Em um ano, mais de 500 vidas foram interrompidas por crimes violentos em MS

Assassinatos, feminicídios, latrocínio e morte por intervenção policial estão entre os casos

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São mais de 500 pessoas – vidas de filhos, irmãos, pais, mães, amigos – que se foram em decorrência da violência em Mato Grosso do Sul no último ano. São pessoas inocentes, outras nem tanto, mas nada que justifique um tirar a vida do outro. Para alguns são só números, mas quase 500 vidas tiradas de forma brutal não é normal.

Dados de homicídios dolosos nos últimos 10 anos. (Sejusp)

Nos 12 meses de 2024, houve registro de 388 crimes de homicídio doloso em Mato Grosso do Sul. Destes, cerca de 29% ocorreram em Campo Grande, ou seja, 117 vidas perdidas em decorrência do crime.

Apesar do número alto, este é o menor até agora nos últimos 10 anos, conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

Feminicídios e outros crimes

Feminicídios foram 11 em Campo Grande. Este foi o terceiro maior ano em números de feminicídios na Capital, nos últimos 5 anos. 

Já no Estado, o número deste ano é de 31 mulheres mortas, maior que o registrado no ano anterior, quando 35 vidas foram ceifadas.

Lesão corporal seguida de morte, que é quando a vítima morre, mas não era a real intenção do autor, foram 14 casos no Estado este ano.

Já o crime de latrocínio, roubo seguido de morte, o número igualou ao de 2020, sendo 17 vidas perdidas no Estado.

Morte por intervenção policial, quando houve troca de tiros, ou seja, quando a polícia reagiu, foram 77 casos este ano.

Assassinatos

Crimes em que o autor tem a intenção de matar, ou assumiu risco, é chamado de homicídio doloso. Essa é uma das formas que mais tirou vidas em MS dos crimes citados. Um dos casos registrados este ano é de Sérgio Pereira, assassinado a tiros, na noite do dia 19 de março no bairro Rita Vieira, em Campo Grande. Ele seria agiota e foi executado com cinco tiros no rosto, costas, axila e nuca.

Informações são de que, além da oficina mecânica que Sérgio mantinha, ele emprestava dinheiro a juros. Mas, não se sabe se a agiotagem teria sido a motivação para o homicídio. Ele estaria armado quando foi assassinado. 

A dupla na motocicleta teria armado uma emboscada, assim, quando Sérgio chegou em sua casa e desceu do veículo Fiat Strada foi surpreendido pelo atirador. O filho de Sérgio, um adolescente de 15 anos, foi ferido no abdômen durante a execução. 

Os policiais ainda apreenderam três armas que o dono de oficina guardava em casa, entre elas um fuzil e várias munições.

Kauã Henrique, de 17 anos, foi morto pela própria mãe em julho. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

O adolescente Kauã Henrique, de 17 anos, foi morto com uma facada no abdômen pela própria mãe de 43 anos em julho. Ele visitava a mãe quando foi assassinado. Ela teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.

A mulher afirmou que não tinha a intenção de matar o filho e que desferiu a facada no abdômen de Kauã depois que ele disse que ‘a odiava’. Na residência, a polícia encontrou várias latas de cerveja. 

A mulher estava alterada e com comportamento agressivo. Conforme o relato de testemunhas, a mulher estava discutindo com o marido, que é padrasto da vítima. Os dois homens estariam bebendo no local. Em seguida, a mulher começou a brigar com o esposo e o jovem entrou na discussão para impedir que o padrasto fosse esfaqueado.

O esposo foi embora e, então, mãe e filho ficaram discutindo. Foi quando a mulher usou uma faca de cozinha para atingir o adolescente na região do abdômen. “Mãe, por que você fez isso?”, teria dito o garoto, que correu e depois de alguns metros caiu no chão.

Vinicius Augusto dos Santos, de 38 anos, foi assassinado a facadas no pescoço, no quintal de sua casa, na noite do dia 21 de outubro. O autor seria um homem a quem a família ajudou com moradia.

Vinicius foi encontrado em volta de uma grande quantidade de sangue. Conforme o relato da família, eles teriam reconhecido o autor como sendo um homem que pediu ajuda há um tempo, já que não tinha casa e nem emprego.

O autor teria pedido ajuda na igreja que a família frequenta. Assim, o pai da vítima entrou em contato com um vizinho que tinha uma casa vazia, combinando que o autor moraria lá para cuidar da residência, assim o fizeram, e o ajudaram a mobiliar com itens básicos.

Segundo a sobrinha da vítima, Vinicius era usuário de drogas, e por diversas vezes ingressou na residência do suspeito para furtar alguns objetos. Dias antes, os dois brigaram em um bar da região, onde o suspeito agrediu Vinicius Augusto com pauladas.  

Já a família de Vinicius informou que o suspeito pagava cerca de R$ 10 para a vítima levar coisas para a amante que trabalhava com ele em um frigorífico. A vítima estaria ameaçando contar à esposa do suspeito sobre a traição, e isto teria motivado o crime, segundo acredita a família.

Vinicius foi assassinado com uma facada no pescoço. (Madu Livramento, Midiamax)

André Lopes da Silva, de 38 anos, foi assassinado a facadas e atropelado na noite do dia 4 de agosto, no bairro Parque do Lageado, em Campo Grande, depois de assediar uma criança de 11 anos.

André foi morto em festa no Lageado.

Testemunhas contaram no local para a polícia que todos estavam em uma festa quando André passou a assediar outras mulheres e uma criança de 11 anos. André estava acompanhado da namorada de 15 anos na festa. 

A adolescente disse que o autor do crime conhecia André. Ainda de acordo com informações, o homem não gostou das atitudes de André e os dois passaram a discutir. 

Já na frente do local onde ocorria a festa, o autor que estava com uma faca desferiu vários golpes contra André, o autor ainda o atropelou e fugiu em um carro de cor preta.

Elisângela Arce Correa, de 44 anos, foi morta esfaqueada mais de 12 vezes na madrugada do dia 29 de setembro no bairro Jardim Los Angeles. Ela nem era o alvo dos autores do crime, mas foi assassinada com 12 golpes de faca no braço, queixo, costas e tórax.

Já o marido foi ferido 10 vezes nas costas e tórax. Quando os policiais chegaram ao local do crime, encontraram manchas de sangue por quase toda a residência.

O alvo era o marido dela e a motivação seria a cobrança da venda de uma motocicleta.

Feminicídios

Por falar em crimes contra a vida, o feminicídio, crime contra a mulher, continua a chocar a sociedade, porém com números ainda estagnados. De janeiro até dezembro foram 35 mulheres que perderam a vida, simplesmente por serem mulheres, por não aceitarem viver mais em um relacionamento abusivo, tóxico.

Em novembro, Sueli Maria Conceição da Silva, de 56 anos, foi assassinada a facadas em Naviraí pelo ex-marido, de 45 anos. Após o crime, o homem foi para casa, onde acabou sendo agredido por populares e levado para o hospital pelo Corpo de Bombeiros. No hospital, ele confessou o crime e disse que foi motivado por ciúmes.

Jennifer foi assassinada a tiros e amiga ferida em São Gabriel do Oeste. (Reprodução)

Em junho outro caso grave chamou atenção da população e autoridades. Jennifer Gimenes Mongerroti, de 22 anos, foi assassinada a tiros e a amiga dela ficou ferida em uma fazenda em São Gabriel do Oeste, a 133 quilômetros de Campo Grande. A amiga conseguiu fugir e, mesmo ensanguentada e bastante ferida, se escondeu dentro de um canavial até ser encontrada e socorrida por um vizinho.

As duas haviam ido até a fazenda do idoso que teria prometido R$ 1 mil, sendo dividido R$ 500 para cada pelo programa. Ele acabou preso na madrugada do dia seguinte. Segundo a polícia, o suspeito também teria tentado atrapalhar as investigações, desligando o circuito de câmeras de segurança do local e alterando a cena do crime.

Jennifer foi encontrada morta escondida em meio à mata, ensanguentada com lesão aparente no seio direito. A arma do crime, um revólver Caramuru .22, também foi localizada, assim como 26 munições e uma luneta no guarda-roupas do autor. 

Os pertences da vítima foram dispensados em meio a entulhos atrás da casa, onde havia uma camiseta azul ensanguentada.

Dados de feminicídios em MS nos últimos 10 anos. (Sejusp)

Em outubro, a idosa Francisca de Assis Rocha, de 67 anos, foi morta asfixiada pelo marido em Ponta Porã. O casal teria brigado na noite anterior ao crime. Conforme o depoimento do autor, ele estava bebendo cerveja desde as 20 horas de sábado (26), mas Francisca pediu que ele parasse com a bebida, e o casal começou uma briga. Logo depois das 23 horas, o autor resolveu parar de beber e, em seguida, os dois foram dormir.

Mas, segundo o homem, por volta da meia-noite, a discussão retomou com eles deitados na cama. Nesse momento, ele subiu em cima da esposa e passou a esganá-la. Francisca tentou se defender e começou a se debater e arranhar o rosto e pescoço do marido. 

Ainda de acordo com o homem, Francisca parou de se debater e ele achou que a esposa estava dormindo. Assim, ele deitou e dormiu ao lado da vítima, acordando por volta das 3 horas da madrugada, percebendo que Francisca estava gelada.

Simone foi assassinada pelo ex em Itaporã.

Já em novembro, Simone Alves de Siqueira, de 31 anos, foi assassinada pelo ex-marido, de 38, em uma granja às margens da MS-157, em Itaporã. O pai da vítima a encontrou morta, na frente de uma das granjas onde ela trabalhava.

Testemunhas contaram que o ex-marido, em posse de um revólver calibre 38, foi até a casa onde Simone estava trabalhando. Assim, efetuou os disparos contra a cabeça da ex-mulher.

Ainda conforme o registro policial, a vítima e o autor se relacionaram por 19 anos, tiveram duas filhas, mas estavam separados há quase um mês em decorrência de constantes brigas. Inclusive, Simone já havia registrado um boletim de ocorrência contra ele por perseguição e solicitado medidas protetivas.

Atualmente, o suspeito trabalhava e morava na granja, bem como a ex-esposa, mas residiam em casas separadas. 

Também em novembro, Vanessa Souza Amâncio foi morta a facadas em Três Lagoas. Ao ser preso, o autor relatou ter feito ‘besteira’ aos policiais. Ele foi encontrado em Selvíria depois de fugir para a cidade.

Vizinhos acionaram a polícia durante a madrugada, relatando ter ouvido uma mulher pedindo socorro. No local, os militares já encontraram a mulher sem vida, com múltiplas facadas.

O homem contou que bateu em Vanessa antes de matá-la a facadas. “Eu fiz besteira, matei uma pessoa”, disse em depoimento. Quando localizado, o autor estava com o celular de Vanessa e lavando as roupas que havia usado para cometer o crime.  

Crime de roubo seguido de morte nos últimos quatro anos em MS. (Sejusp)

Latrocínio e lesão corporal seguida de morte

Crimes contra o patrimônio, que têm resultado morte, latrocínios têm o maior número de casos dos últimos 4 anos. O número é igual ao de 2020. O crime é uma forma qualificada do roubo, porém que tem o resultado em morte. Ou seja: a vítima morre em consequencia disso, antes ou depois do roubo. O que faz pensar se o bem material vale uma vida.

Professor universitário assassinado em Campo Grande

Neste ano, 17 pessoas perderam a vida porque o autor lhes tomou algo, um bem.

O caso de repercussão e o mais recente é o do ex-superintendente e professor universitário, Roberto Figueiredo, de 63 anos, encontrado morto no dia 16 de dezembro, em Campo Grande.

O autor foi um adolescente, de 17 anos, que confesosu o crime. O carro da vítima, um Jeep Renegade, foi encontrado e apreendido com um homem no bairro Aero Rancho. O adolescente foi apreendido no Portal Caiobá.

O adolescente teria dito ao homem que estava com o carro porque tinha matado um homem e que se deu bem financeiramente, pois estava com cartões de crédito e notebook do ex-superintendente. Os dois ainda beberam e passearam com o carro da vítima em vários bairros, usando os cartões do professor. Roberto foi morto a pauladas e facadas no pescoço.

Outro caso de latrocínio ocorrido dessa vez em Nova andradina é o do ‘Cascavel’, Gerson Martins dos Santos Sobrinho, de 48 anos, encontrado morto no córrego do Baile. Um homem foi preso e dois adolescentes, um menino e uma menina, foram apreendidos. O trio estava com os pertences da vítima.

A motocicleta, assim como o celular, carteira e outros objetos pessoais de Gerson foram levados. A vítima foi atraída e então atacada e agredida até a morte.

Mortes por intervenção policial

Foragido da Justiça, João Pedro Gandra Pires, de 18 anos, conhecido como ‘Menor SP’ morreu em confronto com a Força Tática da 6ª CIPM da Polícia Militar em novembro. A polícia foi até a residência depois de uma denúncia de disparo de arma de fogo. 

Os policiais chegaram à casa na Rua Ana Luiza de Souza, quando se depararam com o rapaz com uma das armas na mão. Foi dada ordem de parada para ele, que resistiu à prisão apontando a arma para os policiais, que revidaram.

Logo depois de fazer o socorro de João a uma unidade de saúde, foi feita a checagem e descobriram que ele tinha um mandado de prisão em aberto. O autor tinha passagens por tráfico de drogas e roubo majorado e seria faccionado do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Na casa, foram encontradas duas armas artesanais. De acordo com a delegada Joilce Ramos, o ‘Menor SP’ estaria fabricando várias armas, já que na casa foram encontradas peças para a fabricação.

Um homem, não identificado, morreu após entrar em confronto com policiais da PRF (Polícia Rodoviária Federal) durante uma tentativa de fuga no dia 16 de dezembro, em Maracaju.

Os policiais estavam realizando uma fiscalização na região de Maracaju quando tentaram abordar um veículo GM/Montana. Contudo, o condutor não parou, avançou em direção aos policiais e iniciou a fuga.

Depois ele abandonou o carro e tentou fugir a pé. Mas, ao perceber a aproximação dos policiais, o indivíduo efetuou diversos disparos contra a equipe, o que foi revidado. Após as buscas, o homem foi encontrado ferido e, ainda com vida, foi encaminhado para o hospital de Maracaju. Porém, não resistiu e veio a óbito.

No começo de dezembro, Rodrigo César Ferreira da Silva, de 28 anos, conhecido como ‘Galo Cego’, morreu em confronto com policiais militares do Batalhão de Choque no bairro Estrela Porã, em Dourados.

Os militares foram até uma casa para cumprir um mandado de prisão em desfavor de Rodrigo. Contudo, o rapaz resistiu à abordagem e, com um revólver calibre 38, trocou tiros com os policiais. 

Logo, disparos atingiram Rodrigo. Os militares ainda o socorreram ao hospital, mas ele não resistiu aos ferimentos e foi a óbito.

Ainda no local, os policiais identificaram que ‘Galo Cego’ acumulava passagens por porte ilegal de arma de fogo e homicídio em sua ficha criminal, além de ser suspeito de possuir ligação com facção criminosa. 

João Pedro Gandra Pires, de 18 anos fabricava armas e morreu em confronto com a polícia.

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