‘Vazio e a dor nos acompanharão para sempre’: A 2 dias de julgamento, pai de Sophia pede justiça
Julgamento de mãe e padrasto de Sophia acontece na próxima quarta (4) e quinta-feira (5) no Fórum de Campo Grande
Thatiana Melo, Lívia Bezerra –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
“Vazio e a dor nos acompanharão para sempre”. Esse é o sentimento expressado por Jean Carlos OCampo e Igor de Andrade Trindade – pai e padrasto de Sophia de Jesus Ocampo – torturada e assassinada aos 2 anos, em Campo Grande. O julgamento da mãe e do padrasto da menina começa na próxima quarta-feira (4) e deve terminar somente na noite de quinta (5), no Fórum da Capital.
Nesta segunda (2), a dois dias do júri popular de Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim – mãe e padrasto acusados pelo assassinato da pequena – foi emitida uma nota à imprensa com pedido de justiça.
“Nossa luta é por justiça verdadeira, para que a verdade venha à tona e os réus respondam por seus crimes cruéis e desumanas. Tirar a vida de uma bebê de apenas 2 anos e 7 meses é uma crueldade sem tamanho, e tentar se esconder atrás de desculpas esfarrapadas para parecer inocente é não só covardia, mas também um sinal de desrespeito com a dor que nos causaram”, começa a nota.
Stephanie e Christian estão presos desde a época do crime, que gerou repercussão em Mato Grosso do Sul e em todo o Brasil, em janeiro de 2023. Em dezembro daquele ano, a mãe e o padrasto da menina foram interrogados durante audiência de instrução e julgamento, onde culparam um ao outro pelos fatos.
Logo, Jean e Igor falam que precisam enfrentar a defesa do casal que tentou adiar o julgamento por diversas vezes. “Enfrentamos ainda a defesa dos acusados adiando o júri com estratégias baratas, usando desculpas apelativas e até desrespeitando quem faz tratamento psicológico, tudo para tentar livrar a acusada do crime que cometeu”, afirmam.
Luta continua
Apesar do julgamento que pode condenar ou inocentar Stephanie e Christian, o casal ressalta que a luta pela morte de Sophia não termina nos dias 4 e 5 de dezembro. “O vazio e a dor de não termos nossa filha conosco nos acompanharão para sempre”, ressaltam.
Jean e Igor também reforçam que a batalha enfrentada nesses quase dois anos é contra um estado omisso e município. Os dois citam que não foram vistos pelas autoridades como responsáveis por Sophia por serem um casal homossexual.
“Nossa batalha não é apenas contra os autores diretos desse crime, mas também contra um estado omisso, um município que falhou conosco e que agiu de forma homofóbica ao ignorar nosso pedido de socorro. Não olharam para nós, dois pais gays, como responsáveis que buscavam proteger sua filha, e sim como alvos de preconceito. Não salvaram nossa pequena de uma casa cheia de agressores, torturadores e pessoas maldosas”, diz o pai e padrasto da pequena.
“Lutamos contra o Conselho Tutelar que preferiu colocar seus dogmas religiosos acima da vida da nossa filha, simplesmente por sermos uma família gay. Lutamos contra a delegacia especializada em defesa de crianças, contra os profissionais que atenderam nossa filha no UPA e não acionaram a polícia, contra todos que falharam em protegê-la. Todos esses omissos deveriam estar no banco dos réus”, acrescentam.
Por fim, os dois esperam justiça ao fim do júri popular. “Mas nada nos parou, e nada nos parará. Nossa luta é pela justiça. Pela nossa filha. Por tudo o que ela sofreu e por tudo o que deixaram de fazer para protegê-la. Justiça será feita. #JustiçaPorSophia”, finaliza a nota.
Na última semana, a defesa de Stephanie disse à reportagem do Jornal Midiamax que a mulher era vítima do ciclo de violência e essa será uma das estratégias argumentadas durante o júri popular.
Julgamento de padrasto e mãe de Sophia
O casal está preso desde a época do assassinato, quando Sophia deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, já morta nos braços da mãe, no dia 26 de janeiro de 2023.
Durante o andamento do processo, a defesa de Stephanie tentou por várias vezes a anulação do júri popular, mas teve os pedidos indeferidos pela Justiça. Assim, o julgamento foi mantido para o próximo mês, com 12 testemunhas que devem ser ouvidas pelos jurados e um esquema de segurança reforçado.
A sessão está marcada para iniciar às 8 horas da manhã do próximo dia 4, com permissão da presença do público limitada e por ordem de chegada. Entre as testemunhas arroladas, estão um investigador de polícia, uma médica e um médico legista, que serão ouvidos no primeiro dia.
No dia 4, pela manhã, estão previstas duas testemunhas do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e outras cinco da defesa de Stephanie. E a partir das 13 horas, serão ouvidas as cinco testemunhas de Christian.
Após a oitiva, os réus serão interrogados e, segundo o Tribunal do Júri, podendo se estender até a noite. Para o dia 5 de dezembro, estão previstos os debates da acusação e defesa dos réus, que deverão ocupar todo o dia. Em seguida, ocorre a votação dos quesitos e, por último, a sentença que pode condenar ou inocentar o casal pela morte de Sophia.
Mãe e padrasto foram condenados por maus-tratos a cachorro
Além da morte da pequena Sophia, Stephanie e Christian foram condenados a quatro anos pelo crime de maus-tratos contra o cachorro da família, morto em maio de 2022.
O crime aconteceu entre os dias 1º e 4 de maio, quando o cachorro estava defecando sangue em casa, conforme a denúncia, a mãe e o padrasto de Sophia não buscaram atendimento médico veterinário, deixando o animal sem alimento e amarrado com um fio curto na área de serviço do imóvel. O local estava repleto de fezes.
A sentença foi assinada pelo Juiz de Direito, Márcio Alexandre Wust, que condenou Christian e Stephanie a dois anos de reclusão, cada um, dez dias-multa e proibição de ter guarda de animais. O valor da multa foi fixado em 1/30 do salário mínimo vigente à data dos fatos.
Assassinato de Sophia
Sophia morreu em janeiro de 2023, após passar por várias internações. Assim, as investigações mostraram que a mãe levou a menina até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), já sem vida. A mulher chegou ao local sozinha e informou o marido sobre o óbito.
Além disso, a polícia identificou indícios de estupro na vítima. Ainda durante as investigações, uma testemunha contou que após receber a informação sobre a morte de Sophia, o padrasto teria dito a frase: “minha culpa”.
Também uma das contradições apontadas na investigação é o fato da mãe dizer que antes de levar a filha para atendimento médico, a menina teria tomado iogurte e ido ao banheiro.
Essa versão é contestada pelo médico legista, que garantiu que com o trauma apresentado nos exames, a criança não teria condições de ir ao banheiro ou se alimentar sozinha.
Por fim, a autópsia apontou que Sophia pode ter agonizando por até seis horas antes de morrer. Após o início das investigações, a polícia prendeu o padrasto e a mãe da menina. Eles seguem presos.
Notícias mais lidas agora
- Banco de dados com 201 DNAs de familiares em MS ajuda a colocar fim na busca por desaparecidos
- Deam investiga 7 registros de vítimas de motociclistas assediadores em Campo Grande
- Polícia flagra marido espancando mulher com barra de ferro dentro de banheiro em MS
- ‘Mãe, Jhonathan se matou’: Tiro atingiu testa de vítima e rapaz tentou mentir sobre crime
Últimas Notícias
CNJ arquiva processo disciplinar contra desembargadores do TJMS investigados pela PF
Desembargadores estão afastados do cargo após operação que investiga venda de sentenças ser deflagrada pela PF
Vídeo: Chuva intensa deixa Maracaju alagada e cidade fica parecendo rio em poucas horas
Nesta segunda-feira foram registrados 27,6 milímetros e ainda há previsão de chuva na região
Concurso de sósias do Selton Mello elege candidato inusitado; conheça o vencedor
Ramon venceu o concurso após pedir votos para ser eleito ‘o primeiro sósia negro do Selton Mello’
Senado debate a legalização de jogo do bicho e funcionamento de cassinos
Projeto também permite apostas em corridas de cavalos
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.