Os defensores da ideia disseram ao presidente que precisam de alguém com mais experiência do que Flávia para fazer dobradinha com Nogueira na articulação política com o Congresso. O PL gostaria de levar o Turismo, mas sem perder a Secretaria de Governo. Bolsonaro, porém, ainda não bateu o martelo sobre essa equação.

As mudanças pontuais têm provocado queixas de partidos da base aliada que se sentem preteridos. O Progressistas de Nogueira, por exemplo, comanda hoje a Casa Civil, tem a liderança do governo na Câmara com Ricardo Barros (PR), alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, e elegeu o deputado Arthur Lira (AL) para a presidência da Câmara com o apoio do Planalto.

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, não gostou da operação desencadeada para abrigar Nogueira na Casa Civil. Aliado de Bolsonaro, o ex-deputado insinuou que o presidente pode ser traído pelo novo ministro e disse que “não confiaria” em um político que apoiou o PT nas últimas eleições.

“Até o fim”

Nogueira já chegou a definir Bolsonaro como “fascista” e, em 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava preso, disse que ficaria com ele “até o fim”. À época, o Progressistas tinha a então senadora Ana Amélia (RS) como vice de Geraldo Alckmin (PSDB), que disputava o Planalto.

Também senador, Nogueira apareceu na propaganda eleitoral exibindo a hashtag #SouLula. Quando o ex-presidente foi mantido na prisão, ele migrou para a campanha de Fernando Haddad, candidato do PT. Na liderança das pesquisas de intenção de voto, Lula é hoje o principal adversário de Bolsonaro.

“Eu não tiraria o general Ramos (da Casa Civil), disse Jefferson. “Tem o general de confiança. Vai botar um civil? E um civil que o tempo todo, nos últimos 20 anos, apoiou o PT lá no Piauí”, afirmou.

O ex-deputado comparou a escolha de Nogueira ao que viveu o então presidente Fernando Collor meses antes de renunciar para não sofrer impeachment, em 1992. Logo no início daquele ano, Collor – hoje senador pelo PROS – nomeou Jorge Bornhausen, do PFL, para a recém-criada Secretaria de Governo. Não adiantou.

A aliança com o Centrão também constrangeu militares que faziam campanha contra o bloco fisiológico, do “toma lá, dá cá”, associado a “ladrões” pelo general Augusto Heleno, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Heleno costuma dizer agora que o Centrão “não existe mais”, o que contraria declarações do próprio presidente.

Não foi à toa que Bolsonaro também lembrou, nos últimos dias, que integrou o antigo PP por 11 anos. “Eu sou Centrão”, disse o presidente, que tem convite para se filiar novamente ao partido de Nogueira e de Lira.

“O ambiente desconexo, desorientado e desunido da articulação política abriu suas portas às chantagens e aos interesses do até então execrado Centrão e fez com que o próprio presidente tornasse pública a sua simpatia pelo fisiologismo do grupo”, criticou o general reformado Paulo Chagas, em manifesto. Antes bolsonarista ferrenho, Chagas tem vocalizado o descontentamento na caserna. “Mais do que nunca, mudar é preciso”, insistiu ele.

Na outra ponta, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, um dos mais barulhentos representantes da militância ideológica, dirigiu duros ataques ao Centrão e provocou debates entre conservadores após Bolsonaro admitir que integrou o bloco quando era deputado.

Em discussões virtuais, Weintraub questionou se algum ministro, à exceção de Onyx, defende Bolsonaro mais do que ele e o irmão Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência. O ex-titular da Educação afirmou não se adaptar à “sacanagem” e disse que o presidente está “nas garras do Centrão”.