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Polícia

Federação repudia crimes em terreiros e diz que acusados de tortura e abuso sexual não são pais de santo

Federação diz que não existe autoafirmação como pai de santo e que a preparação para o sacerdócio dura sete anos
Lívia Bezerra -
Mulheres tiveram mãos queimadas com pólvora em terreiro. (Foto: Fala Povo)

A Federação das Religiões dos Povos de Terreiro de repudia os crimes ocorridos em terreiros e afirma que os acusados de e abuso sexual, em , não são pais de santo. Os crimes foram denunciados à polícia no último sábado (19) e nesta terça-feira (22).

No primeiro caso, três jovens denunciaram um pai de santo por ameaça de morte, assédio sexual e uso de entorpecentes. No mesmo dia, dois menores de idade também foram à delegacia registrar boletim de ocorrência contra a mesma pessoa.

Já o segundo caso noticiado pelo Jornal Midiamax envolve duas mulheres. Duas irmãs de terreiro de um centro de candomblé foram até a (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e relataram tortura e humilhação sofridas. Elas contaram que tiveram as mãos queimadas com pólvora.

Diante das denúncias, o presidente da Federação das Religiões dos Povos de Terreiro de MS/Federação Ajô Nilê, Deamir Ribeiro, esclareceu ao Jornal Midiamax que os dois acusados não são pais de santo. “Esse senhor em questão não é filiado a nenhuma instituição, que organize e represente, que poderia outorgar um certificado de funcionamento”, afirmou.

O presidente também informou que a federação repudia a ação. “Nós, como federação das Religiões dos Povos de Terreiro de MS/Federação Ajô Nilê, afirmamos que repudiamos este tipo de ação, de maneira alguma este tipo de ação ou atitude faz parte dos fundamentos das religiões de Matriz Africana”, explicou.

À reportagem, o presidente esclareceu que o homem acusado de abuso contra adolescentes é um médium que se autodeclarou sacerdote.

‘Não existe uma autoafirmação como pai de santo’

Questionado sobre como funciona o processo para que as pessoas atuem como sacerdotes, Deamir ressalta que são sete anos de preparação, até que seja emitido um certificado funcional de reconhecimento do título sacerdotal.

“Não existe uma autoafirmação como pai de santo. Dentro da religião, seja umbanda ou candomblé, são necessários sete anos de preparação após a iniciação”, destacou.

No candomblé, por exemplo, levam sete anos para que o pai de santo tenha o destino sacerdotal. “Dentro do candomblé, existe a iniciação do neófito, do membro, que ele passa por obrigação de 1 ano, três, cinco e sete anos. Quando ele completa sete anos de iniciado, o responsável por ele, o Baba Lorixá consulta o oráculo para ver se ele tem destino sacerdotal ou não. Se ele tem, ele recebe os seus direitos de Baba Lorixá, de pai de santo”, explicou o presidente da federação.

Além disso, para que a residência seja fundamentada como templo religioso, é necessário que o sacerdote responsável pelo pai de santo vá até o imóvel antes.

Na umbanda, o presidente explica que ocorre o mesmo processo. “Na umbanda, é a mesma coisa, pois ela tem a obrigação anual, que são as camarinhas. E no final ele recebe a cuia, os direitos sacerdotais dele. E essa preparação leva, no mínimo, sete anos”.

Por isso, Deamir afirma a importância da preparação. “Infelizmente, tem pessoas que se rebelam numa casa, saem e se autodefinem como pai de santo, Baba Lorixá ou como padrinho de Umbanda, sacerdote. Mas essas pessoas não são autorizadas a abrir gira, a iniciar a outra pessoa automaticamente. E muitas coisas acontecem justamente por essa falta de preparação deste cidadão que se autodeclarou sacerdote ou Baba Lorixá”, diz.

Tortura e humilhação contra mulheres

Duas irmãs de terreiro de um centro de candomblé, em Campo Grande, procuraram a Deam, nesta terça-feira (22), para denunciar um homem que se autodeclara como pai de santo. Em depoimento, uma delas contou que, no dia 16 deste mês, estava no terreiro onde ocorriam trabalhos espirituais.

Na casa, estavam sete filhas de santo, quando o acusado deixou as mulheres de pé por cerca de duas horas, sem que pudessem se sentar. Ainda segundo o relato, durante o ritual, passou a rodar uma garrafa de cachaça, e as filhas de santo foram obrigadas a beber.

Conforme o relato, duas filhas de santo, sendo uma delas a esposa do pai de santo, foram obrigadas a ficar de joelhos por 1 hora, segurando uma vela, como forma de punição. Durante todo o ritual, o pai de santo afirmava que as mulheres estavam proibidas de incorporar e quem fizesse “ia retirar na cabeçada até abrir a cabeça”.

Denúncia de abuso sexual contra adolescentes

Já no último sábado (19), outro homem que se autodeclara pai de santo foi acusado de drogar e abusar sexualmente de três jovens e dois menores de idade em um terreiro. As denúncias foram feitas na Depac Centro (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), em Campo Grande.

Conforme consta no boletim de ocorrência, no dia 12 deste mês, uma das vítimas passou a frequentar outro terreiro e convidou dois amigos para acompanhá-la. Ao ficar sabendo, o pai de santo teria entendido que a jovem retirou os amigos da antiga casa; então, ele ameaçou a vítima de morte.

Diante da ameaça, a jovem decidiu procurar uma delegacia para registrar os abusos que teria sofrido enquanto frequentava o antigo terreiro. Conforme o relato dela, o pai de santo passava a mão no corpo da jovem, teria entrado no banheiro enquanto ela tomava banho e teria publicado em suas redes sociais xingamentos e ameaças contra ela.

A vítima ainda disse que o autor teria cometido os mesmos crimes contra os seus amigos. E, segundo o pai de santo, ele estaria passando a mão, pois ‘seu guia estava agindo nele’.

Ainda durante o registro, a jovem relatou que o autor comprava drogas, oferecia a menores de idade e, após eles estarem desorientados, o suspeito cometeria estupro.

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