A Prefeitura de Ribas do rio Pardo, cidade a 97 km de Campo Grande, emitiu nota esclarecendo suposto caso de uma menina, que tem transtorno do espectro autista, e teve o cabelo cortado em uma creche da cidade.

A nota diz que o fato noticiado “não condiz com a verdade até aqui apurada”. Assim, a prefeitura informou que o caso passou por apuração independente da administração pública.

No entanto, não encontrou elementos que possam indiciar qualquer veracidade do que foi dito pela mãe da criança. Também segundo a prefeitura, a administração irá providenciar a responsabilização dos envolvidos dos eventuais ilícitos administrativos, civis ou penais, como denunciação caluniosa de servidor público municipal no exercício de sua função.

Por fim, a prefeitura disse que repudia qualquer ataque gratuito a servidores púbicos por motivos de cor, crença “ou qualquer outra situação sem prévia checagem de veracidade”. 

Ainda diz que a servidora acusada registrou ocorrência por injúria racial e denunciação caluniosa.

Em contato com a servidora, ela disse ao Jornal Midiamax que é graduada, pós-graduada em Educação Especial, especialista em crianças com transtorno do espectro autista. 

Sobre o caso, explicou que assumiu os cuidados da aluna em questão na segunda-feira (5). Então, disse que brincou com a criança, acolhendo, e quando a mãe foi buscar a filha e a viu pela primeira vez, teve um aspecto impactante. 

“Me olhou estranho. Eu sou preta, eu sinto quando não sou aceita por algum lugar ou alguma pessoa. Muitas pessoas não aceitam negros a frente de uma tamanha responsabilidade. Me apresentei, falei que eu seria nova professora de Educação Especial da criança e ela levou a criança. Na quarta-feira, quando ela foi até a escola, me acusou indiretamente o tempo todo”, afirma.

Acusação

Na terça-feira (6), dia em que a mãe teria visto o corte de cabelo, a monitora informou que fez, como todo professor, os cuidados da higienização pessoal da criança. No momento da higienização, teria perguntado à menina se poderia fazer uma trança e a criança disse que sim. 

Quando a mãe foi buscá-la, disse que tinha um novo laudo e medicação, mas foi orientada a procurar a direção da escola e depois foi embora. 

Às 21h a mãe teria enviado o vídeo à outra monitora dizendo que faltava um pedaço do cabelo da filha.

“Acredito que por eu ser negra, ela rejeitou, não aceitou que fosse eu a monitora da criança. Então, estou sim sofrendo uma injúria racial e eu gostaria de retratação desse caso porque é muito grave, né? Eu sou mãe, sou preta, sou trabalhadeira, sou honesta, minha família sofreu, eu sofri. Tem cinco dias que nós estamos loucos com isso, tomando remédio antidepressivo porque fui caluniada, fui chicoteada pela internet”, lamentou.

A monitora explica ainda que no vídeo apresentado pela mãe, ela segura outra parte do cabelo da criança. 

Outro lado

A mãe da criança afirmou que está decepcionada com a nota divulgada pela prefeitura. “Na nota me acusam de racismo, sendo que em momento nenhum fui racista, só exigi que encontrassem quem fez isso com o cabelo da minha filha”, disse.

Ela explicou que filmou o que a filha disse e mostrou e irá apresentar na delegacia. “Infelizmente ela é só uma criança, não sei se sua palavra vai contar”, afirmou, dizendo ainda que acredita na filha e que continuará tentando entender os motivos de quem cortou os cabelos da criança.

“Agora estão falando de política, sendo que eu não sou de partido nenhum e agora eu que sou racista, sendo que minha família é negra, minha mãe é negra, como eu seria racista? Nossa não faz sentido”, concluiu.