Investigações põem em dúvida ‘rivalidades’ regionais

A suposta rivalidade entre grupos políticos de Mato Grosso do Sul, apesar de viva entre correligionários que trocam farpas nas redes sociais, é colocada em dúvida pela forma de atuação dos envolvidos no suposto esquema de cobrança de propinas investigado pela Operação Lava Jato. Ivanildo da Cunha Miranda, por exemplo, chamou a atenção da Polícia Federal por supostamente atender a ‘chefes’ que nem sempre estiveram no mesmo palanque.

Indicado por delatores do grupo JBS como o principal operador do ex-governador André Puccinelli (PMDB) durante praticamente todo o mandato do peemedebista, Ivanildo chama a atenção em investigações regionais da Polícia Federal justamente pelo fato de ser figura próxima até de políticos rivais, como Reinaldo Azambuja (PSDB) e Pucinelli.

Antes mesmo de ter o nome citado pelo delator Wesley Batista, dono da JBS, em depoimento feito à PGR (Procuradoria-Geral da República), Ivanildo já tinha sido alvo de apurações federais. O pecuarista também aparece como doador de campanha eleitoral.

Relatório da Operação Fazendas de Lama, deflagrada pela Polícia Federal em maio do ano passado como segunda fase Operação Lama Asfáltica, foi finalizado em abril deste ano e encaminhado à 3ª Vara da Justiça Federal da Capital. No documento a que o Jornal Midiamax teve acesso, há detalhamento de investigação que revela a proximidade de Ivanildo com políticos.

Durante cumprimento de um dos mandados de busca e apreensão, a PF encontrou na casa do ex-governador Puccinelli nota promissória que revelava suposta compra de fazenda de propriedade de Mauro Cavalli – apontado pela PF como suposto “laranja” do ex-governador – para Ivanildo Cunha. Quem aparecia como avalista da negociação era o então candidato ao Governo do Estado, Reinaldo Azambuja (PSDB).

O valor da transação apurada pela PF e feita em outubro de 2014 foi de R$ 2,1 milhões em dinheiro e mais R$ 2,7 milhões em cabeças de gado. O fato da promissória ter sido encontrada na casa de Puccinelli chamou a atenção dos investigadores, que decidiram se debruçar sobre o caso. 

Compra misteriosa

Em depoimento à PF, André disse que nota assinada por Ivanildo e supostamente por Azambuja como avalista só estava na casa dele porque Mauro Cavalli teria pedido ao então governador ajuda depois de Ivanildo desistir da transação.

As informações repassadas à PF pelos investigados indicam que dias depois de fechar o acordo com Cavalli, Ivanildo teria desistido da compra em razão da localidade da área de 758 hectares de uma propriedade de mais de 4,3 mil hectares. A localização e o nome da fazenda não foram revelados pela PF.

Diante da desistência, Mauro disse aos investigadores que procurou André porque sabia da relação dele com Ivanildo e, por isso, acreditava que o pecuarista voltaria atrás se fosse convencido por Puccinelli. Dias depois, no entanto, outra pessoa teria se interessado na compra e a interferência do então governador não foi mais necessária. André disse aos investigadores que nunca conversou com Ivanildo sobre o assunto.

Depois de analisar várias documentações e colher os depoimentos, a PF concluiu que as alegações de Mauro e Puccinelli não são verdadeiras. Para a corporação, Mauro seria “laranja” de Puccinelli e a nota promissória apenas mascarava uma transação de propriedade rural que, na verdade, pertencia ao ex-governador. Os investigadores acreditam que a fazenda foi adquira com dinheiro ilícito.

Ivanildo chamou atenção da PF em MS por 'operar' com supostos rivais políticos

Relação tucana

Mesmo os investigadores não encontrando indícios de que Reinaldo tenha participado da suposta transação da compra da fazenda, informações sobre doadores da campanha tucana ao Governo do Estado revelam que Ivanildo e Azambuja eram próximos, como, inclusive, afirmou o próprio governador em diversas ocasiões.

Na declaração sobre doadores da campanha de 2014 feita ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o pecuarista Ivanildo Miranda aparece como origem de R$ 550 mil doados à Reinaldo. O valor foi repassado em três parcelas para a campanha tucana.

Delatado pela JBS

A lista, com pelo menos 251 nomes indicados por Ivanildo, entregue pelo delator Wesley Batista ao STF ainda será alvo de apuração no supremo. Uma das empresas que aparece várias vezes no documento como possível emissora de notas frias ao grupo JBS é a Força Nova Comércio de bebidas, que a reportagem apurou pertencer a Ivanildo.

O nome de Ivanildo é o que mais se repete na lista apresentada por Wesley Batista ao supremo. O próprio Ivanildo ainda não se manifestou sobre o assunto, a reportagem tenta há vários dias contato com a defesa do pecuarista, que ainda não se posicionou sobre as delações.