Pescadores lotam Assembleia de MS para debater proibição da pesca de 29 espécies
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Pescadores de diversas cidades de Mato Grosso do Sul lotaram a Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) na tarde desta sexta-feira (21). A categoria debate a proibição da pesca de 29 espécies no Estado, prevista em projeto de lei protocolado na Casa de Leis.
O projeto de lei nº 275/2024 é de autoria do deputado Neno Razuk (PL). Os pescadores criticaram o projeto e contestaram a proibição da prática. Além disso, abaixo-assinado conquistou mais de 10 mil assinaturas em cerca de um mês.
A audiência foi convocada após a movimentação dos pescadores, que pediram diálogo sobre a proposta parlamentar.
Prejuízos financeiros às famílias que sobrevivem da pesca dessas espécies estão entre os apontamentos da categoria. Assim, Ismar Neves de 38 anos, pescador de Bonito, aponta que a modalidade ‘pesque e solte’ não consegue manter os trabalhadores da área.
“Como trabalhamos lá com pescaria profissional, tem guias turísticos, têm pousada, tem mais de 20 pesqueiros e pousadas. Então esse pesque-solte não consegue fomentar todos esses pesqueiros, todas as vias”, afirma.
Para o pescador, a pesca praticada pelos turistas não coloca em risco a fauna e flora pantaneira. “O que eles têm que tomar conta é cuidar do desmatamento das fazendas, dos grandes fazendeiros que estão lá para cima, que não respeitam lei, regras nenhuma, é o que tá acontecendo o assoreamento no rio”, aponta o profissional.
Pescador há 25 anos, Ismar apontou que “não é pescador, nem turista amador” que estão acabando com os peixes. Tem os estudos comprovando que o peixe não tá em extinção, não acaba. Mas tem que cuidar do rio. Se não cuidarmos do rio, nós não temos nem peixe daqui uns tempos”, comenta.
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Sustento das famílias
Erlam Nunes, pescador de Porto Murtinho, acredita que o projeto não considera as necessidades da categoria. “Vai piorar para nós, porque eles só veem o lado deles, eles não veem o nosso lado”, lamenta.
Assim, ao Midiamax, o profissional criticou o projeto. “O deputado Razuk que quer proibir de uma vez, fica ruim, porque nós vivemos disso. Eu tenho meu barco, meu motor, como eu vou pescar se é proibido? Como eu vou pegar o peixe para vender? Não tem. Não tem como”, afirma.
Aos 57 anos, Erlam sustenta a família inteira há 30 anos apenas com a pescaria. Por fim, faz sugestão aos parlamentares. “Toda a vida só na pesca. Eles tinham que incentivar mais o pescador profissional e os guias turísticos, que são os piloteiros. Tinham que olhar mais um pouco pro nosso lado”, sugere o pescador.
Indicador de saúde
A doutora em Ecologia e conservação, Adriana Maria Espinóza Fernando, aponta problemáticas na possível proibição das espécies. Em publicação da Ecoa, disse que “a pesca é o principal indicador de saúde que um rio pode ter. Proibir a pesca é abrir caminhos para empreendimentos que destruirão nossos rios, além de causar um impacto econômico negativo para mais de 4 mil pesquisadores artesanais no MS”.
No mesmo sentido dos pescadores, questiona a proposição do deputado. “As verdadeiras ameaças aos peixes na região – como PCHs (pequenas centrais hidrelétricas, também chamadas de barragens ou represas) e desmatamento no planalto, dragagem do rio Paraguai e espécies invasoras – permanecem sem solução e, em alguns casos, são até promovidas como desenvolvimentos positivos”, explicou.
Deputados contrários ao projeto
Por outro lado, os deputados Gleice Jane (PT) e Zeca do PT querem a retirada do projeto para ampliação do debate sobre como a medida irá afetar as comunidades pescadoras.
“O maior problema não é a pesca, e sim a destruição dos nossos rios, que ameaça não só os peixes, mas toda a vida que depende deles. Não dá para falar em preservação sem encarar a realidade: nossos rios estão morrendo diante dos nossos olhos. Precisamos debater a qualidade da água, a sobrevivência dos peixes e, principalmente, ouvir quem sente isso na pele: a comunidade pescadora que vive dessa atividade e conhece realmente os desafios enfrentados”, defende a deputada.
Confira quais espécies de peixes o projeto de lei que proibir a pesca por 5 anos:
Pacu – (piaractus mesopotamicus);
Dourado – (Salminus brasiliensis);
Jaú – (Pauicea luetkeni);
Pintado/Surubin – (Pseudoplatystoma corruscans; Pseudoplatystoma fasciatum; Pseudoplatystoma sp.);
Piraputanga – (Brycon hilarii);
Traíra – (Hoplias aff. Malabaricus);
Tucunaré – (Cichla spp.);
Piavuçu – (Leporinus macrocephalus);
Tambaqui – (piaractus mesopotamicus vs. Tambaqui – colossoma macropomum);
Jurupensém – (sorubimcf.lima);
Piau – (Leporinus friderici);
Cachara – (pseudoplatystoma fasciatum);
Barbado – (Pinirampus pirinampu);
Curimbatá – (prochilodus lineatus);
Jurupoca – (Hemisorubim platyrhynchos);
Piavuçu – (Leporinus macrocephalus);
Lambari – (astyanax spp.);
Piapara – (leporinus spp.megaleporinus obtusidens);
Armal ou botoado – (pterodoras granulosus, oxydoraknei, rhinodoras dorbignyi);
Bagre Cabeçudo – (pimelodus ornatos);
Bagre ou Mandi – (Pimelodus pantaneiro, Pimelodus cf. argenteus);
Barbado Surubim – (luciopimelodus pati);
Barbado – (Pinirampus pirinampu);
Cará – (Astronotus crassipinnis);
Chimburé – (schizodon borelli);
Corvina – (Plagioscion ternetzi pachyurus bonariensis);
Piapara – ( leporinus spp. Megaleporinus obtusidens);
Piava – ( Leporinus lacustres);
Pacupeva (myloplus levis, metynnis mola, metynnis cuiaba)