O presidente afastado da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, pode ter que explicar à Câmara dos Deputados as recentes mudanças no estatuto da entidade que passaram a concentrar poderes quase absolutos em sua figura.
O requerimento para audiência pública foi protocolado pelo deputado federal Luiz Ovando (PP-MS), na Comissão do Esporte, e denuncia o que chamou de “um dos maiores retrocessos institucionais do futebol brasileiro”. Ao Midiamax, o parlamentar chamou o ex-dirigente de “monarca do futebol”, questionando a conduta à frente da instituição.
Ednaldo foi afastado por decisão da Justiça nesta quinta-feira (15) pela 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). A medida foi assinada pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro, presidente da comissão, em atendimento ao pedido do vice-presidente da CBF, Fernando Sarney, que, com o afastamento, assume o comando da entidade.
A reportagem conversou com o deputado propositor da audiência acerca da sustentação do requerimento a partir do afastamento. Luiz Ovando afirma que o objetivo inicial, que seria pressionar a remoção do presidente do cargo, foi alcançado. “Agora quero garantir que sejam explicadas as mudanças nesse estatuto, que deu para esse indivíduo posição de monarca do futebol. Queremos saber quais foram as condições que levaram a essa decisão”, afirmou.
Requerimento mira suspeitas
A convocação foi motivada por reportagens que revelaram o conteúdo do novo estatuto da CBF, aprovado em novembro de 2024 e mantido sob sigilo até recentemente. De acordo com o documento, entre as principais mudanças está a extinção de artigos que proibiam contratos com empresas ligadas a parentes de dirigentes e que permitiam o afastamento preventivo de membros da entidade envolvidos em irregularidades.
No pedido, Ovando classifica o documento como “Estatuto Ednaldo”, apontando que o texto fortalece o personalismo, abre brechas para nepotismo e fragiliza os mecanismos de fiscalização e transparência.
O parlamentar cita ainda que, com as mudanças, até a definição do uniforme da Seleção Brasileira, como o polêmico modelo vermelho revelado este ano, passou a ser de competência exclusiva do presidente da CBF.
Outra crítica mencionada no texto do requerimento está no fim do artigo que permitia a intervenção da diretoria nas federações estaduais, prerrogativa que agora pertence somente ao presidente.
“O Estatuto Ednaldo é, assim, o documento que dá substrato jurídico a uma das piores gestões da CBF da história, caracterizada pela concentração absoluta de poder em um presidente que mais parece um monarca da Idade Média, pela ausência de qualquer tipo de controle ou transparência sobre os atos do presidente, e pelo nepotismo e patrimonialismo, com a permissividade para todo tipo de atos que favorecem os familiares e amigos do presidente”, resume o parlamentar.
O parlamentar sul-mato-grossense pede a presença do próprio Ednaldo Rodrigues e do secretário da Assembleia Geral da CBF, Lucas Ribeiro, responsável por assinar o novo estatuto.
A proposta do encontro é expor os bastidores da aprovação do texto e a relação entre as mudanças e os escândalos recentes envolvendo a entidade.
A convocação vem em meio à crescente pressão sobre Ednaldo, que já enfrenta críticas por supostos favorecimentos a familiares, como o caso revelado pelo Congresso em Foco acerca do concunhado do dirigente, Ricardo Lima, cuja remuneração teria saltado de R$ 20 mil para R$ 488 mil mensais, entre 2021 e 2024.
Ao Congresso em Foco, a Comissão de Ética da CBF confirmou estar analisando três denúncias contra o presidente da entidade, que apontam suspeitas de falsificação, má gestão e favorecimento pessoal com recursos da entidade máxima do futebol no País.
O debate público promete esquentar o campo político e esportivo do país, especialmente às vésperas de mais uma Copa do Mundo. Caberá à Comissão do Esporte decidir pela continuidade da tramitação.
O que diz a CBF?
A reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com a assessoria da CBF para posicionamento, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
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