Título foi dado por ONG de Reverendo Moon

A titular do Ministério de Direitos Humanos, Luislinda Valois alega ter ocupado um cargo que não existe da ONU (Organização das Nações Unidas), de acordo com a própria Organização. Uma reportagem do jornal Folha de São Paulo afirma que o planalto destacou, ao admiti-la, o título de embaixadora da paz na ONU em 2012, que nem existe na ONU.

“A homenagem à ministra foi dada por uma ONG fundada pelo líder religioso coreano Sun Myung Moon, o reverendo Moon (1920-2012), que se autoproclamava “messias” –a informação foi confirmada à Folha pelo ministério.Chamada UPF (sigla em inglês para Federação para a Paz Universal), a entidade é uma das mais de 3.000 organizações não governamentais que prestam consultoria para a Ecosoc (braço econômico e social da ONU)”, explica a Folha.

Apesar da parceria, a ONU afirma, segundo a Folha, que “nenhuma instituição ou empresa está formal ou legalmente autorizada a representar ou a falar em nome das Nações Unidas, ou de qualquer Departamento do Secretariado da ONU”.

“São poucas as personalidades brasileiras que detêm títulos das Nações Unidas. O escritor Paulo Coelho é o único entre os 12 ‘mensageiros da paz”‘ –grupo que inclui o ator Leonardo DiCaprio e o músico Stevie Wonder”, explica o jornal.

Entre os brasileiros, o cantor Gilberto Gil, a modelo Gisele Bündchen e a jogadora de futebol Marta são algun dos 11 nomes a terem o títul de “embaixadores da boa vontade”, de acordo com a reportagem. “Já o título recebido por Luislinda também homenageou o ex-candidato a prefeito de São Paulo João Bico (PSDC) e a banda baiana de forró Flor Serena, além de líderes religiosos locais”, complementa o jornal.

O reverendo Moon tinha um império financeiro ao redor do mundo. No Brasil, comprou o time de futebol Atlético Sorocaba e manteve uma escola no interior do Mato Grosso do Sul. Ainda de acordo com a Folha, não é a primeira vez que Luislinda é intitulada ‘embaixadora da ONU’ por um órgão federal. Antes, quando era secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgão ligado ao Ministério da Justiça, também havia sido apresentada desta forma em publicações da pasta.

Luislinha ainda conta em vídeo sobre a homenagem. “Eu estava em Sergipe, arrumando algumas coisas com meu filho domingo à tarde, quando eu recebi a ligação perguntando se eu aceitava receber este prêmio. Eu [disse]: ‘Não, é brincadeira, não é pra mim’. E aí meu filho, que fala inglês, eu [falo] muito pouco, disse: ‘Minha mãe, é que a ONU quer prestar uma homenagem’.”

“Eu disse: ‘Bom, uma homenagem não se rejeita’. E aí eles me disseram que eu ia receber um título de embaixadora da paz diante de tantos projetos sociais que tenho desenvolvido Brasil afora e com repercussão no exterior.”

A assessoria do Ministério foi procurada pela Folha e alega que Luislinda foi à Austria em 2012 receber a homenagem da UPF, “uma ONG com status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas”. “A UPF apoia o trabalho das Nações Unidas, particularmente nas áreas de construção de paz inter-religiosa, educação para a paz e o fortalecimento do casamento e da família”, informou.

O dado sobre o título ser da UPF, e não da ONU, não consta nos informativos divulgados pelo governo. A pasta não disse o motivo de as informações terem sido publicadas desta forma. Questionado, o Planalto afirmou à Folha que “divulgou informações com base na biografia da própria ministra”. A UPF no Brasil foi procurada, mas não se manifestou.