O estudante de medicina Taygor Ivan Moretto Pellissari, um dos presos na Operação Sucessione, deflagrada em dezembro de 2023, em Campo Grande, depois de máquinas do jogo do bicho serem encontradas em uma casa no Monte Castelo, ganhou a liberdade na última quarta-feira (24).

Taygor ganhou a liberdade depois de sete meses preso. Ele teve a prisão revogada com medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica pelo prazo de 180 dias. 

“Da análise dos autos, considerando que o acusado foi preso em 05/12/2023, e a despeito de estar sendo processado por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito na Comarca de Ponta Porã/MS, é primário, comprovou residência fixa, ocupação lícita e os crimes pelos quais foi denunciado nos autos principais em apenso não envolvem a prática de violência ou grave ameaça, já tendo sido citado e apresentado sua resposta à acusação, prejuízo não haverá ao deslinde da ação penal”, diz a decisão. 

A soltura foi concedida pela magistrada May Melke do Amaral. Mas, o MPMS (Ministério Público Estadual) foi contra a liberdade. “O Ministério Público manifestou-se pelo indeferimento do pedido de revogação da prisão preventiva e/ou substituição da custódia cautelar por medidas cautelares de natureza diversas ou prisão domiciliar, haja vista persistirem os motivos que a ensejaram, bem como pela ausência de fato novo capaz de modificar a situação fática que reconheceu ser tal medida necessária”.

Denúncia Sucessione

Na denúncia da Operação Sucessione, o deputado é apontado como líder da organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupção, entre outros.

O major Gilberto Luiz, apontado como gerente do grupo, tinha também a responsabilidade de não comprometer o líder, Neno Razuk. Havia um pedido de prisão temporária para o deputado na deflagração da operação, mas foi negado em razão do foro privilegiado.

“Não obstante a presença de fortes indícios de que o investigado Roberto Razuk Filho seja, de fato, líder da organização criminosa, e, embora o próprio crime de organização criminosa (autônomo), bem como os crimes cometidos pela organização criminosa (roubos praticados com o uso de arma de fogo), sejam inafiançáveis, o pedido da decretação da sua prisão temporária é juridicamente inviável diante da imunidade formal que socorre o investigado parlamentar, razão pela qual não resta alternativa senão o indeferimento do pedido em relação a ele”.

Ainda segundo o pedido da prisão negado, é relatado que: “Consigno, porém, que não obstante o pedido da prisão temporária tenha sido indeferido em razão da imunidade formal que impede a decretação da prisão de parlamentar, é certo que o crime de organização criminosa é permanente, e como tal comporta prisão em flagrante, nos termos do art. 303 do Código de Processo Penal, o que escapa à vedação legal e dispensa ordem judicial, podendo ser efetuada pela Autoridade Policial a qualquer momento”.

“Por fim, ressalto que após analisar, uma a uma, todas as medidas acautelatórias previstas no art. 319 do CPP concluo que nenhuma delas será eficaz no caso concreto, tanto que em razão da impossibilidade jurídica de decretação da prisão temporária do representado Roberto Razuk Filho este juízo não decretou nenhuma acautelatória em relação a ele, o que juridicamente seria possível em razão de não ser tal medida alcançada pela imunidade formal que lhe socorre, mas deixei de fazer em razão da ineficácia das medidas em questão, o que indica com total segurança que a decretação da prisão temporária dos demais representados é medida insubstituível e indispensável para a investigação criminal em curso, conforme já fartamente fundamentado acima”, relata o juiz de direito Robson Celeste Candeloro.

Reuniões com Neno

Consta na denúncia que Neno Razuk comprou uma casa, onde os membros da organização criminosa se reuniam todas as segundas, quartas e sextas-feiras. Um dia antes das máquinas do jogo do bicho serem apreendidas no Monte Castelo, foi decidido em uma dessas reuniões que eles ‘iriam para cima’ dos concorrentes.

Ainda de acordo com a denúncia, um veículo Volkswagen Polo, de cor branca, havia sido alugado para cometer os roubos dos malotes. Foram três malotes roubados de ‘recolhes’ do grupo rival, num total de R$ 15 mil.

Com os roubos, o grupo liderado por Neno tinha como objetivo trazer os ‘recolhes’ e apontadores de São Paulo para a organização, e por isso, os assaltos sempre vinham com ameaças aos membros do grupo rival.

Os veículos usados nos roubos aos malotes eram um Volkswagen Polo, um Fiat Pálio e um Hyundai HB20. Ainda segundo a denúncia, o grupo que seria liderado por Neno estava oferecendo além de R$ 4 mil para os ‘recolhes’ mais uma comissão de 5%.

A denúncia fala que “é representativo de uma reunião extraordinária da organização criminosa com todos os responsáveis pelos crimes, para discussão específica sobre fatos que motivaram as práticas (disputa pelo monopólio do jogo do bicho), resultados, planos de contingências, entre outros”.

“Esse comportamento denota expertise do grupo criminoso na atividade ilícita, na medida em que permite que as discussões sobre a prática de crimes ocorram pessoalmente, sem deixar rastros em aparelhos celulares ou permitir a captação das conversas pelo Estado por interceptação telefônica etc., o que resulta da participação de pessoas acostumadas com investigações criminais (policiais)”, diz a denúncia do Gaeco.