No Brasil, ele tinha condenação por lavagem

Tido como um dos barões do narcotráfico na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, Jorfe Rafaat Toumani, 56 anos, executado ontem, em Pedro Juan Caballero, cidade vizinha a Ponta Porã, “podia se mover livremente”, tanto do lado de lá quanto do de cá, segundo declaração dada nesta quinta-feira pelo titular da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai, Luis Rojas, ao ser questionado por jornalistas do país vizinho sobre, porque, diante da fama e dos rastros indicando atividade ilegal de Rafaat, ele continuava livre. “Não tinha ordem de prisão nem no Brasil nem no Paraguai”, afirmou Rojas.

Apesar de não haver ordem de prisão no momento, Rafaat é antigo conhecido dos órgãos de segurança no Brasil, onde é investigado por ligações com organizações criminosas desde a década de 1990. Primeiro, foi por contrabando de café, contravenção que foi a origem de muitos dos chefes do tráfico no Estado, e depois por tráfico de armas e de drogas, além de lavagem de dinheiro. Esse último crime é o único pelo qual tem condenação em Mato Grosso do Sul. Chegou a cumprir pena, mas conseguiu anular parte de uma condenação, a 10 anos de reclusão, e sua defesa, representada pelo advogado criminalista Manoel Cunha Lacerda, tentava, no STJ (Superior Tribunal de Justiça) anular o restante. O recurso estava aguardando a decisão da corte. Lacerda foi procurado, mas não foi localizado em seu escritório.

Em Campo Grande, na vara da Justiça Federal que cuida dos processos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, há no momento pelo menos uma ação em trâmite contra ele, na qual é denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal), novamente por legalizar dinheiro supostamente sujo.

Há, porém, ações correndo em Ponta Porã, na Justiça Federal, além de recursos no TRF (Tribunal Regional Federal), em São Paulo, em que Rafaat é acusado de tráfico e associação para o tráfico.

Em um dos recursos da defesa de Rafaat, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), contra a condenação de 2005 por lavagem, consta que, segundo as investigações, ele usava um laranja para movimentações financeiras, além de uma empresa de comercialização de cereais.

Em 2001, a Polícia Federal em Ponta Porã chegou a pedir a prisão de Rafaat, alegando que, após apreensão em uma de suas propriedades, de itens que indicavam envolvimento com o tráfico, ele não foi localizado para ser ouvido. A defesa foi ao STF (Supremo Tribunal Federal), pedindo habeas corpus, alegando que a prisão apenas para produzir provas contra ele não fazia sentido. O pedido foi negado e não há conhecimento se essa investigação prosperou.

Em 2007, quando ele ficou preso em Campo Grande, em outro pedido de habeas corpus no STF, a informação é de que havia contra ele a acusação de envolvimento com a apreensão de 488 quilos de cocaína, no Mato Grosso. No processo que tem recurso correndo Tribunal Regional Federal em São Paulo, além dessa apreensão no estado vizinho, em um avião que estaria sob a custódia de Rafaat, é citada outra apreensão de 492 quilos de cocaína, ocorrida em São José do Rio Preto, com a qual a quadrilha da qual era suspeito de fazer parte teria ligações.

“Sem provas”

Na fronteira, Rafaat era bastante conhecido e se apresentava como empresário influente, dono de lojas e produtor rural. Dizia, conforme jornais paraguaios, que nasceu em Assunção, mas seu documento era de Ponta Porã, portanto era cidadao brasileiro. Era conhecido, também, como Sadam, em referência ao ditador Iraquiano. Em torno dele, havia um forte esquema de segurança.

Nos jornais do Paraguai, a execução de Rafaat é um dos principais assuntos hoje. Em reportagem do jornal ABC Color, o titular da Senad disse que havia que não havia provas para poder processá-lo, apesar das apurações. “(Rafaat) não tinha ordem de prisão nem no Brasil, nem no Paraguai. Ele podia se mover livremente. Entretanto, o fato de não estar imputado não significa que não houvesse investigação”, disse.

“Ainda não tínhamos os elementos contundentes. Desde que trocamos o foco da investigação, não apenas ele (Rafaat) foi investigado como vários outros, que ainda estão sendo investigados. A droga é dinheiro. A única razão de ser é o dinheiro”, disse Rojas.

Segundo o jornal paraguaio, o titular da Senad manifestou que o novo mecanismo da secretaria não é apreender a droga, mas sim atacar o sistema financeiro do narcotraficante, dos grandes chefes do tráfico. “Agora podemos dizer que ele (Rafaat) foi um objetivo regional de vários países”, afirmou Rojas.

Jorge Rafaat foi morto junto com outras duas pessoas na noite de ontem em um ataque que aconteceu no centro de Pedro Juan Caballero. Dezenas de pistoleiros atacaram o jipe blindado em que ele estava, com armas pesadas.