Em entrevista concedida à rede de notícias árabe Aljazeera, o sul-mato-grossense Luiz Henrique Mandetta – ex-ministro da Saúde -, falou sobre a possibilidade de se candidatar à presidência em 2022 e disse que, no Brasil, “ninguém aguenta mais” a polaridade representada pelos políticos do PT e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na conversa, Mandetta recuou de um elogio feito ao presidente, quando chamou Bolsonaro de “extremamente humanista”, e ainda afirmou que “é amigo próximo” e mantém contato com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.

Ao ser questionado sobre suas intenções políticas, dados os altos índices de popularidade desde que foi demitido em meio à pandemia de , Mandetta se vendeu como alguém que está “no meio” da dualidade ideológica e que “realmente” quer “fazer um serviço sério”.

“De um lado, a extrema esquerda, como o PT e todos os problemas que eles tiveram no governo; de outro, a extrema direita, o Bolsonaro e todos os problemas que eles têm.  As pessoas estão enjoadas e cansadas dessa dualidade. Então, eu acho que há espaço para o meio, para a não-polarização, para pessoas que realmente querem cuidar e fazer um serviço sério. Espero que eu possa estar nesse campo”, disse o ex-ministro, que preferiu não responder claramente se vai sair candidato ou não.

Na entrevista, a jornalista Lucia Newman destacou pesquisas de opinião que revelaram, em abril, que a popularidade de Mandetta, à época em que foi demitido, superava a de Bolsonaro, a do ex-presidente Lula e também a de Moro e perguntou se ele estava pensando em se candidatar. Ele respondeu: “Moro é um amigo próximo, temos conversado.. quem sabe o que vai acontecer nos próximos anos? Mas eu estou certo que vou participar das próximas eleições como um cidadão, dizendo as mesmas coisas que eu já disse, conversando com o povo… Mas eu não posso imaginar como serão as coisas para eles”. “Espero que tenhamos eleições democráticas, em que possamos fazer uma boa discussão sobre as coisas que realmente precisamos trabalhar aqui”, acrescentou.

Vale lembrar que Sérgio Moro deixou o governo Bolsonaro dias depois da demissão de Mandetta, que divergia do presidente sobre políticas de , bem como sobre o uso da cloroquina para tratar pacientes contaminados pelo coronavírus, mesmo sem embasamento científico sobre a eficácia do medicamento. Quando ministro, Mandetta se recusou a assinar um protocolo recomendando o uso do remédio usado para o tratamento do lúpus e da .

Ao anunciar seu desligamento do governo, Moro ainda acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal – que investiga os filhos do presidente -, desencadeando uma séria crise entre os Poderes em Brasília, além de sucessivos revezes políticos para Bolsonaro, como o desligamento do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Governo nota 5

Durante a entrevista, Mandetta ainda criticou a postura adotada por Bolsonaro durante a crise sanitária e, após ser questionado sobre qual nota ele daria ao desempenho do governo – de 0 a 10 -, ele respondeu: cinco. Mandetta explicou que, enquanto alguns membros da equipe de saúde do governo faziam um trabalho sério, merecendo a nota 10, outros faziam um mau trabalho e mereciam a nota zero, mas não citou nomes.

Elogio? Eu?

Na entrevista, Mandetta ainda esclareceu o que foi considerado um elogio seu ao presidente, quando ele disse, ao deixar o governo, que Bolsonaro era “extretamente humanitário”. Confusa diante do fato de o próprio Mandetta ter criticado Bolsonaro por focar mais nos efeitos econômicos da pandemia do que no número de mortes, a jornalista pediu um esclarecimento ao ex-ministro.

Citando o livro “A Peste”, do escritor franco-argelino Albert Camus, Mandetta explicou que, como no romance, usou a palavra “humanista” para ilustrar a postura de Bolsonaro de negação diante da pandemia, o que sugere que ele pensa que o Ser Humano pode tudo, inclusive  vencer a peste. Em seguida, Mandetta esclareceu que não era sua intenção elogiar o presidente.

O romance A Peste foi publicado em 1947, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, e conta a história da chegada de uma epidemia à cidade argelina de Orã. O personagem principal é um médico, Rieux, que combate a doença até o momento em que ela se dissipa, depois de muitas mortes. O narrador descreve como a população reage, indo da apatia à ação, e como alguns se expõem a risco para enfrentar a disseminação da peste.