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Polícia

Assassinato do jornalista Léo Veras na fronteira de MS é denunciado por organização internacional

O jornalista foi morto na frente da família há cinco anos e a Forbidden Stories diz que impunidade é causada pela ‘Lei do Silêncio’ na Fronteira
Anna Gomes -
Jornalista Léo Veras (arquivo pessoal)

O do jornalista Léo Veras, de 52 anos, continua sem resposta. Cinco anos se passaram desde que ele foi executado a tiros em sua casa, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com . Os assassinos o surpreenderam enquanto ele jantava com a família.

A execução ocorreu na noite de 12 de fevereiro, de 2020. Pouco depois das 20h, dois homens invadiram a casa de Veras. O barulho do destrave da pistola Glock 9mm chamou a atenção do jornalista, que correu para o quintal. Os pistoleiros o seguiram e atiraram doze vezes. 

Léo era um dos poucos jornalistas locais que ousava publicar informações sobre o crime organizado e a rede de narcotráfico que liga o Brasil ao Paraguai. Ele fundou o próprio veículo, que abastecia geralmente com notícias curtas sobre acontecimentos da região. O crime era, e ainda é, o principal assunto, já que nas últimas décadas Pedro Juan se tornou um lugar particularmente violento.

Outros seis jornalistas foram mortos na cidade desde 1991. O assassinato de Veras, contudo, se tornou um caso exemplar não apenas da violência na fronteira, mas sobretudo da impunidade.

Cintia González, a viúva do jornalista, vem pleiteando há mais de cinco anos que a morte de seu marido seja investigada, mas até hoje não obteve respostas satisfatórias. Só uma pessoa foi presa por suspeita de participação no crime, mas acabou solta por falta de provas.

‘Cachorrão’ saiu pela porta da frente do Tribunal de Sentença (Foto: reprodução, Polícia Nacional)

A organização internacional mostra que o assassinato de Veras tem fortes indícios de ligação do Ministério Público Paraguaio, que estaria blindando o principal suspeito de matar o jornalista, o narcotraficante, Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, conhecido como Minotauro.

Conforme a publicação divulgada pela Revista Piauí e pelo Jornal Paraguaio, ABC Collor, a viúva conta que demorou um ano até ser chamada a depor, embora fosse uma testemunha ocular do assassinato. Além disso, ela diz que Justiça paraguaia nunca ofereceu um que pudesse representá-la. Apesar da proteção policial temporária à sua casa, González achou mais prudente, por fim, deixar o Paraguai. Temia ser morta por falar abertamente do caso.

O consórcio jornalístico Forbidden Stories, em parceria com o OCCRP (Projeto de Investigação Sobre Crime Organizado e , na sigla em inglês), obteve documentos dessa investigação que mostram uma série de negligências por parte das autoridades paraguaias. Pedidos de cooperação feitos por agentes brasileiros foram ignorados e evidências, descartadas.

Cintia González tem convicção de que seu marido foi morto por ter investigado o crime organizado, em especial o PCC. Um dos líderes da facção, o Minotauro, é suspeito de ter encomendado, da prisão, a morte de Veras, segundo documentos oficiais obtidos pelo Forbidden Stories. Essas mesmas fontes detalham o tamanho do império comandado pelo narcotraficante. Um relatório produzido no Brasil e compartilhado com promotores paraguaios aponta que o traficante do PCC foi responsável por “transações multimilionárias de cocaína, incluindo remessas à Europa”, bem como assassinatos, construção de pistas de pouso clandestinas e compra de explosivos como o C4 (uma variedade comum de explosivo plástico, geralmente usada com fins bélicos).

Pedro Juan era o centro do poder de Minotauro, mas sua influência extrapolava os limites da cidade. Em 2019, ele foi preso no Brasil e condenado, no ano seguinte, a quarenta anos de prisão. Ainda assim, isolado em um presídio de segurança máxima, a Penitenciária Federal de , o traficante continuou a se comunicar com o lado de fora. Há indícios de que ele subornou dois promotores, de algumas formas, inclusive com presentes valiosos. Segundo diferentes investigações jornalísticas publicadas entre 2020 e 2022, eles receberam uma caneta Montblanc banhada a ouro 18 quilates, um exemplar da primeira edição de O pequeno príncipe, além de 10 mil dólares em espécie.

Leo Veras (Reprodução)

Documentos obtidos pelo Forbidden Stories mostram, no entanto, que os promotores paraguaios pressionaram os brasileiros a restringir o escopo da investigação.

O principal promotor brasileiro encarregado da investigação, demonstrou preocupação com o fato de o Paraguai não ter tomado providências contra os dois promotores acusados de corrupção, sobretudo porque o Brasil havia produzido informações de inteligência sobre a dupla. Ele mencionou também um documento que ele mesmo havia pedido em agosto de 2021 e que, em outubro, ainda não fora entregue.

Uma autoridade brasileira familiarizada com o caso conversou com o Forbidden Stories sob condição de anonimato. Segundo ela, a investigação sobre Minotauro foi “difícil”, devido principalmente à paralisia no lado do Paraguai. O relato é parecido com o de um ex-promotor paraguaio ouvido pela reportagem. “Todos os processos ligados ao crime organizado — no momento, muito poucos — só são formalizados depois de grande pressão”, ele afirmou.

As coisas começaram a andar no início de 2022, quando os promotores paraguaios deram sinal de que pretendiam colaborar e toparam combinar uma reunião presencial com os pares brasileiros. O Forbidden Stories não conseguiu confirmar se essa reunião já ocorreu. Poucos meses depois, no entanto, o principal promotor paraguaio encarregado da investigação, Marcelo Pecci, foi morto enquanto passava a lua de mel na ilha colombiana de Barú. O assassinato fez com que o trabalho da promotoria retrocedesse ainda mais. Desde então, não houve novos avanços.

A investigação sobre Minotauro ilustra um padrão da Justiça paraguaia no que diz respeito ao crime organizado. Dados obtidos pela reportagem mostram que, entre 2014 e 2024, apenas 12% dos pedidos de cooperação jurídica que o Brasil enviou ao Paraguai receberam algum tipo de resposta. Os que foram adequadamente atendidos são cerca de 7% do total. Outros países também têm dificuldades para obter informações do Ministério Público do Paraguai. É o caso da Argentina, que tentou, sem sucesso, alertar as autoridades do país sobre o paradeiro de um traficante boliviano que atua em um cartel argentino e estava no Paraguai.

Não bastasse a inércia das autoridades, existe a suspeita de que um policial paraguaio tentou atuar na investigação sobre Minotauro a serviço de outro traficante. Um documento do Ministério Público brasileiro, datado de 2019, relata que um indivíduo identificado como Comando — um “agente de segurança pública paraguaio” — usou um sofisticado sistema de vigilância para localizar Minotauro. Segundo o documento, Comando, cuja identidade o Forbidden Stories não conseguiu confirmar, acessou ferramentas de inteligência da Polícia Federal brasileira e compartilhou informações com Jonathan Giménez Grance, sobrinho do notório traficante de drogas Jarvis Chimenes Pavão. Ambos, segundo o Ministério Público, tentaram “expor publicamente” informações sobre a atuação de Minotauro na Bolívia. Descobriram fazendas e pistas de pouso, e estavam dispostos a pagar pela captura de outros traficantes, incluindo integrantes do grupo guerrilheiro EPP (Exército do Povo Paraguaio).

Durante várias semanas, no final de 2018, o misterioso Comando, ao lado de Jonathan Grance, vigiou de perto pessoas do círculo íntimo de Minotauro. O plano, de acordo com o documento do Ministério Público brasileiro, era simples: Grance enviava a Comando números de telefone, perfis de mídia social e outras informações dos colaboradores de Minotauro. O policial paraguaio, por sua vez, rastreava a localização dessas pessoas usando ferramentas de interceptação.

A maquinação foi descoberta e não foi para frente. Procurada pela reportagem, a Polícia Nacional do Paraguai não se manifestou sobre as informações levantadas pelos promotores brasileiros. Nesse meio-tempo, a parte séria da investigação sobre Minotauro, que poderia ajudar a elucidar a atuação do PCC na fronteira e punir os responsáveis pela morte de Lourenço Veras, não produziu qualquer resultado. Desde que o promotor Marcelo Pecci foi morto, em maio de 2022, Cintia González não nutre esperanças de que isso vá acontecer.

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