Federais apontam ‘vantagem indevida’ recebida pelo então governador

Nas investigações de supostas irregularidades no uso de dinheiro público envolvendo o então governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), aliados próximos e empresários, a Polícia Federal confirmou que o peemedebista era recorrente passageiro no jatinho particular em nome dos empreiteiros João Baird e João Amorim, detentores de milionários contratos com o governo. Ainda assim, como revelam vídeos feitos com autorização judicial, ele contou com um golpe de sorte: o equipamento dos federais falhou bem na hora de flagrá-lo embarcando em uma das viagens de ‘carona’ na aeronave.

“O ex-governador do Estado André Puccinelli, o ex-deputado federal e ex-secretário de Estado de Obras Públicas em Mato Grosso do Sul, Edson Giroto, e André Cance, ex-superintendente do Tesouro da Sefaz, constantemente se utilizavam do avião particular de Amorim (PPJJB), para passeios, a trabalho (ir a Brasília), etc.”, confirma relatório da PF. O mesmo documento cita que o jato Embraer, com seis assentos, pertence à Itel Informática, de João Baird, e seria mantido em sociedade com João Amorim, dono da Proteco Construções.

Entre várias interceptações e vídeos feitos pela PF no curso das investigações, um deles mostra Puccinelli chegando para embarcar no PP-JJB, em hangar do Aeroporto Internacional de Campo Grande. “É ele mesmo”, diz um dos agentes ao ver o então governador desembarcando de um carro no local.

 

Em seguida, o vídeo mostra Puccinelli e outras pessoas próximas à porta do avião. Em certo momento, o então governador olha diretamente na direção onde estão os policiais federais e volta para trás da asa de outra aeronave. Depois de um corte, é possível ver uma pessoa embarcando na aeronave e a porta fechada na sequência.

Um agente federal pergunta ao colega: “pegou?”. E em seguida lamenta: “que merda”. Instantes depois, o colega comenta: “não pegou… foi muito… a câmera falhou bem na hora”.

Mesmo assim, os federais comemoram o resultado do trabalho: “o importante já viu, né, a movimentação”. O relatório da PF mostra imagens de Puccinelli e Giroto no aeroporto de Brasília (DF), por exemplo, em dias e horários nos quais o jatinho dos empresários voou até a capital federal.

O documento dos federais também cita um dos voos do PP-JJB feito em março deste ano, na ocasião levando o vice-prefeito, então prefeito, de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP). “Fui e não vou negar que fui”, mostra trecho de reportagem do Jornal Midiamax juntada ao documento, sobre a resposta dele quando questionado sobre a ‘carona’.

Em outro trecho, ao comentar as frequentes ‘caronas’, os federais lembram que situação semelhante, levou à cassação do deputado federal paranaense André Vargas, então no PT, “tendo em vista o recebimento da vantagem indevida”. O parlamentar teria viajado em uma aeronave bancada pelo doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras.

Amorim e Baird são investigados na Operação Lama Asfáltica, sob suspeita de integrarem um grande esquema envolvendo líderes políticos para desviar dinheiro público em diferentes esferas do poder público. O dono da Proteco também é alvo da Operação Coffee Break, sobre suposta corrupção de vereadores para cassarem o prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP).

Questionado pelo Midiamax sobre as viagens no jatinho dos empreiteiros investigados, o ex-governador disse na manhã desta sexta-feira (16) que já prestou depoimento uma vez sobre os fatos apurados na Operação Lama Asfáltica e que nada mais tem a declarar.