os vereadores, legislatura após legislatura, evitaram a todo custo abrir CPIs para investigar todas as denúncias.
- As agências reguladoras nunca cobraram nem multas de trânsito dos ônibus, até quando foram expostas por reportagens do Jornal Midiamax e obrigadas vexatoriamente pela Justiça a agir.
- Os benefícios fiscais da Prefeitura para os empresários só aumentam e contrastam com a qualidade do serviço, que só diminui.
- O Consórcio segura várias decisões de mérito relevantes na Justiça, basicamente, com o papinho de que não lucra em Campo Grande. Aliás, estão confortáveis o suficiente para tratar juízes como trouxas e alegarem, em ações indenizatórias, que ‘não atuam no transporte de passageiros em Campo Grande’.
Diante de tantos abusos, é na boca da população de Campo Grande que está a suspeita: empresários seriam idiotas se brigassem para ficar num contrato onde não lucram.
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