Líderes religiosos ganharam protagonismo na Câmara de Vereadores de Campo Grande nos últimos meses. De presidência da Mesa Diretora à comissão mais importante da Casa de Leis, os evangélicos têm ocupado mais espaços no legislativo na Capital. Inclusive, 7 dos 12 projetos aprovados na primeira sessão ordinária do ano estão relacionados com a religião.
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O mesmo movimento acontece no Congresso Nacional. Na Câmara dos Deputados, quase metade (219 dos 513 dos deputados federais) compõem a bancada evangélica. No Senado, a proporção vai para quase um terço da Casa, sendo 26 dos 81 senadores no grupo.
Em Campo Grande, a presidência da Mesa Diretora é ocupada pelo vereador e pastor da Igreja El Shaddai Comunidade Cristã, Epaminondas Vicente Silva Neto, conhecido como Papy (PSDB).
Já a liderança da Comissão Permanente de Legislação, Justiça e Redação Final ficou a cargo do pastor da Igreja Evangélica Comunidade Global, vereador Clodoilson Pires (PODE). A CCJ é a mais importante e cobiçada comissão da Casa de Leis porque é nela em que é decidido quais projetos serão colocados – ou não – em votação.
Antes, esses cargos eram desempenhados por vereadores que tinham entre principais bandeiras outros assuntos, como a habitação no caso do vereador Carlão (PSB), que era presidente da Mesa Diretora e atual primeiro secretário. Já o ex-presidente da CCJ, Otávio Trad (PSD), atua com foco no bem-estar social, conforme consta na biografia da Câmara.
Segundo o cientista político e professor da UFMS (Universidade Federal Mato Grosso do Sul), Daniel Miranda, o avanço da bancada evangélica em cargos eletivos é um movimento que acontece há, pelo menos, 30 anos.
O docente destaca que atuação no Congresso Nacional se intensificou na década de 2010 em diante, principalmente, após quase uma década de esquerda/PT no poder e o desgaste que isso provoca em qualquer grupo governante. Na análise do especialista, o cenário favorável de fortalecimento pode influenciar na tramitação de alguns temas.
“No contexto de desgaste de algumas pautas da esquerda e com a ascensão da nova direita, as lideranças evangélicas, algumas delas, inclusive, apoiadoras de governos do PT anteriormente, vão não apenas aproveitando as mudanças políticas, como vão também se fortalecendo e ganhando protagonismo e organização própria. Logo, isso afeta sim a tramitação de certas pautas nos legislativos”, explica o professor da UFMS.
Primeiros projetos tratam sobre igreja
Ainda no time de líderes religiosos há o novato Neto Santos (Republicanos), que é pastor na Igreja Universal. Na biografia na Câmara de Vereadores, o político se apresenta como “Cristão e conservador” e “comprometido com os valores da fé, família e comunidade”. Nas comissões permanentes da Casa, participa apenas como membro da Comissão Permanente de Saúde.
A primeira matéria colocada em pauta do parlamentar foi o Projeto de Lei 11.561/25, que cria o Dia Municipal da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD. A data será comemorada em 9 de julho como homenagem “por todo o trabalho espiritual e social” prestados.
O outro vereador do Republicanos, Herculano Borges, é pastor auxiliar da Igreja FIT (Fé Invadindo a Terra). O parlamentar atua como líder de célula e é responsável pela Rede Crianças. Na Casa de Leis, ficou como presidente da Comissão Permanente de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente e como membro das comissões de Educação e Desporto; Indústria, Comércio e Turismo e Transporte e Trânsito.
Os primeiros projetos do vereador aprovados na Casa de Leis também abordam o assunto religião. A Câmara de Vereadores aprovou, na sessão de terça-feira (18), seis Projetos de Decreto Legislativo de autoria do parlamentar que concedem títulos de visitante ilustre à líderes religiosos evangélicos.
São eles: pastora Sônia Maria Martins Rodrigues, Apóstolo Nelson Braido, Apóstolo Milton Ebenezer de Moura Souza, Apóstolo João Maria Rodrigues, Apóstola Olivia Nair de Souza Braido e a pastora Niara Brandão Souza.
Frente Parlamentar
Em 2021, a Câmara de Vereadores de Campo Grande criou a Frente Parlamentar Cristã em Defesa da Família. Na época, o grupo era composto por Coronel Alírio Villasanti (presidente), Gilmar da Cruz (vice), Clodoilson Pires, Betinho, Dr. Sandro, Papy, Silvio Pitu, Edu Miranda, Tiago Vargas, Dr. Victor Rocha e Prof. João Rocha.
Destes 11 integrantes, apenas quatro foram reeleitos em 2024: Papy, Clodoilson Pires, Silvio Pitu (PSDB) e Dr. Victor Rocha (PSDB). Na época, o grupo formado por evangélicos e católicos pretendia defender os “os valores cristãos da família”.
A reportagem procurou o vereador Clodoilson Pires para perguntar se haverá continuidade das atividades da Frente Parlamentar. Em resposta, o pastor confirmou que pretende marcar uma reunião para conversar com os vereadores que se identificam com a proposta.
“Com certeza irá continuar, mas ainda não nos reunimos para conversar, pois esse início de trabalho no parlamento foi bem intenso. Acredito que semana que vem alinhamos isso”, explicou.
O vereador Herculano Borges é um dos que devem compor o colegiado. “Temos a ideia de dar sequência a esse trabalho, vou entrar com essa solicitação na casa”, explicou.
A Câmara de Vereadores de Campo Grande também conta, desde 2023, com uma medalha legislativa para o Dia do Obreiro Evangélico, comemorado, anualmente, em novembro. O nome da medalha mudou em 2024 e passou de “Irmãos Silva” para “Pastor Gomes” após aprovação do projeto do então vereador e pastor Gilmar da Cruz (PSD).
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