Ao contrário do que diz, em três anos, o governador (PMDB) aumentou em R$ 50 milhões o montante repassado para a Assembleia Legislativa. Foram R$ 138.035.750,73 em 2007. Essa fortuna saltou para R$ 179.818.208,79 no ano passado, valor 30% maior em apenas três anos de sua administração.

O primeiro-secretário da Assembléia, Ary Rigo (PSDB), foi o pivô do escândalo de propinas no Parque dos Poderes. Ele foi flagrado pela Polícia Federal contando que “devolvia” R$ 2 milhões “em dinheiro” para André em vídeo gravado pelo jornalista Eleandro Passaia.

O vídeo traz revelações estarrecedoras do esquema de corrupção investigado pela Operação Uragano (furacão em italiano, devido à origem dos principais implicados) da Polícia Federal, que botou na cadeia o prefeito, 9 vereadores e mais 16 pessoas de Dourados, entre autoridades, empresários e servidores públicos.

Ainda segundo os relatórios oficiais do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul, o volume de recursos repassados para a Assembléia tem aumentado assustadoramente todos os anos. De R$ 138.035.750,73 em 2007, saltou para R$ 156.044.290,72 no ano seguinte, incremento de R$ 18 milhões.

E de 2008 para 2009, o volume de repasses de dinheiro público para a Assembléia aumentou ainda mais, pulou para R$ 179.818.208,79, com aumento de R$ 23 milhões.

Não devolvia

Ao contrário do que disse o governador André Puccinelli em sua defesa, os balancetes do Tribunal de Contas demonstram que não houve a devolução mensal de R$ 2 milhões ao governo, como sobras da Assembleia. Só houve uma pequena sobra em 2008, ainda assim de R$ 612.802,28 durante todo o ano, o que equivaleria a R$ 50 mil por mês.

Ou seja, naquele ano, a Assembléia só conseguiu economizar 0,4% do dinheiro repassado pelo governo. Eis o que diz o relatório: “A execução orçamentária (despesa) da Assembléia Legislativa revela a utilização de 99,60% dos créditos autorizados.”

Porém, no ano seguinte (2009), apesar do orçamento da Assembléia ter aumentado (de R$ 156 milhões para R$ 163 milhões), todo esse dinheiro não foi suficiente para cobrir os gastos do legislativo, que fechou a conta no vermelho. Gastou R$ 179.818.208,79. Ou seja, quase 10% a mais do que previsto. Nesse caso, o governo teve que cobrir o buraco repassando mais dinheiro para a Assembleia.

E os contribuintes não estão sendo poupado no ano em curso. Somente nos seis primeiros meses de 2010 a Assembléia já “consumiu” R$ 93.478.850,44, o que projeta um gasto geral no ano de R$ 187 milhões, ou seja, R$ 7 milhões a mais que no ano passado. Dinheiro de impostos retirados dos trabalhadores, do comércio e das indústrias de Mato Grosso do Sul.

Outro lado

Ao tentar se explicar, em entrevista a jornalistas, o governador André Puccinelli blindou-se com a “credibilidade” que afirma possuir. “A única coisa que tenho na minha vida é a credibilidade adquirida ao longo e 62 anos de vida na rigidez, na dureza, na sinceridade e, às vezes, até na rudeza e na aspereza do trato para com as pessoas. Essa conotação (de corrupção) não cabe, isso que leva muitas pessoas a pensarem: vale a pena a vida pública?”

Ontem (24), em entrevista coletiva, Puccinelli piorou a própria situação trocando de versão ao perceber que não houve repasses como chegou a dizer para a Rede Globo de televisão.

Investigações no STJ

André Puccinelli é investigado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) por enriquecimento ilícito, em processo relatado pela ministra Nancy Andrighi. O processo só parou porque 20 dos 24 deputados estaduais não autorizaram o Tribunal a dar seguimento. Portanto, ele só pode ser processado após deixar o cargo. Sua esposa, Elizabeth Puccinelli, também ré no caso, está sendo processada.

Conforme atesta a declaração de renda do governador candidato entregue ao Tribunal Regional Eleitoral neste ano, Puccinelli tem patrimônio total de R$ 5.378.828,63, o dobro do que tinha antes de assumir o governo. Em apenas três anos, ele engordou suas contas em R$ 2.999.172,85.

“ …só para o André eu devolvia R$  2 milhões em dinheiro”