A mulher, de 27 anos, sobrevivente ao atentado que matou Jennifer Gimenes Morgenrotti, de 22, em São Gabriel do Oeste, a 133 quilômetros de Campo Grande, no último domingo (23) fez um relato chocante do crime. O idoso, de 61 anos, acusado de cometer o crime, segue preso após audiência de custódia na tarde de terça-feira (25).

O vídeo chocante e agoniante relata momentos de terror vividos por ela e a amiga naquele domingo. A mulher percorreu mais de 20 quilômetros pela mata em um período de mais de três horas para fugir do idoso. 

Ela afirma que não via o idoso há um ano e que o mesmo encontrou o número de telefone dela e lhe enviou mensagem, fazendo promessas dizendo que gostaria de vê-la, pois estava com saudade.

Com isso, ficou combinado o programa, mas sem relações sexuais, pois ela nega que mantinha relações sexuais com o homem. Contudo, a vítima estava com medo de ir sozinha até a propriedade rural, avisou Jennifer e então convidou para que a amiga fosse junto. 

O medo, segundo a mulher relata no vídeo, era pelo sentimento de possessividade que o idoso tinha com ela, pois falava que a amava, mas ela afirma que nunca o correspondeu. Inicialmente, no dia seguinte ao crime, foi divulgado que uma discussão por pensão alimentícia teria motivado o assassinato, em vista que a mulher teria uma filha com o acusado. Porém, ela nega e ressalta que nunca teve relações sexuais com ele. 

“Isso que estão dizendo que eu tenho uma filha com ele é totalmente mentira. Eu nunca tive uma relação pessoal com ele, era ocasional, isso porque ele pagava para ir lá. E eu não levei só a Jennifer, levei várias pessoas comigo, porque lá tem uma cachoeira, é um ponto turístico”, explica. 

‘Nosso terror’, relata vítima

A mulher conta no vídeo que o idoso foi buscar ela e a amiga na manhã de domingo (23) próximo à casa de Jennifer. Elas combinaram de encontrá-lo pouco mais a frente para que o idoso não soubesse onde Jennifer morava, já que era apenas um cliente. 

Ao buscá-las, ele levou as duas no mercado para comprar alguns itens, como cerveja, carne e itens para produzir uma maionese. Eles foram para a propriedade rural e lá as duas amigas ficaram na casa da sede, enquanto o idoso na casa de campo, deixando elas o tempo todo sozinhas, fato que causou estranheza na vítima sobrevivente. 

“Nisso comecei a desconfiar, por que ele deixava duas pessoas sozinha e não descia? E eu comecei a me perguntar isso, aí falei para Jennifer ‘amiga, vou subir lá em cima para chamar ele’, pois até então já tinha acabado a lenha da churrasqueira”, conta. 

A mulher relata que foi avisá-lo por volta das 11 horas da lenha e ao chegar na casa de campo, ele a chamou para dentro do quarto para lhe mostrar um ‘negócio’. Ela hesitou em entrar no quarto, mas o idoso insistiu e até lhe questionou se estaria com medo. 

“Eu estava sentindo que não era coisa boa. E aí ele insistiu e falou ‘não, entra aqui’, você está com medo de mim?’ e eu tentei disfarçar e falei ‘não, jamais, não estou com medo de você’. E nessa hora que entrei no quarto, ele tentou fechar a porta, só que grudei o trinco para o lado de dentro e ele puxava, puxava, puxava esse trinco… Aí o trinco arrebentou para meu lado, ele quebrou na minha mão para o lado de dentro e ele [idoso] começou a fechar a porta. Aí começou nosso terror”.

Em um dos vídeos, a vítima diz que o homem a trancou no quarto e lhe disse: ‘eu vou lá matar ela, enterrar ela e depois eu venho matar você’. A partir deste momento, a vítima narra o desespero sofrido para tentar socorrer a amiga e fugir do idoso.

“Só que não sei da onde tirei forças e consegui arrebentar a grade da janela, que era toda cheia de grades, abri ela e pulei. Quando pulei e saí correndo, cheguei perto dela, já era tarde demais, porque ele já veio com a arma e eu gritando ‘amiga, vamos correr, ele vai matar a gente’, aí ele veio com a espingarda e já deu o primeiro tiro, que não pegou em nenhuma de nós duas e nisso nós começamos a correr em volta da casa. Quando a gente correu em volta da casa, ele deu a volta para encontrar com a gente e nessa hora ele encontrou a Jennifer e pediu para ela ajoelhar e dá um tiro na cabeça dela”.

Em um trecho do vídeo, a amiga se emociona ao contar o que vivenciou naquele domingo. Ela relata que teve a mão e todos os dedos cortados pelo idoso. Quando ele conseguiu imobilizá-la pensando que ela estava morta, ela conseguiu visualizar Jennifer sendo carregada na carriola.

Quando recobrou a consciência, ela tentou fugir e foi novamente atacada pelo idoso, que apontou a arma para a cabeça e os dois começaram a lutar. Ela relata que o idoso pediu que ela deitasse no chão e amarrou uma corda no pescoço dela e a enforcou, momento em que perdeu a consciência.

Ela diz ainda que lembra que também foi carregada no carrinho e teve as mãos amarradas, sendo jogada para o meio do mato. Minutos depois, ela escutou outro disparo, levantou-se e fugiu. 

A vítima conta que foi perseguida no meio do mato e o idoso dizia ‘aparece, se não vai ser pior para você’. “Fiquei mais de 3 horas correndo no meio do mato, andei mais de 20 quilômetros para chegar em outra fazenda e ele me perseguiu. Ele passou por mim em uma distância de 2 metros e não me viu, e ele estava com a faca na mão todo ensanguentado porque queria terminar o serviço”, relata. 

A amiga de Jennifer diz que acredita que caso o idoso matasse ela também, iria esconder os corpos e não teria testemunhas, fazendo com que ele pudesse criar várias versões.

Já no mato, após horas de fuga, ela conseguiu se esconder atrás de um canavial e avistou uma casa abandonada. No fim da tarde, um vizinho apareceu para pegar limão no local e nesse momento ela pediu socorro, ainda pensando que a Jennifer pudesse estar viva. 

“Pedi pelo amor de Deus para ele me socorrer, pois já tinham matado minha colega e foi a hora que escutei o último tiro que acho que ele deu nela. Aí corri para ele e falei ‘moço, pelo amor de Deus me ajuda’, porque eu estava nua, machucada, toda ensanguentada, toda acabada e com esperança de vida zero’”, conta.

Após o pedido de ajuda, o homem pediu que ela se escondesse e foi atrás de socorro na vizinhança. Logo, ele retornou com outro vizinho com uma roupa para a vítima e a levou para o hospital. 

Emocionada durante o relato, ela diz que só pensava em Jennifer naquele momento. “E a todo momento eu me perguntando sobre minha amiga. Ficava me perguntando quais as possibilidades que tinham dela estar viva, ninguém me falava nada sobre ela”. 

Por fim, foi no hospital que ela soube do falecimento da amiga e ainda no vídeo relembrou, muito abalada e emocionada, sobre os momentos vividos com Jennifer.

Confira o relato em vídeo:

Desespero e tiros

Imagens de câmeras de segurança mostram que as jovens chegaram à fazenda para realizar um programa sexual por volta das 9h16. Elas aparecem seguindo para um imóvel. O suspeito logo atrás de camiseta azul.

As imagens chegaram em cortes. Às 11h12, uma delas segue para a casa ao fundo da imagem, mas às 11h17, volta correndo gritando: “Amiga vamos fugir”. Na sequência, dá para ouvir a voz do suspeito, mas não é possível entender o que ele fala. Logo em seguida começam os gritos.

Segundos depois, 11h18, é possível escutar o primeiro tiro, depois mais dois tiros, seguido dos gritos. “Meu Deus, Meu Deus”.

Nas imagens, uma delas, gritando e desesperada, luta com o idoso e tenta segurar ou tirar a arma dele. No meio da luta, mais um disparo é feito. A todo momento, a jovem grita para ele sair, e soltar ela. 

Feminicídio e tentativa de feminicídio

Jennifer Gimenes Mongerroti, de 22 anos, foi assassinada a tiros naquela manhã. A amiga dela conseguiu fugir e, mesmo ensanguentada e bastante ferida, se escondeu dentro de um canavial até ser encontrada e socorrida por um vizinho.

As duas haviam ido até a fazenda do idoso que teria prometido R$ 1 mil, sendo dividido R$ 500 para cada pelo programa, mas a real motivação para o crime ainda não foi esclarecida.

Ele acabou preso na madrugada do dia seguinte. Segundo a polícia, o suspeito também teria tentado atrapalhar as investigações, desligando o circuito de câmeras de segurança do local e alterando a cena do crime.

Jennifer foi encontrada morta escondida em meio a mata, ensanguentada com lesão aparente no seio direito. A arma do crime, um revólver Caramuru .22, também foi localizada, assim como 26 munições e uma luneta no guarda-roupas do autor. 

Os pertences da vítima foram dispensados em meio a entulhos atrás da casa, onde havia uma camiseta azul ensanguentada.

Ao vizinho que a salvou, a jovem sobrevivente do atentado contou que já havia feito programa com o autor em outras ocasiões, e que ele sempre ficava ligando e mandando mensagens, pois queria relacionamento sério, mas ela não. Já Jennifer, seria a primeira vez que faria programa com o autor.

O vizinho que salvou a jovem disse na polícia que ela comentou acreditar que o crime pode ter sido premeditado e que não sabe o real motivo.

Ela afirmou ainda que o idoso atirou na cabeça da amiga, depois atirou contra ela e ainda a estrangulou com um fio. A jovem desmaiou e acordou já na mata. Depois, tirou as roupas para não chamar atenção, e o idoso encontrá-la, e se escondeu até ser encontrada pelo vizinho.