A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre as importações de produtos brasileiros afeta diretamente a indústria de armas, setor em que Mato Grosso do Sul tem protagonismo político por suas pautas armamentistas.
Principal exportadora brasileira do ramo, a Taurus pode transferir sua produção para os EUA, o que ameaça até 15 mil empregos no Rio Grande do Sul.
Cerca de 87% de suas vendas externas são destinadas para os EUA, sendo que a companhia obtém 83% de sua receita líquida desse mercado.
A medida trumpista tem início previsto para 1º de agosto, caso a missão de reverter ou adiar a data de vigor das sanções não obtenha sucesso por parte da Comissão de Relações Exteriores que chega ao país norte-americano neste sábado, em busca de diálogo e pacificação.
Mercado de armas e a dependência americana
Em 2024, os EUA responderam por 61,3% de todas as exportações do setor, movimentando cerca de US$ 324 milhões dos US$ 528 milhões exportados pelo Brasil.
Outros países aparecem com participação significativamente inferior, sendo eles: Emirados Árabes Unidos (5,3%), Holanda (4,7%), Reino Unido (2,4%) e Burkina Faso (2,1%).
Juntos eles somam 24,2%, reforçando o peso estratégico do mercado norte-americano para a balança comercial do segmento.
Essa concentração torna o setor armamentista o terceiro mais dependente dos Estados Unidos, ficando atrás apenas das exportações brasileiras de materiais de construção (como cimento e amianto) e do setor aeroespacial, que inclui a Embraer.
Indústria inviável
O CEO da Taurus, Salésio Nuhs, garantiu que a taxação de Trump impõe um cenário de “inviabilidade total” e criticou a falta de habilidade do governo brasileiro em negociar uma solução diplomática.
“Isso mostra nossa falta de competência para discutir um assunto dessa magnitude”, afirmou.
Em Mato Grosso do Sul, o deputado estadual João Henrique Catan (PL), conhecido por defender a pauta armamentista, disse ao Midiamax que tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o governo Lula precisam ser responsabilizados pela crise no setor.
Catan vê como alternativa para driblar o prejuízo do tarifaço ao mercado de armas, o corte na ‘carte local’, através da redução de impostos do setor.
“Estados como Mato Grosso do Sul têm o poder de reduzir o ICMS sobre armas, o que beneficiaria a indústria do setor, mas muitos governadores têm barrado projetos nesse sentido”, declarou.
O deputado ainda traçou um paralelo entre a atual conjuntura e períodos autoritários da história brasileira, afirmando que o Brasil atravessa um “processo de sofrimento que pode levar à libertação”.
“Se esse for o preço para o Brasil se alinhar à maior democracia do mundo, os Estados Unidos, muito me honraria estar desse lado”, concluiu.
Mercado em queda
Enquanto isso, o mercado armamentista brasileiro, que registrou forte expansão durante o governo Jair Bolsonaro, época em que se registrou aumento expressivo nas vendas internas e nas exportações, agora vem enfrentando um cenário de retração desde 2021.
A reversão se acentuou com a mudança no comando do Executivo federal, que passou a adotar uma postura mais restritiva em relação à política de armas.
Em reportagem da BBC News Brasil, analistas do mercado financeiro apontam que a indústria de armas nacional, especialmente a Taurus, maior fabricante do país, voltou em 2024 ao mesmo nível de vendas registrado em 2018.
Durante o pico da demanda, entre 2018 e 2021, a empresa havia alcançado a marca de 2,3 milhões de unidades vendidas, impulsionada principalmente pelo mercado norte-americano e pela flexibilização interna promovida pelo governo Bolsonaro. No entanto, o volume caiu para 1,2 milhão no ano passado.
Catástrofe econômica
Em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, a possível saída da fábrica da Taurus diante do tarifaço de Trump é vista como uma catástrofe para a economia local.
O portal de notícias local Berlinda News, estimou que R$ 520 milhões em exportações da cidade estejam diretamente ligados ao mercado americano, o que representa 4,7% do PIB municipal.
“Uma redução ou paralisação dessas atividades pode gerar uma recessão regional com demissões em massa”, prevê.