A Polícia Civil está investigando a morte de Kemilly Vitoria Alves de Oliveira Barros, de 6 anos, que morreu após ter o pulmão perfurado e ficar em estado grave no Hospital Regional da Costa Leste Magid Thomé, em Três Lagoas, a 323 quilômetros de Campo Grande, na última terça-feira (16). 

A mãe de Kemilly relatou aos policiais que a filha estava vomitando e foi levada por ela até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde passou por exames de sangue e urina. Em seguida, o médico disse para a mulher que a criança estava desidratada e com alteração no sangue, sendo que prescreveu uma medicação e encaminhou a menina ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora na segunda (15). 

No hospital, a criança foi medicada com soro e nebulização e passou por um exame de raio-x no pulmão. Como o hospital não estava com vagas disponíveis, ela foi transferida para o Hospital Regional por volta da 1 hora da madrugada de terça (16). 

Já no hospital, a mãe de Kemilly foi colocada em uma sala e entrevistada por uma médica sobre os sintomas da filha. A mesma respondeu que ela apresentava vômitos, diarreia, dores na garganta e na barriga. 

Assim, a médica questionou se a menina já havia sido internada e se era alérgica a amoxicilina e outra medicação que ela não se recorda o nome. A mãe relatou aos policiais que disse para a médica que, quando a criança apresentava dor de garganta, ela medicava a mesma com ibuprofeno. 

Logo, a médica pediu exames de sangue e urina e receitou uma medicação, aplicada na veia. Após a medicação, a criança pediu comida para a mãe, pois estava há dois dias sem se alimentar direito, momento em que a médica respondeu que Kemilly não poderia comer por estar sendo medicada. 

Entretanto, conforme o relato da mãe, a menina reclamava de dores na barriga o tempo todo e, entre as 2h30 às 3 horas da madrugada, uma enfermeira chegou com uma medicação. A profissional disse que o medicamento causaria coceiras na genital da criança e, ao trocar uma medicação pela outra, notou que o braço da vítima estava vermelho e ‘empolado’. Após a troca, a enfermeira chamou a médica. 

Logo a mãe percebeu que a filha estava bastante agitada e a médica foi até ela rapidamente, lhe retirando da sala e dizendo para ir até um corredor mais afastado de onde Kemilly estava. Com isso, a mulher ficou próximo do quarto e questionou o motivo de não poder ficar perto da filha, momento em que a médica teria respondido que iria realizar um pequeno procedimento em Kemilly. 

Em seguida, a mulher percebeu uma correria dos profissionais de saúde se dirigindo ao quarto onde a filha estava internada e escutou um grito. Segundo disse à polícia, o grito era de Kemilly e, logo que escutou, a mulher percebeu a movimentação da equipe. 

Preocupada, a mãe insistiu e a médica foi até ela dizendo que a menina estava em estado grave. No entanto, a mulher estranhou o estado de saúde da filha, já que ela saiu do UPA e do Hospital Auxiliadora bem, e só após a medicação no Regional piorou rapidamente. 

Diante disso, a mulher disse que queria ver a filha, mas a médica falou que não poderia. Portanto, ela conseguiu ver Kemilly somente por volta de 12h, quando a mesma já estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). 

Ao ver a filha, outra médica foi até a mulher e perguntou se Kemilly havia caído, pois o braço e o pulmão dela estavam inchados, e que havia uma perfuração no pulmão. Em vista disso, a vítima ficaria com sequelas, porque havia bastante ar no pulmão.  

Então, a mãe negou que ela tinha caído e disse a filha estava bem na UPA. Somente após ser encaminhada a sala de UTI, conseguiu ver Kemilly intubada e com inchaço. Ao indagar a médica, a mesma respondeu que era devido ao procedimento feito para drenar o pulmão. 

Pouco tempo depois, um pediatra foi até a criança e fez duas perfurações em seu pescoço e na região da costela, saindo em seguida. 

Após esse episódio, a mãe contou que foi buscar seus pertences na sala onde estava quando foi abordada por uma equipe de assistência social, sendo aconselhada a ir para a casa. Contudo, a mulher falou que não sairia do local enquanto a filha estivesse internada. 

Em seguida, uma das assistentes sociais perguntou se a mãe não ia embora “porque o hospital tinha fama de matar crianças”, sendo respondido que sim, segundo consta no boletim de ocorrência.

Após isso, a mãe retornou a UTI e foi impedida de entrar novamente, sendo informada que estava sendo realizado um procedimento em outra criança. Logo, ela foi encaminhada a uma sala onde estava um psicólogo e duas assistentes sociais. 

Na sala, o psicólogo questionou o que havia acontecido com Kemilly, momento em que a mãe respondeu que a filha estava com dores na garganta, barriga e vômitos. Ele perguntou se ela tinha problemas e a mulher respondeu ao profissional que não. 

E no mesmo local, outras duas mulheres, sendo uma médica, informou que a criança sofreu paradas cardíacas e morreu, dizendo que a boca dela estava machucada. Ainda conforme o registro policial, o corpo de Kemilly foi retirado pela funerária e sepultado às 13 horas do mesmo dia. 

Ainda na delegacia, a mulher relatou que a filha nunca teve problemas de saúde e era acompanhada por um posto do bairro São Carlos. Contou também que há aproximadamente um mês, Kemilly realizou exames de rotina, os quais não indicaram qualquer problema grave de saúde. 

A mãe acrescentou à polícia que a filha tinha uma hérnia umbilical e era tratada por uma referida pediatra, tendo indicação de cirurgia, mas que não era doença grave. O atestado de óbito consta que a causa da morte de Kemilly foi uma pneumonia dupla. 

O documento deve ser entregue na delegacia até a próxima segunda-feira (22), bem como as imagens da vítima nas unidades de saúde onde esteve internada. O caso foi registrado como morte a esclarecer na Depac de Três Lagoas. 

Na manhã dessa quinta-feira (18), a mãe da pequena Kemilly publicou um pedido de ajuda nas redes sociais, através de um vídeo, para que seja feita a justiça. Abalada e aos prantos pela partida precoce da filha, a mulher faz um desabafo e afirma que a criança foi vítima de maus-tratos no hospital. 

“Para quem puder me ajudar a faze justiça contra aquele hospital que tirou a vida da minha filha, como tirou a vida de muitas outras crianças… para quem puder, gente, me ajudar, a minha princesa só tinha seis anos”, desabafou a mulher.

Hospital alega que criança deu entrada no hospital com Sepse 

Procurado pela reportagem do Jornal Midiamax, o hospital alegou que Kemilly deu entrada na unidade por volta de 1h46 da madrugada com Sepse, doença potencialmente grave desencadeada por inflamação que se espalha pelo organismo diante de uma infecção avançada. 

Além disso, informou, em nota, que após observação da equipe médica, precisou ser entubada às 4h32 por apresentar sinais de hipertensão e queda de saturação mesmo com máscara de oxigênio. 

Posteriormente, os médicos precisaram intervir novamente para fazer uma passagem de dreno, sendo que no período da tarde evoluiu para a parada cardiorrespiratória, levando a morte da criança.

Confira a nota na íntegra: 

“O Hospital Regional da Costa Leste Magid Thomé, em Três Lagoas (MS), informa que recebeu por demanda regulatória, na madrugada da última terça-feira (16), por volta de 1h46, paciente de 6 anos com quadro de SEPSE – doença potencialmente grave desencadeada por inflamação que se espalha pelo organismo diante de uma infecção avançada. O atendimento realizado nesta unidade não foi primário, tendo em vista a necessidade de regulação. A paciente havia sido atendida, anteriormente, por outras duas unidades locais de saúde.

Após ser medicada e observada por profissionais de plantão, às 4h32 houve a necessidade de entubação, uma vez que a criança apresentava sinais de hipertensão e queda de saturação mesmo com máscara de oxigênio. Às 6h30, nova intervenção foi realizada, desta vez, o cirurgião pediátrico realizou passagem de dreno, por Pneumotórax. Após estes procedimentos, às 8h45, a paciente foi levada à UTI Pediátrica. No leito, às 13h20, foi realizada nova passagem de dreno, também no pulmão direito, necessária a partir do quadro clínico do momento. Às 16h a paciente evoluiu para parada cardiorrespiratória, e mesmo com o esforço dos profissionais, veio à óbito às 16h58.

A direção do Hospital Regional da Costa Leste Magid Thomé lamenta o falecimento da paciente e se solidariza com familiares e amigos. Mantém canal aberto para diálogo e está à disposição das autoridades e órgãos competentes para fornecimento de informações técnicas detalhadas e demais esclarecimentos.”