Antônio Matheus de Souza Silva, de 23 anos, preso com álibi em São Paulo, acusado de participar do furto do apartamento do ex-governador Reinaldo Azambuja, no mês passado, saía com amigos para comer quando acabou sendo preso. Antônio está encarcerado na supermáxima da Gameleira, em Campo Grande e teve a liberdade concedida na última segunda-feira (8). 

O furto aconteceu no dia 9 de junho, quando os criminosos invadiram o apartamento do ex-governador e levaram joias, relógios e R$ 30 mil em espécie. Após o crime, os criminosos foram para São Paulo, onde moram, e tentaram negociar os itens furtados com alguns receptadores. 

Já em SP, pouco antes de irem até o comércio de um receptador, no hotel onde estavam hospedados, Italo Alexandre Franca Silvestre, de 22 anos, e outro acusado, identificado apenas como ‘ Bigode’, foram embora para comer, enquanto Davi Morais Saldana, 24 anos, ficou pelo Centro da cidade, visto que tinha a intenção de sair para uma festa. 

Durante o interrogatório na delegacia, ele contou que passou a noite na companhia de Antônio Matheus, pois era o aniversário dele. Depois, Davi foi para um motel e Antônio foi embora sem avisá-lo. 

No dia seguinte, Davi ligou para um dos receptadores para marcar o horário que iriam pegar o dinheiro em troca dos itens furtados e Italo foi buscá-lo no motel. Logo, os dois seguiram para o local combinado após o almoço e encontraram com Antônio no caminho, por coincidência, segundo alegaram no depoimento.

Assim, eles convidaram Antônio para ir junto, mas não deram detalhes do que seria e seguiram para o local. Ao chegar no endereço combinado com o receptador, eles deixaram o carro em um estacionamento e pediram para Antônio comer algo e esperá-los. 

Em seguida, Davi e Italo foram até a loja do receptador e após uma tentativa de negociação seguiram para o carro. Porém, ao saírem do estacionamento foram abordados por policiais civis de São Paulo, momento em que a equipe encontrou dinheiro no veículo e o trio foi preso. Por isso, Antônio é acusado de pertencer à associação criminosa.

Planejamento do furto

Davi relatou em depoimento que já foi preso por dois anos e oito meses em São Paulo e quando saiu, em agosto de 2023, tentou encontrar trabalho, mas devido a sua ficha criminal, não conseguiu. Por isso, usou todas as reservas financeiras e passou a ter dificuldades. Durante o tempo em que ficou solto, reencontrou alguns amigos e recebeu ligações de outros conhecidos.

Há aproximadamente 20 dias, ele recebeu uma ligação de um antigo conhecido do mundo do crime, identificado como Bully e Juan, também especialista em invasão de apartamentos de luxo, preso no Rio de Janeiro pelo mesmo crime. Conforme ele, Bully está preso há muito tempo e já o conhecia de vista, pois morava em um apartamento na periferia. 

Davi ainda disse que as ações dos criminosos sempre buscam vítimas orientais, especialmente chineses, pois sempre guardam dinheiro em casa e não comunicam os fatos à polícia. 

Em relação a Bully, Davi contou que ele usa um aparelho celular na cadeia e passa o tempo planejando crimes de furto qualificado, pois possui acesso a um sistema chamado “Live Busca App”, o qual faz buscas por dados pessoais e consulta onde a pessoa possui conta em bancos e valores pagos em impostos. A partir disso, eles escolhem os alvos e os apartamentos de luxo, mas Bully seria apenas o responsável pelas informações repassadas e receberia parte dos itens furtados.

Durante conversa, Bully fez um convite para Davi dizendo que havia identificado um alvo em Campo Grande, mas Davi contou que sequer sabia onde ficava e que nunca havia ido para a Capital. Então o comparsa disse que a vítima morava na cobertura de um apartamento próximo de um shopping e que era muito rica, pois conforme o sistema Live possuía mais de 30 empresas. 

Logo, Davi se interessou pelo alvo, mas disse que seria necessário alguns valores para financiar a viagem. Como Bully não tinha dinheiro, Davi acionou os comparsas Italo e Bigode, que aceitaram. Assim, Italo ficou responsável por alugar o carro e Bigode pela condução do veículo durante a ação criminosa.

Davi ainda contou que ele e os comparsas viajaram na noite do dia 7 de junho de São Paulo para Campo Grande e conseguiram chegar até Ribas do Rio Pardo, onde decidiram passar a madrugada em um hotel usando nomes falsos. 

No dia seguinte viajaram até Campo Grande para cometer o furto no apartamento, mas ao chegar no local, se depararam com uma câmera de reconhecimento facial na portaria. Com isso, imaginaram que não daria certo pelo fato de ser conhecido em São Paulo. 

Como não tinham um segundo alvo, passaram a transitar pelas proximidades e viram alguns prédios. Em determinado momento, os dois viram um prédio com sacada e uma funcionária mulher na portaria. Logo, pensaram que por ser mulher seria mais fácil de enganá-la, então decidiram invadir o prédio e efetuaram o furto, que durou em torno de 20 minutos.

Liberdade de Antônio

A concessão da liberdade de Antônio foi no dia 8 deste mês e assinada pelo magistrado Robson Celeste Candeloro. Na decisão, o juiz disse: “O acusado apresentou documento que comprova residência fixa, além de bons antecedentes, conforme certidão juntada aos autos. Vislumbra-se que a ordem pública não se encontra violada ou que, de modo concreto, o indiciado apresente real situação de perigo”.

Ainda segundo o juiz, “Até o momento, nada indica que, se ficar solto, impedirá a produção das provas necessárias à instrução criminal e ao deslinde da questão. Deste modo, verifico que não mais estão presentes os fundamentos para manutenção da prisão preventiva”.

Porém, mesmo com o pedido de liberdade concedido, a irmã de Antônio, a microempresária Kelly Silva, por conta de uma burocracia, ainda não conseguiu soltar o irmão.

“Foi expedido alvará de soltura, só que não foi possível a liberdade por impedimento decorrente do processo que iniciou em São Paulo quando houve a prisão”, afirmou o advogado de defesa, Paulo Tarso. O advogado ainda explica que o processo foi remetido para Campo Grande, e por isso, o que estava em São Paulo teria de ser extinto.

Álibi e câmeras de segurança

A família de Antônio Matheus de Souza Silva alega que ele é inocente e que nunca veio para Mato Grosso do Sul. Ele teria um álibi para o dia em que o furto foi cometido. Kelly Souza, de 30 anos, microempresária em São Paulo, conversou com o Jornal Midiamax onde relatou que Antônio era amigo de infância de Ítalo e Davi e que não sabia do crime. No dia do furto, o irmão estava no condomínio onde mora, na Rua Vitória, no bairro Santa Efigênia. “Eu vi meu irmão antes da meia-noite neste dia quando ele estava indo para uma balada e antes de sair me entregou R$ 40, na portaria do prédio”, disse Kelly.

O furto ocorreu no dia 8 de junho, mas só foi descoberto no dia seguinte, domingo (9), quando o ex-governador percebeu ao voltar para o apartamento e ver que a porta havia sido arrombada. Azambuja estava em Maracaju, no dia em que teve o apartamento invadido. Os criminosos usaram a escada de incêndio para entrar e sair do apartamento, não usando elevador para não serem identificados.

As imagens de câmeras de segurança mostram que no dia 8 de junho, às 14h08, Antônio sai na portaria do prédio onde mora, em São Paulo. Ele está de camiseta listrada de azul e short, quando volta às 19h50 para o prédio com as mesmas roupas. 

Por volta da meia-noite e 27 minutos, Antônio é flagrado novamente saindo pela portaria do prédio de camiseta, de cor preta e calça de cor cáqui para ir até uma balada no Tatuapé, segundo a irmã. Além das câmeras de segurança que mostram Antônio na portaria do prédio no dia do furto, ele passou a madrugada do dia 9 na companhia de uma ficante indo para a casa da jovem, que postou fotos nas redes sociais do casal na balada.  

“Ele passou a noite com a menina com quem foi para a balada, e não tinha como ele estar em dois lugares ao mesmo tempo”, disse Kelly, que afirmou que no domingo (9), antes da mãe dos dois ir para o culto, viu Antônio no apartamento dormindo.

Ainda segundo Kelly, o irmão nunca veio para o Estado e o único lugar para onde viajou fora de São Paulo foi para o Nordeste, onde visitou os avós. Antônio é apontado como motorista da dupla que invadiu o apartamento de Azambuja, mas a irmã afirma que Antônio não sabe nem dirigir. “Ele não tem nem CNH e nunca pegou no volante de um carro”, disse. 

Kelly ainda diz estranhar a rapidez com que o irmão foi transferido de São Paulo para Mato Grosso do Sul. “Nós estávamos atrás dele sem saber onde estava e só no dia 19 conseguimos notícias dele”, disse a microempresária. O trio foi preso no dia 10 de junho em São Paulo, por equipes do Garras que conseguiram rastrear o carro alugado, que foi usado para cometer o crime.

Antônio teria ajudado a vender as joias roubadas, segundo a PCMS

Segundo a Polícia Civil, Antônio teria participação no grupo criminoso, o “acusado mencionado foi flagrado recebendo os valores da venda das joias furtadas no apartamento em Campo Grande, junto com os outros dois responsáveis, já identificados (inclusive confessos), pelo furto ora investigado. Sendo assim, o acusado é suspeito de pertencer a referida associação criminosa”, diz PCMS. De acordo com a polícia, o inquérito já foi relatado, mas as diligências continuam.

Contudo, segundo o relatório da Polícia Civil, o trio foi visto por volta das 14h30, dias depois do crime, na Rua Barão de Paranapiacaba, onde há um prédio em que são negociadas joias. Pelas imagens coletadas pela polícia de São Paulo, Davi e Italo entram no prédio de mãos vazias e Antônio fica na frente do prédio.

Momentos depois, a dupla sai do prédio e, em seguida, o trio acaba preso no carro alugado para cometer o furto em Campo Grande, com uma sacola, de cor verde, onde foram encontrados R$ 67 mil da venda das joias. A esposa do dono da loja afirmou que dois homens, sem dizer quem seriam os autores, teriam negociado com seu marido as joias, e que eles não negociavam relógios.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, as imagens de câmeras apresentadas eventualmente pela defesa serão levadas em consideração, após verificar a sua real confiabilidade pelos exames periciais. Mas, mesmo com as imagens, não há isenção da participação de Antônio na associação, seja no levantamento de dados, seja na venda dos bens subtraídos da vítima a receptadores. 

Por fim, a polícia apontou que Antônio é investigado em São Paulo por furto qualificado em diversos outros inquéritos. A família nega que ele tenha passagens.