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Política

Professora trans entra na Justiça para que deputado e vereadores excluam vídeos com ataques

Deputado João Henrique Catan (PL) fez ataques contra uma professora trans, durante sessão na semana passada, por ter se fantasiado na volta às aulas
Thalya Godoy, Gabriel Maymone -
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professora
Vídeo de professora com os alunos foi exposto durante sessão na Alems. (Reprodução, Instagram)

A professora transexual Emy Mateus Santos – que foi alvo de ataques do deputado estadual João Henrique Catan por ter se fantasiado de “Barbie da Shopee” para recepcionar os alunos na volta às aulas – entrou na Justiça pedindo que o parlamentar e outros políticos excluam o vídeo das redes sociais. 

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A docente foi alvo de falas consideradas transfóbicas na sessão da Assembleia Legislativa em 11 de fevereiro. No mesmo dia, a professora explicou que foi convidada a se fantasiar, como ela própria diz, de “Barbie da Shopee”. 

A Semed (Secretaria Municipal de Educação) emitiu uma nota explicando que fantasias são permitidas nas atividades lúdicas da educação infantil, mas que iria apurar o caso. 

Na mesma semana, em 14 de fevereiro, a professora entrou com uma “tutela antecipada requerida em caráter antecedente”, por meio da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, contra Catan e o Facebook, responsável pelo Instagram. A autora denunciou o conteúdo na rede social, mas aponta que continua no ar. 

Entre os pedidos, o Defensor Público de Segunda Instância, Júlio César Ocampos Gonçalves e a Defensora Pública e Coordenadora do NUDEDH (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos), Thaisa Raquel Medeiros de Albuquerque Defante, requerem que o processo corra em segredo de justiça para “evitar a exposição da intimidade da Requerente”. 

Além disso, também pedem que seja feita a exclusão do vídeo com a apresentação da professora dos perfis no Instagram do deputado estadual Catan, dos vereadores de Campo Grande André Salineiro (PL) e Rafael Tavares (PL), e da suplente a vereadora pelo PL, Vivi Tobias. Eles pedem que o não atendimento poderia gerar em multa diária, não inferior a R$ 1 mil, especificada pelo juiz.

Professora pede que vídeos sejam apagados

catan
Deputado João Henrique Catan (PL) é processado por professora. (Reprodução/Alems)

O processo foi enviado para a segunda instância do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), mas o juiz e relator Fábio Possik Salamene redistribuiu o processo para o juiz de primeira instância. 

“Ocorre que a pretensão autoral é de caráter cível (ação de obrigação de fazer c/c indenizatória), de modo que não atrai o foro por prerrogativa de função, mecanismo jurídico aplicável apenas a crimes cometidos no exercício de determinadas funções públicas”, aponta o magistrado. 

Na petição, a autora alega que o compartilhamento do vídeo trouxe grandes prejuízos nas esferas profissional, pessoal, familiar e social. No caso da publicação do deputado, o vídeo ultrapassa 310 mil visualizações. 

“Sopesa-se ainda o fato de o requerido, Sr. João Henrique, exercer mandato eletivo como deputado estadual, ser pessoa pública, e ter repercutido vídeo com declarações transfóbicas sobre a autora, divulgando sua imagem de forma não consentida, ao arrepio da lei e das proteções constitucionais dos direitos fundamentais da autora”, apontam. 

No início do ano letivo, a equipe docente teria se reunido junto à direção e coordenação da escola para elaboração do planejamento pedagógico. Nessa reunião, a direção da escola sugeriu e perguntou se as professoras de artes poderiam vestir fantasias para receber as crianças no primeiro dia de aula. O objetivo do recurso lúdico seria empolgar as crianças com o retorno do ano letivo, e promover a acolhida dos alunos e alunas. “A autora concordou com a proposta, vez que estava alinhada com sua matéria e seria um valioso recurso pedagógico”. 

A recepção teria sido positiva e a professora decidiu compartilhar nas redes sociais o vídeo. Contudo, após a exposição na Alems, a professora apagou o vídeo da rede social para preservar a imagem das crianças. 

Os defensores alegam que o deputado distorceu os fatos e “proferiu injúrias de cunho transfóbico dirigidas diretamente à requerente enquanto exibia sua imagem” ao ter se referido a professora com pronomes masculinos, “além de fazer uso dos seguintes termos para se referir à autora: ‘homenzarrão’, ‘professor homem precisa ter tetas’, ‘professor de saia e de teta’”. 

“Emy está sendo reiteradamente ofendida e ameaçada nas redes sociais, teme frequentar seu local de trabalho, teme por sua integridade física e de sua família, teve seus diretos à personalidade violados de forma inescrupulosa pelo primeiro requerido, e mesmo após denunciar a postagem junto ao Instagram, o vídeo continua no ar, tendo repercussões graves e danosas em sua vida”, apontam. 

O que diz o deputado?

O Midiamax entrou em contato com o deputado estadual para que pudesse comentar o caso e aguarda resposta. Em resposta, Catan afirmou que ainda não foi intimado. Confira a nota na íntegra:

“A exposição do caso foi feita pelo próprio professor travesti, que divulgou o vídeo em suas redes sociais, expondo uma criança sem a devida autorização dos pais. O processo ajuizado por ele foi extinto pelo Tribunal de Justiça e, em nenhum momento, fomos intimados ou notificados oficialmente – a única informação que tivemos veio da imprensa.

Trata-se de um processo absurdo, que atenta contra a própria liberdade de expressão, tão defendida pela esquerda. Eu acredito na liberdade, na democracia e no poder do debate. Ainda que discorde de certas opiniões, defenderei até o fim o direito das pessoas se manifestarem, mesmo que seja contra mim. O que desejo para os outros, desejo para mim.

Além disso, tentar censurar um parlamentar que está conduzindo um debate técnico e fundamentado, requisitando informações para agir com responsabilidade, me parece uma confissão de culpa em relação a algo que ocorreu antes do fato em questão. O exercício da liberdade de expressão tem se tornado cada vez mais arriscado e perigoso, especialmente para um deputado que atua sob a cláusula pétrea da liberdade plena de manifestação.

Ao repercutirmos em nossas redes o vídeo que o próprio professor publicou, tivemos a oportunidade de discutir o que os pais, a comunidade acadêmica e as famílias esperam das escolas administradas pelo Estado. E mesmo que se tratasse de uma escola particular, independentemente do gênero do professor ou professora, uma apresentação com aquela vestimenta, a meu ver, seria inadequada de qualquer forma e, sem dúvida, já teria resultado na demissão do profissional pela instituição”, finaliza a nota.

*Matéria atualizada às 12h26 do dia 19 de fevereiro de 2025 para acrescentar a resposta do deputado.

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