Moro retirou sigilo da investigação

O juiz Sérgio Moro retirou sigilo da Operação Lava Jato e trouxe à tona interceptação telefônica de conversas do ex-presidente da República e ministro da Casa Civil, Luiz Inácio da Silva, bem como da chefe do Executivo Dilma Rousseff, ambos do PT. Os diálogos sugerem tentativa de influência no MP (Ministério Público) e no Judiciário. O conteúdo foi remetido ao STF (Supremo Tribunal Federal) que, teoricamente, ficará responsável pela investigação devido ao foro privilegiado. Os áudios revelariam esquema para nomear Lula. Ouça.

Além disso, Moro explicou que “trata-se de processo vinculado à assim denominada Operação Lava Jato e no qual, a pedido do Ministério Público Federal, foi autorizada a interceptação telefônica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de associados”, registra o juiz Sérgio Moro. Até mesmo a conversa da dupla ocorrida nesta manhã foi revelada. 

Conforme registro do magistrado, Lula tinha desconfiava que estava sendo ‘grampeado'. “Rigorosamente, pelo teor dos diálogos degravados, constata-se que o ex-presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos”.

Moro diz que “alguns diálogos sugerem que tinha conhecimento antecipado das buscas efetivadas em 4 de março de 2016”.Na data, o ex-presidente foi alvo da 24ª etapa da Operação Lava Jato e levado coercitivamente para depor.
“Observo que, em alguns diálogos, fala-se, aparentemente, em tentar influenciar ou obter auxílio de autoridades do Ministério Público ou da Magistratura em favor do ex-presidente”, afirma o juiz.

Mas ele esclarece não haver nenhum indício nos “diálogos ou fora deles de que estes citados teriam de fato procedido de forma inapropriada e, em alguns casos, sequer há informação se a intenção em influenciar ou obter intervenção chegou a ser efetivada”.

Outro nome falado é o da ministra do STF Rosa Weber. “Há, aparentemente, referência à obtenção de alguma influência de caráter desconhecido junto à Exma. Ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal, provavelmente para obtenção de decisão favorável ao ex-presidente na ACO 2822, mas a eminente Magistrada, além de conhecida por sua extrema honradez e retidão, denegou os pleitos da Defesa do ex-Presidente.”

O presidente da Corte, Ricardo Lawandowski, também não fica de fora dos diálogos. “De igual forma, há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido Magistrado qualquer acesso nesse sentido. Igualmente, a referência ao recém nomeado Ministro da Justiça Eugênio Aragão (“parece nosso amigo”) está acompanhada de reclamação de que este não teria prestado qualquer auxílio.”
“Observo que, apesar de existirem diálogos do ex-Presidente com autoridades com foro privilegiado, somente o terminal utilizado pelo ex-Presidente foi interceptado e jamais os das autoridades com foro privilegiado, colhidos fortuitamente”, continua. E remeteu a parte referente a Lula ao STF. (Com informações do Correio Braziliense e G1)

Leia e ouça parte dos diálogos:

Dilma: Alô

Lula: Alô

Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.

Lula: Fala, querida. Ahn – Dilma: Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!

Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.

Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando. – Dilma: Tá?! – Lula: Tá bom. – Dilma: Tchau.

Lula: Tchau, querida.

No vídeo diálogo entre o ex-ministro chefe da Casa Civil, Jaques Wagner também sobre a nomeação de Lula ao cargo.

 

 

Lula também conversa com o ex-ministro Nelson Jobim e desconfia de grampo telefônico da PF. “Isso aqui (a ligação) com certeza a Polícia Federal está gravando, mas a gente precisa acompanhar o que a Receita está fazendo junto com a PF no Instituto [Lula]. Se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas resolveriam o problema da arrecadação”, diz. Ouça.

 

 

 

 

Em outra conversa que teve escuta da PF, no dia 4 de março, o ex-presidente demonstra que queria uma atuação de Dilma e Jaques junto à ministra Rosa Weber para influenciar a decisão da magistrada sobre o curso das investigações.

— Lula: Mas viu querido, “ela” tá falando dessa reunião, ô Wagner eu queria que você visse agora, falar com “ela”, já que “ela” tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram.

— Jaques Wagner: Tá bom, falou! Combinado, valeu querido, um abraço. Um abraço na Marisa e nos meninos…

— Lula: Tá bom, tchau, querido.

— Jaques Wagner: Tchau.

Lula teria sido informado sobre busca da PF

No dia 27 de fevereiro, Lula fala para o presidente do PT, Rui Falcão, que está aguardando um mandado de busca e apreensão em sua casa e na de familiares, e está pensando em chamar deputados para acompanhar os procedimentos.

— Lula: É, eu tô esperando segunda-feira. Eu tô esperando segunda-feira a Operação de busca e apreensão na minha casa, do meu filho Marcos, do meu filho Fábio, do meu filho Sandro, do meu filho Cláudo.

— Rui Falcão: É, eu vi esse noticiário aqui.

— Lula: Na casa do Paulo Okamoto. Eu vou pensar amanhã se eu convoco alguns eputados…

— Falcão: Sei.

— Lula: Pra surpreendê-los.

— Falcão: Tá.

Lula fala com Jaques Wagner sobre assumir o ministério

— Lula: Alô!

— Jaques Wagner: Diga Excelência, tudo bem?

— Lula: Você viu que eu já tirei você da Casa Civil, né porra?!

— JW: Beleza! Eu vou ser segundo lá na Casa Civil, não tem nenhum problema. Com
maior prazer. (risadas)

— Lula: Querido…é…o seguinte: Eu tô pensando em ir pra Brasília amanhã. Ela ta aí em Brasília?

— JW: Certo. Chegando que horas? Claro!
[…]
— JW: Falou! E voce, amadurecendo sua cabeça?

— Lula: Tá amadurecendo, quase caindo de podre.

— JW: (risadas)

— Lula: Não, eu tenho recebido muito pedido pra “mim” aceitar, sabe?! Muito, muito, muito! Os SEM TERRA agora tavam reunido e ligaram (interrompido)

— JW: Meu cargo está a sua disposição, viu?!

— Lula: Tá bom.

— JW: Eu posso até ser seu carregador de documento.

— Lula: Eu serei, eu serei seu ajudante.

— JW: Eu vou ser seu “AJO”

— Lula: Eu serei seu adjunto. (risadas)

— JW: Tá bom.

— Lula: Abraço, querido.

— JW: Falou! Abraço, tchau.

Lula reclama de ofensiva da Receita Federal

Em 7 de março, o petista e pede que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, veja “o que fizeram no Instituto (Lula)”.

— Lula: Ô, Nelson, te falar uma coisa por telefone, isso daqui. O importante é que a Policia Federal esteja gravando. É preciso acompanhar o que a Receita tá fazendo junto com a Policia Federal, bicho!

— Nelson Barbosa: Não, é… (gagueja) Eles fazem parte.

— Lula: É, mas você precisa se inteirar do que eles estão fazendo no Instituto. Se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas, resolvia o problema de arrecadação do Estado.

— Nelson Barbosa: “Uhumm”, sei.

— Lula: Sabe? Eu acho que eles estão sendo filho da p*** demais.

— Nelson Barbosa: tá.

— Lula: Tão procurando pelo em ovo. Eu acho… eu vou pedir pro Paulo Okamoto botar tudo no papel, porque era preciso você chamar o responsável e falar “que p**** que é essa?” “Vocês estão fazendo o mesmo com a Globo, com Instituto Fernando Henrique Cardoso, o mesmo com Gerdau, o mesmo com o SBT, o mesmo com a Record?! Ou só com o Lula, c******?! Vai tomar no c*.

— Nelson Barbosa: Tá, pede pro Paulo colocar.

— Lula: Eu vou pedir pro Paulo colocar e te entregar, porque, veja, não tem problema que investigue não.

— Nelson Barbosa: Mas tem que ser igual, né?

— Lula: Não é possível. Você veja, tem uma investigação contra a Veja, quando a Bandeirantes acusou a Veja de fazer acordo com aquela empresa africana, essa porra dessa investigação tá parada na Receita desde 2008.

— Nelson Barbosa: “uhumm”

— Lula: Algum filho da p*** sentou em cima.

— Nelson Barbosa: Não, eu sei… essa coisa da velocidade já tinha chegado pra mim e eu pedi pra eles apurarem porque que tem velocidades diferentes.