Após a missão do Senado brasileiro aos Estados Unidos, que contou com a presença dos senadores de Mato Grosso do Sul Nelsinho Trad (PSD-MS) e Tereza Cristina, ganharam força as reações no Congresso norte-americano contra a tarifa de 50% anunciada pela Casa Branca sobre produtos brasileiros.
Nesta quinta-feira (31), democratas divulgaram que vão apresentar uma proposta com trâmite prioritário para forçar a votação no Senado dos EUA de uma medida para barrar o tarifaço. Ao mesmo tempo, tribunais federais norte-americanos analisam se houve abuso de poder na invocação da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA, na sigla em inglês). Especialistas jurídicos argumentam que a justificativa da Casa Branca — a alegada ameaça à segurança nacional representada pela atuação do STF brasileiro — é frágil e sem precedente.
Em nota conjunta, os senadores Jeanne Shaheen, Tim Kaine, Chuck Schumer e Ron Wyden criticaram que as tarifas estão sendo impostas para tentar impedir a Suprema Corte do Brasil de processar o ex-presidente Bolsonaro.
O Senado já votou anteriormente propostas privilegiadas para contestar o uso da IEEPA por Trump na imposição de tarifas, com resultados variados. Em 2 de abril, a Casa aprovou por 51 votos a 48 a revogação de tarifas impostas ao Canadá. A Câmara dos Representantes, no entanto, usou manobras regimentais para evitar votar a proposta. No fim de abril, uma nova tentativa de revogar tarifas “recíprocas” anunciadas por Trump fracassou em votação empatada (49-49), já que dois senadores favoráveis à proposta anterior estavam ausentes.
Shaheen e Kaine também foram signatários de uma carta enviada na semana passada por 11 senadores democratas a Trump, na qual acusam o presidente de estar cometendo um “abuso de poder” com a ameaça tarifária. Eles falaram a respeito para os oito senadores brasileiros que estiveram em Washington.
A indignação diante da medida foi compartilhada por outros parlamentares com quem a comitiva brasileira se reuniu: Martin Heinrich (Novo México), Chris Coons (Delaware), Mark Kelly (Arizona), Michael Bennett (Colorado), Ed Markey (Massachusetts) e Thom Tillis (Carolina do Norte).
Na Câmara, já em recesso, o deputado Gregory Meeks, membro graduado do Comitê de Relações Exteriores também prometeu apresentar uma resolução para tentar barrar o tarifaço. Já a deputada Sydney Kamlager-Dove, co-presidente do Caucus Brasil, defendeu — em reunião virtual com os senadores brasileiros — a extensão do prazo para implementação da tarifa, destacando os impactos negativos para empresas e trabalhadores norte-americanos.
Mais reações
O senador Martin Heinrich alertou para os efeitos domésticos da tarifa. Citou o aumento no preço do café, a pressão sobre o setor madeireiro e os reflexos na habitação, já que insumos importados do Brasil integram a cadeia da construção civil. Thom Tillis, por sua vez, afirmou esperar que a Justiça americana adie a entrada em vigor da medida. “A economia não deveria ser usada da maneira como Trump está conduzindo. Isso é um erro político”, disse. Ele também lamentou a ausência de outros colegas republicanos nas reuniões com os senadores brasileiros.
“O caminho tem que continuar no diálogo, na razão, para que a gente possa avançar em outros pontos”, afirmou o senador Nelsinho Trad.
“Turn off the light”
Embora produtos como celulose, papel, fertilizantes e combustíveis tenham sido poupados, o tarifaço atinge 36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Na véspera da assinatura do decreto que sustenta a medida, senadores brasileiros ouviram um alerta de empresários durante reunião no escritório da AS/COA (Americas Society/Council of the Americas): se os transformadores exportados pelo Brasil não forem entregues até 2027, “apaga a luz”.
Em 2024, os Estados Unidos gastaram US$ 29 bilhões com transformadores — dos quais US$ 541 milhões vieram do Brasil. No primeiro semestre de 2025, 82% das exportações brasileiras desses equipamentos tiveram como destino o mercado americano. Pesando até 500 toneladas, os transformadores são essenciais para a transmissão de energia — e vitais na corrida dos EUA por infraestrutura para carros elétricos e grandes modelos de inteligência artificial.
Agora, os contratos firmados com fornecedores brasileiros estão sob risco. Empresários americanos pressionam o governo a rever a decisão.
Na reunião com os senadores brasileiros, representantes de gigantes como ExxonMobil, Amazon, PepsiCo, Lockheed Martin e Mars demonstraram preocupação quanto aos impactos do tarifaço sobre diversas cadeias produtivas. No setor alimentício, uma das principais é com a carne. O preço da moída já subiu 15% desde o anúncio da tarifa.
“Precisamos da carne magra do Brasil para moer com a gorda dos EUA”, afirmou um dos presentes.
Já de volta ao Brasil, o líder da missão do Senado brasileiro, senador Nelsinho Trad, informou que “na segunda-feira, nós vamos fazer uma reunião e uma articulação com quem tem a prerrogativa de negociar no Executivo para apresentar tudo o que ouvimos e sugestões recebidas para distensionar a crise com os Estados Unidos. É apenas o início de um trabalho suprapartidário pelo Brasil”.
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