Transtornos e sensação de impotência: Campo-grandense viu furto de fios dobrar em 2024

Denúncias de furto de fios aumentaram 103% quando comparado com o ano passado

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População lidou cada vez mais com furto de fios – (Foto: Arquivo, Midiamax)

O furto de fios de cobre caiu na triste rotina dos campo-grandenses em 2024, quando o número de ocorrências dobrou em relação a 2023, com um aumento de mais de 103%. O transtorno pela falta de luz constante e a sensação de impotência com os furtos cometidos em plena luz do dia também revoltaram os moradores da Capital.

O crime é considerado completo, por estar ligado diretamente à dependência química. Isso porque a queima do fio de cobre gera uma renda rápida aos dependentes, com a venda do material dos ferros-velhos.

Em todos os casos, as forças de segurança destacam o auxílio das denúncias da população para combater o emaranhado que envolve o cobre furtado.

Operações e rondas

A GCM (Guarda Civil Metropolitana) de Campo Grande aponta que, em 2024, foram 218 denúncias de furto de fios, sendo 23 flagrantes e média de 18 furtos por mês. Já 2023 encerrou com 107 casos de furto de fios, com uma média de nove furtos mensalmente. Ou seja, neste ano, os campo-grandenses lidaram 2 vezes mais com furto de fios do que no ano passado.

Em números, a Guarda também informou que foram abordadas 90 pessoas, com 52 enviadas para a delegacia.

Além da ronda ostensiva e atendimento às denúncias, a Guarda atua em Campo Grande com ações em ferros-velhos, uma forma de combater a receptação de furtos de fios de cobre. Isso porque, conforme levantado pelo Midiamax, o quilo do cobre pode chegar a R$ 44 em alguns estabelecimentos, que passam a revender esse material a até R$ 70 o quilo para empresas no estado de São Paulo.

A Operação Ferro-Velho foram recorrentes para a GCM e envolve diversas forças da Segurança Pública e outros setores, como PM (Polícia Militar), Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Vigilância Sanitária, Patrulha Ambiental da GCM, Energisa e empresas de telefonia.

Segundo a GCM, de janeiro a novembro, foram desencadeadas 23 Operações Ferro-Velho. Dentro das ações, foram apreendidas 15 armas brancas e 1.500 quilos de fios de cobre sem procedência legal comprovada.

‘Batidas’ em ferros-velhos foram recorrentes na GCM – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

A major Danielle Perete, subcomandante da 5ª CIPM (Companhia Independente de Polícia Militar) explicou que a PM atua de diversas maneiras no combate ao furto de fios. A primeira é no patrulhamento ostensivo das vias e a segunda, nas operações nos locais de receptação.

Ciclo complexo

Esse é o ciclo complexo do furto de fios: criminosos que, muitas vezes, são usuários de droga, furtam os fios, realizam a queima do cobre. Então, com o material extraído, vendem em ferros-velhos e conseguem mais dinheiro para sustentar o ‘vício’ em drogas. Os ferros-velhos, por sua vez, compram o cobre com valor abaixo do mercado e revendem acima para empresas maiores.

Em agosto, o Jornal Midiamax explorou mais afundo a temática de furto de fios e produziu uma série de reportagens em texto e vídeo com três capítulos sobre esse crime. Na primeira, foi abordado o furto em si, trazendo os prejuízos à cidade, à população, além das diferenças entre os tipos de criminosos.

A segunda reportagem explorou a temática da receptação, com destaque para as Operações Ferro-Velho da GCM e a ilegalidade da revenda de fios furtados. Por fim, a série de reportagens expôs a dependência química em drogas como uma das causas do furto de fios. Ou seja, esse crime ultrapassa as barreiras da Segurança Pública e invade os campos da Saúde e até da Assistência Social.

Prejuízos

Quando se entra na temática prejuízos, diversas são as áreas afetadas pelo furto de fios. Um deles é o Trânsito. Rotineiramente, a onda de furto de fios deixa semáforos desligados ou danificados.

Em janeiro, por exemplo, o Jornal Midiamax noticiou que, em mais uma manhã, semáforos de trechos movimentados, como no cruzamento da Avenida Afonso Pena com Rua Rui Barbosa e extensão da Avenida Bandeirantes, estavam desligados ou intermitentes. Um dos fatores que levou a essa situação, com risco de acidentes, foi justamente o furto de fios, conforme informou a Prefeitura Municipal de Campo Grande em nota.

Outro setor também afetado pelo crime é a Saúde Pública. Em maio deste ano, a UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Carlota teve que ter seus atendimentos suspensos por conta da falta de energia. O motivo: fios elétricos da unidade foram furtados.

Empresas também são prejudicadas. A Energisa é uma delas. Conforme informado, foram registrados 70 casos de furto de cabos de energia elétrica no estado, atingindo 1272 clientes, o que resultou em mais de 380 horas sem energia elétrica para os cliente vítimas desse crime.

Serviços de internet e telefonia também foram afetados em grande escala. No mês passado, por exemplo, furto de fios na Vila Sobrinho deixou, pelo menos, 20 bairros e 30 mil clientes em Campo Grande sem acesso a esses serviços.

Perigos

Além de transtornos aos clientes e à concessionária, o crime, explica o coordenador de construção e manutenção da Energisa, João Ricardo Nascimento também representa riscos para quem o comete. “Pois o contato direto com cabos energizados pode ocasionar acidentes graves com choque elétrico e até levar a morte”, esclarece.

Em Campo Grande, Jorge Hermenegildo Staskowian Júnior, de 35 anos, morreu após receber choque de cerca de 130 mil quilovolts, nível de alta tensão. O valor representa mais de 130 mil vezes a tensão da rede de uma residência de 220 volts.

Fios de cobre (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Ele tentou furtar fios da subestação de energia Campo Grande Progresso, próximo ao Estádio Morenão, e deixou 40 mil casas sem energia elétrica.

Para a população que se deparar com fios furtados, as orientações de João Ricardo Nascimento são para não se fazer contato algum com cabos energizados e, ao se depararem com situação de cabo rompido, não se aproximar em momento algum.

Denuncie

Para a major Danielle Perete, essa integração entre as forças é fundamental para garantir o combate efetivo à criminalidade. “Também da população. Então, a gente convida a população que não compre o material furtado. Esse é o primeiro passo para que esse crime não ocorra. Também que denuncie esses crimes pelo 190 com o máximo de características possíveis para que a gente consiga atuar de imediato”, explica.

O subcomandante da Guarda e coordenador de Operações da GCM, Alexandre Pedroso disse ao Midiamax em agosto deste ano que as denúncias são fundamentais para a atuação das forças. “Um grande problema nosso é, justamente, a falta de denúncias da população. Então, se você estiver passando por algum local e flagrar o furto de fios, pode acionar nossas equipes”. O número para contato é 153.

No caso de acolhimento para usuários de droga, a população pode acionar o Serviço Especializado em Abordagem Social, que atua por meio das equipes, 24 horas por dia, nos sete dias da semana, realizando abordagens em todas as sete regiões da Capital. 

As ações são realizadas por meio de buscas ativas, denúncias pelos dois celulares e mapeamento das regiões conforme as demandas, a fim de ofertar os serviços às pessoas em situação de rua. Para denunciar pessoas em situação de rua, basta acionar o Seas pelos telefones (67) 99660-6539 e 99660-1469.

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