Em curso, jogado para conquistar a presidência da república

Conforme a eleição da Presidência da Câmara dos Deputados se aproxima, no dia 2 de fevereiro, as estratégias usadas pelos pré-candidatos, principalmente pelo favorito na disputa, (DEM-RJ), começam a ser delineadas.

Contudo, analistas já enxergam objetivos claros em algumas aproximações. Para a professora de Ciência Política da Unirio, Clarisse Gurgel, o apoio do PSDB a Maia é na verdade uma jogada dos tucanos para conquistar a Presidência da República. “O PSDB apoia o Maia e Maia implementa a queda do Temer. Ele sempre foi um ‘tapa buraco' no projeto tucano de chegar ao poder, e eles querem eleição indireta. Mesmo com o povo contra isso”, afirma.

Até a última sexta-feira (6), Rodrigo Maia ainda não havia oficializado sua candidatura. Na visão de Clarisse Gurgel, Maia busca, com essa estratégia, “evitar contra-ofensivas mais organizadas”. “Provavelmente ele quer se oficializar como candidato já com um apoio mais consolidado”, diz Clarisse. Para ela, a atitude de Maia também tem como intuito ganhar tempo e evitar possíveis recursos em tribunais judiciais contra ele.

Para Clarisse, a eleição ao cargo do Legislativo – dada a fragilidade de – é importante a ponto dela afirmar que “o presidente da Câmara não se candidata à Presidência da Câmara, e sim à Presidência da República. Maia vai conduzir a eleição para o novo presidente da República. E assim, tudo se resolve no mercado político do Palácio.”

A importância do cargo é tanta, que, de acordo com a professora, “é até curiosa a chamada ao debate feita pelo pré-candidato Rogério Rosso (PSD-DF). Isso daria ainda mais a cara de uma disputa para a Presidência da República.” Sobre este assunto, a opinião da professora é de que a proposta de Rosso foi “da boca para fora”.

Clarisse afirma que a proposta é uma “performance”, por dois motivos. “Primeiro: Maia costura o apoio dele nos bastidores, assim como seus adversários, mas ele é que está tendo êxito. O chamado para o debate público é apenas para tentar puxar para fora dos bastidores o adversário mais forte. Segundo: A Câmara atualmente é um ambiente ainda mais conservador. E como a Câmara é conservadora eles ficam à vontade de chamar o debate, sem temor de serem questionados. Caso fosse um debate onde Rosso precisasse enfrentar uma oposição forte, será que ele chamaria o debate?”

Mas, na visão dela, Maia se engana se acha que vai ter vida fácil após uma virtual reeleição e eventual queda de Temer. “Quem está de olho no impeachment do Temer está de olho em colocar seu sucessor. Convém àqueles que ainda querem destruir o PT expor o envolvimento de Maia e de outros ex-aliados do partido, especialmente no Rio. Maia é um potencial instrumento para a derrubada de Temer, mas já esteve alinhado com o PT.” Para ela, o atual presidente da Casa também pode não ter muitas vantagens nesse processo, dada a própria exposição dele na Lava Jato.

A professora ressalta que não acredita em grandes mudanças ou maiores dificuldades para o governo em votações ou aprovações de projetos após a provável vitória de Rodrigo Maia, mesmo com as negociações e promessas que vêm sendo feitas pelo governo para reeleger o pré-candidato do DEM, que poderiam acarretar no desgaste da relação entre Executivo e Legislativo após a reeleição de Maia, caso não sejam cumpridas.

“O governo não tem e não teria a menor dificuldade de aprovar seus projetos, pois são projetos que favorecem o empresariado, o agronegócio. Os deputados querem mais que eles sejam mesmo aprovados”, conclui.