Presidente da Câmara de Sidrolândia, ‘Gringo’ teria se beneficiado com esquema de Claudinho Serra, afirma delator

Em depoimento ao Gaeco, advogado e empresário Milton Matheus Paiva Matos afirma que ‘Gringo’ recebeu pneus e carro para uso particular

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Otacir Figueiredo (PP) foi reeleito para presidir a Casa de Leis. Em destaque, delator Milton Matos. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax e Reprodução)

A segunda delação premiada homologada da Operação Tromper implica o presidente da Câmara de Vereadores de Sidrolândia, Otacir Figueiredo, o Gringo (PP). Em depoimento na sede do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o empresário e advogado Milton Matheus Paiva Matos afirma que Gringo teria se beneficiado do esquema de corrupção em licitações que seria chefiado pelo ex-vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB). Gringo foi reeleito, na última quarta-feira (1º), para presidir a Mesa Diretora da Casa de Leis no biênio 2025-2026.

Em depoimento, o advogado narra que Otacir entrou em contato porque precisava de quatro pneus para um veículo particular. A compra teria sido feita em uma borracharia e o pagamento por pix. “Eu paguei em dinheiro esses pneus e para receber questionei ‘Gringo, como vou receber?’. Ele falou ‘Fica tranquilo que vou fazer um pix para você através da conta da Câmara’”, afirmou ao Gaeco.

O advogado teria ido até à Casa de Leis e conversou com uma servidora para organizar a documentação para poder receber o valor pago pelos pneus. “A gente forjou uma dispensa de licitação para manutenção predial […] eu fiz essa nota para poder receber. Se pegar, inclusive, a data da nota está anterior ao empenho. Ali tem meu e-mail também, por ser da assessoria eu tinha esses modelos [de como montar a dispensa da licitação], eu mandei para o assessor do Gringo”, garante o delator. 

Compra de veículo com dinheiro público para uso particular

Milton Matos ao lado do advogado durante depoimento no MP-MS. (Reprodução)

Milton também narrou ao Gaeco que o atual presidente da Câmara de Vereadores de Sidrolândia teria se beneficiado com a compra de uma Fait Ducato com dinheiro público para uso particular. 

O advogado afirma que Gringo teria enviado uma emenda para a aquisição de uma Fiat Ducato. A compra teria sido feita por uma empresa que é do ramo de transporte escolar. Porém, como não se tratava de um veículo zero km, a prestação de conta deu problema e o grupo fraudou o processo. 

Além disso, o preço de venda da van foi alterado para beneficiar o esquema. “O valor da venda da van não era o real praticado. Vamos dizer que o valor da emenda era R$ 190 mil e aí a van custava R$ 160 mil. Houve um rateio”, explica. 

Essa quantia que “sobrou” teria sido dividida entre os envolvidos no esquema, incluindo Gringo, o assessor de Gringo e o empresário Milton. “Vamos dizer assim mais da metade [do valor para o vereador Otacir] […] além do uso particular do veículo. Era comum ver o Gringo usando a Fiat Ducato na cidade para cima e para baixo, como se fosse dele, mas a propriedade estava no nome de uma associação que ele usou para fazer o convênio com a Prefeitura”, afirmou Milton. 

O Midiamax entrou em contato com o vereador Gringo para solicitar uma nota sobre o assunto. O parlamentar prometeu enviar uma nota, mas até a publicação desta reportagem não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.

Troca de mensagens implicam vereador

Duas semanas após a terceira fase da Operação Tromper em 3 de abril – quando Claudinho Serra foi preso – o Midiamax divulgou trecho da investigação que apontariam repasses de dinheiro do grupo ao vereador Gringo.

Investigações do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), que levaram à prisão do vereador de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB) e de outros sete na terceira fase da Operação Tromper, mostram indícios que o suposto grupo criminoso teria envolvimento com os parlamentares da Câmara de Vereadores de Sidrolândia, inclusive com o presidente da Casa, Otacir Figueiredo, o “Gringo” (PP).

Vale lembrar que Gringo é do mesmo partido que a ex-prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo. A chefe do executivo municipal é sogra do vereador Claudinho Serra. 

Segundo o PIC (Procedimento Investigatório Criminal), há dois episódios que indicariam o “financiamento, pagamento e atuação indevida (compra de vereador)” do então vereador Gringo por meio da empresa Rocamora e/ou outras integrantes do esquema criminoso. 

Vereador Otacir “Gringo”. (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

terena Otacir Figueiredo foi eleito presidente da Câmara de Vereadores em 1º de dezembro de 2022. Antes das eleições, em 14 de junho do mesmo ano, Milton Matheus Paiva envia mensagem para Ricardo Rocamora para tratar sobre o pagamento de R$ 5 mil para o vereador “Gringo”. Não havia mensagens anteriores sobre o tema. 

Já em 1º de dezembro, no mesmo dia em que Otacir foi eleito como presidente da Mesa Diretora, há outra conversa entre os integrantes do suposto esquema criminoso. Desta vez, Rocamora conversa com Ueverton “Frescura” sobre Gringo passar a ser presidente da Câmara de Vereadores. 

(Reprodução PIC)

Ueverton, então, responde que a vitória de Gringo seria uma jogada política, “reforçando a tese de que ‘Gringo’ possa figurar como destinatário de verbas ilegais oriundas do executivo municipal”, diz a investigação.

Na época, o Midiamax entrou em contato com Gringo para que se manifestar sobre o assunto. O vereador negou as acusações, disse que estava “tranquilo” e que acreditava no trabalho da Justiça. “Criamos a CPI [sobre Vanda Camilo em 2023] com o propósito de auxiliar a Justiça. Eu sempre deixei claro que a transparência da Câmara é 100%”, garante. 

Perguntado se conhecia Ricardo Rocamora, ele respondeu que só por nome devido à ligação com a Fundação Indígena. Inclusive, as investigações do MPMS apontaram que a instituição também seria usada para fraudar licitações e empenhos, como na compra de carne para uma festa indígena. “Já tinha ouvido falar dele, mas não tenho nenhuma ligação com a Fundação Indígena”, garantiu Gringo na época.

(Reprodução, PIC)
(Reprodução, PIC)

Esquema de fraude em licitações 

Milton chegou a ser servidor público na Prefeitura de Sidrolândia de 2017 até 2021. No último ano, ele e Ana Cláudia Alves Flores – ex-pregoeira e também ré do processo – foram empossados em cargo efetivo de assistente administrativo. Contudo, ele pediu exoneração do cargo visando obter maiores lucros com a criação da empresa 3M Produtos e Serviços LTDA. 

Após a saída da prefeitura, Ricardo Rocamora virou um tipo de “padrinho” de Milton ao integrá-lo no esquema de fraudes em licitações. Segundo o advogado, Rocamora era responsável por dar a “benção” aos empresários que queriam participar dos pregões. 

“Como o Ricardo dominou o município de Sidrolândia, as empresas de outros municípios pediam bênçãos para ele. Falavam ‘Ricardo, saiu uma licitação de material de construção aí. A gente pode ir?’. E aí eles pediam permissão para o Ricardo”, contou Milton. 

2º acordo de delação premiada

A Justiça homologou acordo de delação premiada com o empresário e advogado Milton Matheus Paiva Matos sobre esquema de corrupção que seria chefiado pelo vereador licenciado de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB). Assim, ele será o segundo delator do escândalo revelado pela Operação Tromper, em Sidrolândia, município distante 70 km da Capital.

Conforme documento assinado pela promotora de Justiça, Bianka M. A. Mendes, com a homologação, todos os acusados deverão ser interrogados novamente. Para isso, deverá ser designada nova audiência. “Visando assegurar o princípio da ampla defesa, imprescindível a realização de novo interrogatório, estendendo-se a mesma oportunidade aos demais acusados”.

Milton é proprietário da empresa 3M Produtos e Serviços LTDA e, recentemente, se livrou da tornozeleira eletrônica, assim como os demais investigados.

Além disso, a empresa teve o montante de R$ 532.735,60 bloqueados, além da restrição de venda do veículo GM S10 2.8. O mesmo valor também foi bloqueado da conta pessoal de Milton, além da restrição de veículo em seu nome: Toyota Corolla Altis.

Vereador do PSDB comandou esquema de corrupção em Sidrolândia

O ex-vereador Claudinho Serra é ex-secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia. Está implicado nas investigações da 3ª fase da Operação Tromper, deflagrada pelo Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) com apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

Claudinho Serra e outros 21 viraram réus, em 19 de abril, após o juiz da Vara Criminal da comarca de Sidrolândia, Fernando Moreira Freitas da Silva, aceitar a denúncia apresentada pelo MPMS.

Investigações do Gecoc e delação premiada do ex-servidor Tiago Basso da Silva apontam supostas fraudes em diferentes setores da Prefeitura de Sidrolândia, como no Cemitério Municipal, na Fundação Indígenaabastecimento da frota de veículos e repasses para Serra feitos por empresáriosOs valores variaram de 10% a 30% do valor do contrato, a depender do tipo de “mesada”.

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