Sem medida protetiva há mais de 1 mês, mulher é agredida novamente pelo ex em Campo Grande
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A campo-grandense que pediu medida protetiva contra o ex-companheiro no dia 13 de janeiro foi agredida novamente na noite dessa quinta-feira (20). Mais de 30 dias após o pedido, a medida ainda não está válida porque a Justiça não intimou o agressor.
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Na última quarta (19), a mulher conversou com a reportagem do Jornal Midiamax afirmando que continua sem a medida e o agressor a procurou mesmo após a denúncia feita na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) em janeiro.
Após ameaçá-la na terça-feira (18), o homem foi novamente até a ex. Desta vez, a vítima estava próximo da residência de uma familiar, quando o ex-companheiro passou a agredi-la com puxões de cabelo e colocou uma faca no pescoço do filho dela, de apenas 10 anos.
Em seguida, a vítima foi até a Deam buscar por socorro, mas foi perseguida pelo agressor. “Ele puxou meu cabelo, colocou uma faca no pescoço do meu filho de 10 anos e me perseguiu até em frente à Deam com intuito de me matar, fazer bater o carro”, relatou a mulher.
A vítima conta que foi atendida na especializada e que a polícia teria pedido pela prisão do autor. Afirmou também que a solicitação da medida protetiva foi renovada, mas que o ex-companheiro ainda não foi intimado.
Logo, ela também recebeu acolhimento na Casa da Mulher Brasileira e precisou ser hospitalizada em decorrência das agressões. “Falei para vocês que esse homem vai me matar”, falou a mulher, revoltada.
Na quarta (19), a vítima havia se manifestado sobre a demora da Justiça em intimar o agressor. “Até agora não consegui (a medida protetiva), ontem o agressor veio até minha casa e fez novas ameaças. Não vou mais atrás, se eu morrer e virar estatística, fica aí minha denúncia”, disse.
Agressão
No dia 13 de janeiro, a mulher buscou a Deam, registrou boletim de ocorrência e pediu por medidas protetivas. Na ocasião, a vítima contou que o ex a agrediu na casa do sogro.
Assim, ela precisou ir até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), devido à gravidade dos ferimentos. “Ele tentou me matar, pois me enforcou e me desmaiou por mais de 10 vezes”, relatou a vítima.
Na manhã do dia seguinte, policiais prenderam e encaminharam o autor para a Deam, juntamente com a mulher. E já na delegacia pela manhã, a mulher conta que a Polícia Civil registrou o boletim de ocorrência e, somente às 13 horas, liberaram a vítima. Porém, no mesmo horário, liberaram também o autor.
Mesmo assim, ao chegar em casa, o homem a agrediu novamente. Mais uma vez a Polícia Militar prendeu o suspeito e a vítima voltou para a delegacia, conforme o relato dela. Assim que chegou à especializada, foi registrada outra ocorrência, realizado exame de corpo de delito, mas a mulher foi liberada somente por volta das 22 horas.
Outra indignação da campo-grandense é o não recebimento do boletim de ocorrência. Segundo ela, apesar do registro, ela não recebeu nenhum registro sobre os fatos.
‘Foi preso e liberado junto comigo’
Quando o denunciou em janeiro, a vítima disse que precisou ficar o dia inteiro na Deam. Mesmo assim, o autor – que na época estava com tornozeleira eletrônica em vista de outras agressões – foi liberado junto com ela pela polícia.
“Ele foi preso e liberado junto comigo da delegacia, junto mesmo. Todos que estavam lá ficaram revoltados. Fora que no dia do ocorrido ele estava usando tornozeleira eletrônica por outro ‘b.o’ que eu tinha feito. E sabe o que aconteceu? Foi preso, liberado e no outro dia retirou a tornozeleira”, disse a mulher, revoltada.
A campo-grandense ainda opinou que, para ela, o único serviço que funciona na especializada é o Promuse (Programa Mulher Segura). Ela, inclusive, já recebeu atendimento do programa e agradece a ajuda de uma policial.
“Ela salvou minha vida, foi através de uma visita dela, pelo Promuse, que eu desisti de tirar minha própria vida”, afirmou sobre uma das policiais que a atendeu pelo programa.
Como o caso de violência doméstica está em sigilo, o Poder Judiciário não pode detalhar sobre a intimação do autor e da medida protetiva.
Feminicídio de Vanessa
O relato da vítima sobre a demora da intimação do autor das agressões ocorreu em meio a crise institucional que a Deam enfrentou nos últimos dias após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte.
O feminicídio da jornalista aconteceu no último dia 12 e dias depois foram divulgados áudios gravados por Vanessa e enviados para uma amiga, onde apontam descaso e erros no atendimento recebido por ela na Deam.
Pouco antes da divulgação dos áudios, a delegada titular da Deam, Elaine Benicasa, disse para toda imprensa campo-grandense em entrevista coletiva que teria oferecido escolta, mas a jornalista teria ‘rejeitado’. Entretanto, os áudios gravados pela jornalista apontaram que pouco antes de ser morta pelo ex-noivo, ela esperava ‘chegar com a polícia’ para tirá-lo da casa dela.
Em seguida da divulgação dos áudios, a reportagem do Jornal Midiamax recebeu inúmeros casos de revitimização enfrentados por mulheres que buscaram ajuda na especializada.
Grupo técnico é nomeado para desafogar 6 mil ocorrências na Deam
Um grupo técnico foi nomeado para analisar cerca de seis mil boletins de ocorrência registrados na Deam e Campo Grande que não resultaram em instauração de procedimento ou que possuem providências pendentes. A decisão ocorreu após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, quando foram expostas falhas no atendimento recebido por vítimas de violência doméstica.
Também integram o grupo outros 13 delegados nomeados como membros. O grupo terá 90 dias para concluir os trabalhos, prazo que pode ser prorrogado pela DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul).
Conforme informações, o grupo foi criado para aperfeiçoar o atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar. A medida seria para maior eficiência e celeridade na apuração dos crimes contra a mulher. O grupo terá os trabalhos concentrados na Academia da Polícia Civil.
Em Campo Grande, o grupo será responsável por analisar boletins de ocorrência de casos represados, aqueles em que as vítimas ou autores não são encontrados no endereço e nem por telefone pela Polícia Civil, bem como desistência de representação por parte das vítimas ou ausência/inexistência de provas ou elementos comprobatórios para a instrução e andamento dos procedimentos.
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