Arnon de Mello matou outro senador em Brasília em 1963
Começo de dezembro de 1963, o Brasil ainda era bi-campeão mundial de futebol, Brasília ainda engatinhava, mas no Senado Federal uma cena que marcou a história. O então senador Arnon de Mello (PDC) atirou contra seu colega na Casa, Silvestre Péricles (PTB, ambos alagoanos e inimigos declarados. Um dos tiros atingiu José Kairala, correligionário acreano do pai do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que morreria horas depois no Hospital Distrital de Brasília. Foi Arnon, e não Delcídio do Amaral (PT-MS), o primeiro senador preso.
Causa mais do que incredulidade a prisão por tanto tempo de um senador da República com tanto poder e influência na Capital Federal, hoje, um mês após sua prisão, a grande dúvida não com relação ao futuro do de Delcídio, mas como ele irá se comportar quando ganhar a liberdade.
Na ocasião da prisão do pai do ex-presidente Collor, a Carta Magna que regia o país na época previa o mesmo que a Constituição Federal de 1988, que a detenção foi submetida à analise do plenário do Senado. Nos dois casos, a pressão popular e o temor da opinião pública levou os parlamentares a aprovaram a detenção.
Os dois envolvidos na confusão de 1963, Arnon e Silvestre, ficaram pouco tempo na prisão e depois foram absolvidos pelo Tribunal do Júri de Brasília. Em uma matéria da época, o senador Péricles, em curta temporada atrás das grades, não largava ‘seu 38 de cano longo e cabo madrepérola’, fazendo valer seu prestígio de parlamentar.
Atualmente, o máximo que Delcídio conseguiu foi a transferência da Polícia Federal em Brasília para o Batalhão da Polícia de Trânsito (BPtran), também na capital federal.
O sul-mato-grossense, que em 2014 quase se elegeu governador do Estado, foi flagrado em uma conversa com Bernardo Cerveró, o filho do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, tramando uma fuga para fora do Brasil para evitar uma possível delação premiada. O ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), entendeu que Delcídio tentava atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato.
Na conversa, o petista cita conversas com alguns ministros do Supremo, afirma que sua influência ajudaria a ‘libertar’ o ‘amigo’ e promete ainda uma ‘mesada’ mensal de R$ 50 mil para a família de Cerveró, para evitar que o ex-diretor contasse à Justiça detalhes dos esquemas que desvios na maior estatal do país.
As conseqüências da prisão na carreira política de Delcídio ainda são incertas, o futuro do senador que representava as vontades da presidente Dilma Rousseff (PT) no Senado é nebuloso. Dúvidas existem aos montes, principalmente no que diz respeito às ações do petista com relação ao ‘abandono’ do PT.
No caso de Mello, nem o assassinato lhe privou de continuar a carreira política. Permaneceu senador até ano de seu falecimento, 1983. Quanto à Delcídio, essa semana foi notificado pelo Conselho de Ética da abertura de processo que pode resultar em cassação.