A nomeação do atual diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem Rodrigues, de 47 anos, como sucessor de Maurício Valeixo na direção-geral da PF (Polícia Federal) vem sendo questionada antes mesmo de oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Apontado como amigo pessoal dos filhos do presidente, o delegado chegou a trabalhar na segurança da campanha presidencial em 2018. Sua indicação, prevista para sair nesta semana, é feita logo após a demissão do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro – justamente por não concordar com a troca no comando da instituição e denunciar tentativas de interferência de Bolsonaro até para acesso ao conteúdo de investigações.

Em rede social, o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) adiantou que irá à Justiça para barrar a nomeação. “A PF não pode ser transformada numa guarda pessoal do presidente”, afirmou o parlamentar, ao postar foto de Ramagem com Carlos Bolsonaro em uma festa de reveillon.

Até o momento, associações nacionais de delegados não se posicionaram sobre a situação. Em MS, a reportagem acionou as entidades que representam os funcionários da Polícia Federal por diversas vezes na última semana, desde os rumores da saída de Moro, mas nenhuma delas quis comentar o caso nem as denúncias de interferência na instituição.

Currículo

Ramagem passou no concurso da PF em 2005 e chegou a ser nomeado superintendente no Ceará, mas não assumiu. Convidado para trabalhar em Brasília, iniciou na assessoria do então chefe da secretaria de Governo e de lá saiu para a chefia da Abin.

Em sabatina feita pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, durante o processo de nomeação no ano passado, recebeu diversos elogios de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. “Goza da total confiança”, disse o parlamentar na ocasião. “A sua competência não é questionada em momento nenhum”, afirmou o filho do presidente. Na ocasião, Flávio também ressaltou a importância de uma linha direta com a presidência.

“É fundamental ter uma equipe que dispõe não só de tecnologia de ponta, à frente daquelas usadas por marginais, mas também do pessoal qualificado, que tenha a visão, a percepção, a iniciativa de identificar o que é importante, para que se busque, para alimentar o presidente da República e toda sua equipe”, disse o senador, que é alvo de investigações da PF.

(Com Estadão Conteúdo)