A especialista em desenvolvimento urbano, Maria Lúcia Torrecilha, aponta que a falta de ar-condicionado e ônibus superlotados geram alerta de saúde pública em Campo Grande. “Desrespeito com a população”, disse sobre o serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus, investigado em CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Em exclusiva ao Midiamax, a doutora em Geografia Humana comentou sobre o transporte público na Capital. Maria é especialista em política ambiental e projetos de desenvolvimento urbano, e docente na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Ao longo da entrevista, a especialista citou a falta de ar-condicionado e superlotação como fatores que podem agravar a transmissão de doenças. “Para mim é um problema de saúde muito grave”, disse Maria Lúcia.
“O vírus se transmite muito facilmente numa superlotação. É uma questão de saúde também. Chovendo e um calor infernal, ele fecha tudo, o ar não circula”, apontou. Maria reforçou que “é uma questão séria, também de saúde, puxando também a falta do ar-condicionado nos ônibus aqui de Campo Grande”.
Pontos de preocupação citados pela doutora integraram os relatos dos usuários que participaram de oitiva em formato de audiência pública na CPI. Roda pegando fogo, parte articulada remendada com fita, goteiras, ferrugem e sujeira são algumas das características dos ônibus do Consórcio Guaicurus citadas.
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Desrespeito
Maria Lúcia apontou ainda que a mobilidade urbana atravessa diversas questões: ruas, planejamento urbano, qualidade das vias e fiscalização de empresas concessionárias estão entre elas. Sobre ruas danificadas, disse que “às vezes, por uma certa razão, [o Consórcio] transfere o custo para a prefeitura. Então, a prefeitura acata o custo, mas não fiscaliza outras condições que existem dentro do ônibus”.
“Então, o que eu queria frisar é realmente uma questão, na verdade, de desrespeito ao cidadão que mora na cidade”.

Doutora desmente diretor que criou barreiras para ar-condicionado
Na CPI, o diretor de operações do Consórcio, Paulo Vitor Brito de Oliveira, criou barreiras para instalação do ar-condicionado. Ele comentou sobre a possibilidade de ar-condicionado para os usuários do transporte. Porém, considerou o equipamento como inviável em Campo Grande.
“Não consegue manter temperatura adequada dentro do ônibus”, justificou. Assim, deu série de fatores que causam a variação de temperatura. “Ônibus para a cada ponto, portas que abrem, quando o corpo de uma pessoa está resfriando, ela sai e entra outra com a temperatura [de fora]”, citou o diretor.
Para Maria Lúcia, a fala é impossível de ser assimilada. “A resposta dele não tem condições da gente assimilar, mas um fator que eu acho que ele não colocou é que a frota é antiga”, disse. Logo, explicou que os pontos abertos possuem fatores naturais para amenizar o calor, como corrente de vento e sombra. “Como você desce num ponto, tem a natureza que tem os ventos, você pode estar no lugar”. Em contrapartida, apontou que os usuários andam “sem condições, trancados igual uma lata de sardinha”.
“Você sai de uma lata de sardinha quando você abre ela, você está com a natureza”, esclareceu a especialista.
“É bem difícil numa frota antiga você colocar o ar condicionado. Não é impossível, lógico que não”, destacou. “Tem lugares que você tem até energia solar que é captada dentro de ônibus, ônibus ultramodernos”, citou.

Acidentes em ônibus
Ademais, a especialista citou os acidentes que ocorrem dentro dos ônibus como problemática de saúde coletiva. Para isso, citou um conhecido que sofreu acidente. “Se ele [ônibus] estava com uma superlotação e cai no buraco, vai causar um movimento dentro do ônibus. Eu sei de pessoas que tiveram fratura por causa da superlotação. Estava em pé, o ônibus freou, de repente”, lamentou.
A precariedade da frota antiga também esbarra em casos de acidentes. “Se por um acaso a porta estiver aberta, você pode causar que as pessoas caiam. Grávidas, crianças, pessoas de idade, caindo no chão, se machucando. É muito sério isso”, alertou.
Frota velha
A doutora afirmou que “o problema é que a frota é muito velha. E causam todos esses problemas” que atingem a população.
Neste sentido, disse que a idade pode acarretar atrasos nos trajetos. “Os carros estragam e tem que ter uma frota adequada, porque carro velho vai estragar, claro. Aí atrasa a frota, quantas vezes tem ônibus parado que estragou. Atrasam todos os horários, a gente tem várias várias situações que param há dias”, afirmou Maria Lúcia.

Caminhos possíveis
Entre os caminhos possíveis apontados pela especialista, estão novas legislações, conselho com participação da população, planejamento do fluxo da cidade e maior fiscalização.
Para melhorar a fiscalização das agências, Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos) e a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), a doutora citou que precisam “instruir os novos concursados ou os mais antigos”.
“O que tem que ter mais? Ônibus nas frotas, ônibus novos, não contratam motoristas, retiraram os cobradores”, apontou também a pesquisadora.
Sobre a superlotação e fiscalizar o excesso de passageiros, Maria Lúcia sugeriu legislação mais detalhada. “Eles [vereadores] têm que dizer qual é o limite aceitável, acima das pessoas que estão sentadas”.
Ademais, disse que o monopólio do Consórcio Guaicurus tranquiliza os empresários que comandam o transporte em Campo Grande. Assim, não ficam ameaçados. Por isso, destacou a necessidade de alternativas, chamadas de intermodais.
“Por que não ter um conselho de transporte? Deliberativo, um conselho deliberativo com participação da sociedade”, recomendou.
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Corredores são a única solução?
Ainda nas sugestões de caminhos que podem melhorar a mobilidade pública em Campo Grande, pensando nos usuários do transporte coletivo, Maria Lúcia comentou sobre os corredores.
Para a especialista, as ruas precisam ter tamanho suficiente para o trânsito dos ônibus. “Algumas vias que também são limitadoras dessa situação. Então, outro planejamento urbano teria que eleger alguns tipos de via”, disse.
“Nem sempre corredores dão suporte a essa situação do transporte coletivo, não é só esse problema”, revelou Maria Lúcia.
Por fim, sugeriu a retirada do estacionamento. “Se você tirar o estacionamento, no estacionamento entre dois mil e três metros, vai facilitar mais o transporte coletivo”.
Confira a entrevista:
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