O Grupo Técnico criado logo após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, em fevereiro deste ano, já instaurou 3 mil inquéritos, segundo o delegado-geral, Lupérsio Degerone. O grupo foi criado para desafogar 6 mil BOs da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
“O grupo que integra o GT é muito qualificado e vem se dedicando com foco total nas deliberações, despachos e instauração desses inquéritos. O fruto desse trabalho tem sido demonstrado com esse expressivo número de procedimentos instaurados”, disse Lupérsio ao Midiamax, nesta terça-feira (13).
Ainda de acordo com o delegado-geral, o prazo inicial de 90 dias deverá ser prorrogado, “A expectativa é de encerrarmos bem antes do novo prazo a ser prorrogado”, disse Lupérsio.
O grupo foi criado no dia 20 de fevereiro, sendo que em abril já tinham sido instaurados mil inquéritos. “Estamos instaurando os mais complexos de se instruir, primeiro. Exigem laudos de corpo de delito (lesões corporais). Aqueles que não são necessários laudos, como injúria, vias de fato, serão bem mais rápidos”, disse o delegado-geral, Lupérsio Degerone, na época.
Grupo é formado por delegados
O grupo é formado por 20 membros, sendo composto pelos delegados Wellington de Oliveira, Marcelo Alonso, João Reis Belo, Juliano Cortez Penteado, e os escrivães Steven Souza e William Eduardo Rocha, além da investigadora Priscila Rodrigues.
Também integram o grupo outros 13 delegados nomeados como membros. O grupo terá 90 dias para concluir os trabalhos, prazo que pode ser prorrogado pela DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul).
Em Campo Grande, o grupo será responsável por analisar boletins de ocorrência de casos represados, aqueles em que as vítimas ou autores não são encontrados no endereço e nem por telefone pela Polícia Civil, bem como desistência de representação por parte das vítimas ou ausência/inexistência de provas ou elementos comprobatórios para a instrução e andamento dos procedimentos.
Relatório da Deam apontou que Vanessa foi colocada em ‘bolha de amor’
Uma violência psicológica silenciosa travestida de ‘cuidados’, atenção exacerbada que acabam envolvendo a vítima em um ciclo de um falso amor, que na realidade são uma forma de controle de seu alvo: assim foram os últimos meses de vida de Vanessa Ricarte, morta a facadas aos 42 anos, pelo ex-noivo, Caio Nascimento.
Vanessa foi colocada dentro de uma ‘bolha de amor’ por Caio, que no começo do relacionamento era um príncipe concordando com tudo, apresentando ter os mesmos gostos, o que era um relacionamento dos sonhos se tornou um pesadelo, que só foi percebido por Vanessa pouco antes do crime.
Isso é o que revela o relatório final da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento Móvel de Urgência), que aponta as manipulações que Vanessa viveu por parte de Caio. A jornalista não dirigia o próprio carro havia meses, já que Caio estava ‘cuidando’ de sua segurança. “Ele colocou sua vítima em uma bolha de amor e ela começou a se afastar de tudo e de todos. Começou a se abrir menos do seu relacionamento com os amigos e familiares. Vanessa marcou o seu casamento sem contar para ninguém, porque Caio a manipulou”, diz o relatório.
Vanessa chegou a ter de prestar contas de seu dia a dia para Caio, que a controlava como forma de ‘amor’. O músico tinha um esboço da rotina completa da jornalista, que ainda era rastreada por Caio, para saber onde Vanessa estava.
O músico era quem nos últimos meses respondia às mensagens de Vanessa para os amigos da jornalista. “Ninguém entra em um relacionamento abusivo por vontade própria, pois na maioria das vezes começa aparentando ser o ‘amor da vida’ e muitos questionamentos surgem no sentido de ‘fulana é tão inteligente e bonita aceita estar em um relacionamento assim?’ Justamente porque começa com cara de grande amor. Porém, CAIO NUNCA AMOU VANESSA! Ele fazia com ela uma enxurrada de manipulações”, fala o relatório.
A mãe de Vanessa, em seu depoimento na Deam, relatou a dependência emocional de Caio. Ela ainda relatou que não mantinha um bom relacionamento com Caio, pois ele apresentava um comportamento desagradável, com o notório intuito de controlar Vanessa.
Vanessa passou cinco dias em cárcere privado, sem se alimentar antes de sua morte, enquanto Caio usava cocaína, que a jornalista foi obrigada a comprar com seu dinheiro. Antes de ser assassinada a facadas ao retornar para sua casa, a jornalista passou a madrugada com seu carro estacionado em um mercado, onde tinha câmeras de segurança.
“Vanessa estava imersa em um ciclo de violência com fases alternadas entre tensão, agressão e lua-de-mel, quando o agressor se emprenha em agradar, faz juras de amor (CARTAS DO CAIO apreendidas no Inquérito), ele disse que iria mudar, prometeu que foi a última vez. VANESSA estava tão debilitada emocionalmente que acredita no CAIO e não conseguiu sair desse ciclo”, diz o relatório.
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