‘Deveria estar em outro setor’, diz Rinaldo Modesto sobre delegada que atendeu Vanessa
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Após áudios em que Vanessa Ricarte — vítima de feminicídio — relatarem atendimento ‘frio’ na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de MS), o deputado Rinaldo Modesto (Podemos) defendeu o afastamento da delegada envolvida. “Eu acho que até psicologicamente a delegada deve estar trabalhando em outro setor”, afirmou o parlamentar.
O deputado opinou sobre o caso, que repercutiu nacionalmente após divulgação dos áudios da vítima de feminicídio que faleceu em 12 de fevereiro. “A própria delegada que atendeu, segundo o áudio, realmente ficou muito ruim. Eu acho que não tem clima para ela continuar nessa área ali, é a minha opinião. Mas não quero fazer um juízo de valor”, disse.
Assim, lembrou que na terça-feira (18), os parlamentares vão se reunir com autoridades para tratar sobre o enfrentamento a violência contra mulheres em MS. “Agora, de uma coisa é certa. Se configurando realmente pelo áudio, pelos áudios da Vanessa, e houver falhas, assim, é muito, muito séria. É muito complicado o que aconteceu ali”, destacou.
Fragilizada
Rinaldo, que integra Comissão em defesa das Mulheres na Assembleia de MS, pontuou que “a mulher já está fragilizada pela própria natureza da situação” durante o atendimento. Então, se “acaba não tendo um atendimento acolhedor, é muito ruim”.
Recordou ainda que “o próprio governador reconheceu que houve falha”. “Ninguém vai visitar um hospital e ninguém visita cadeia, ninguém visita delegacia. Quando você vai nesses dois ambientes é porque você está vulnerável do ponto de vista físico ou psíquico”, afirmou.
Logo, “quem está do outro lado do balcão atendendo tem que ver que ali está tendo uma vítima, alguém que está vulnerável”. O deputado cobrou que o Poder Público adote urgentemente, “em todas as esferas, um tratamento humanizado com a sociedade”.
Penas rígidas
Neste sentido, o deputado destacou que existem dois caminhos para o enfrentamento a violência contra mulheres: penas mais rígidas e educação.
Citou lei da ex-deputada federal por MS, Rose Modesto (União, que passou na Câmara Federal e aguarda votação no Senado. “Aumenta a pena para regime fechado sem a respectiva progressão, as chamadas saidinhas. É uma semi-perpétua”, defendeu.
Outro caminho seria “trabalhar na conscientização e na educação”. Apontou que existe projeto de lei que tramita na Assembleia de MS e prevê a introdução da Lei Maria da Penha na grade curricular como tema transversal.
“Noções básicas da lei Maria da Penha na escola, para que a nossa criançada já cresça nesse clima de tolerância, de amor, de respeito a todos, inclusive a sua companheira”.
Vanessa relatou atendimento ‘frio’
Áudios de Vanessa Ricarte sobre atendimento mostram que o descaso e erros grosseiros seguem presentes na Deam.
Vanessa detalhou o atendimento na Delegacia Especializada: “bem fria e seca”. A jornalista buscou amparo e denunciou o ex-noivo, Caio Nascimento, pouco tempo antes de ser vítima de feminicídio na própria casa. Ela a facadas.
Neste domingo (16), a jornalista completaria 43 anos ao lado de amigos e familiares. Agora, deixa memória de carreira brilhante e independência, além das denúncias deixadas em gravação de voz.
Servidora pública que trabalhava no MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul), Vanessa morreu na Santa Casa de Campo Grande na noite do dia 12 de fevereiro, vítima de feminicídio.
Ela foi esfaqueada em casa, no Bairro São Francisco, pelo ex-companheiro, preso em flagrante logo após o crime. Vanessa recebeu três facadas no coração e depois levada em estado gravíssimo à Santa Casa. Contudo, não resistiu.
Após a morte e ampla divulgação dos áudios de denúncia de Vanessa, mulheres voltaram às redes sociais para relatar o atendimento na Deam.
Suposta inexperiência
A delegada que atendeu a jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, e registrou o boletim de ocorrência em que a vítima denuncia o ex-noivo é a delegada Riccelly Maria Albuquerque Donhas, que passou no último concurso da Polícia Civil, em Mato Grosso do Sul, e está em estágio probatório.
A suposta inexperiência da delegada é apontada pelos próprios colegas de profissão como um dos fatores determinantes para que Vanessa classificasse, em áudio enviado para uma amiga, que foi tratada de maneira ‘fria e seca’ na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), horas antes de ser assassinada pelo seu ex-noivo.
O local, que deveria ser de acolhimento à vítima, foi de orientações desencontradas. A jornalista ainda relata que uma delegada teria dito para ela ligar para Caio pedindo que ele deixasse a sua residência.