‘Meu irmão acordou para morrer’, diz irmã de jovem assassinado em briga por som alto no Homex

Pai e filho encaram júri popular mais de 4 anos após assassinarem Lucas Assis de Oliveira no Homex

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Vivaldo Pereira de Alenca, absolvido pelo assassinato de Lucas – (Foto: Nathalia Alcântara)

Quatro anos e oito meses separam o homicídio de Lucas de Assis Oliveira, de 25 anos, do julgamento dos acusados, Vivaldo Pereira de Alencar, de 61 anos, e Willian Vivian Martins de Alencar. Pai e filho encaram o júri popular nesta sexta-feira (25), em liberdade. Para a família, a morte da vítima deixa um vazio que nunca será preenchido.

A irmã, Fabiana Assis de Oliveira, explicou que Lucas era o caçula da família e esperava outro filho quando foi assassinado. “A gente enterrou ele em fevereiro, a esposa dele estava gestante de 8 para 9 meses, o bebê nasceu morto. Não perdemos só um irmão, mas um esteio, porque era ele que corria com meu pai para o hospital, era ele que cuidava do filho dele, que quando faleceu ele tinha quatro anos. Então assim, meu irmão não fazia maldade para ninguém”, relata.

Fabiana de Assis, irmã de Lucas – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Conforme a denúncia do Ministério Público, Vivaldo estava com um pedaço de madeira para agredir Lucas e Douglas, enquanto Willian portava arma de fogo. O pai esteve presente nesta manhã e ocupou o banco de réus do Tribunal de Júri, enquanto o filho prestou depoimento por videoconferência, por trabalhar no estado de Rondônia. “Não bati em ninguém. Quem tá acusando aí é uma cambada de mentiroso”, afirmou o idoso.

Vivaldo também disse que Lucas e Douglas eram “favelados” e “vagabundos que não trabalhavam”. Fabiana nega. “Meu irmão não fumava, meu irmão não bebia. Ele tinha 25 anos, ele chegou duas horas da manhã, ele foi descansar, a discussão começou entre os vizinhos, ele foi apartar, ele acordou para morrer”.

Fabiana de Assis Oliveira confirma que Lucas e os autores tiveram discussões anteriores, mas por conta de água na ocupação da Homex. “Eles tiveram uma discussão por causa de água logo que abriu a favela lá, uma coisa assim. E porque assim, o Vivaldo tinha mania de pegar: ‘Eu mando aqui, eu mando’. E o Lucas nunca dividiu nada”, explica. Ela estava há dois anos sem ver o irmão quando Lucas foi assassinado.

Legítima defesa e desaparecimento

O advogado de Vivaldo e Willian, Amilton Ferreira de Almeida, explicou ao Jornal Midiamax que a defesa pede legítima defesa. “Verdade [que a discussão foi] por conta de som alto, mas tem muitas divergências que nós vamos deixar esclarecido hoje aqui em plenário. Nós vamos alegar a legítima defesa real e a legítima defesa de terceiros, porque o filho foi defender o pai que estava apanhando, sangrando muito”, relata.

Uma situação que marcou a semana anterior ao julgamento foi o desaparecimento de Vivaldo, publicado pela família nas redes sociais. O idoso foi dado como desaparecido no dia 15 de outubro, e localizado no último dia 17. Conforme Amilton Ferreira de Almeida, o desaparecimento se deu por sequelas da Covid-19.

Advogado Amilton Ferreira de Almeida – (Foto: Nathalia Alcântara)

“É questão psicológica que não tem muita coisa a ver com esse crime, é questão. Ele pegou um Covid em 2021, salvo, ficou internado por muito tempo, teve que aprender a andar novamente então, de vez em quando, dá esses brancos nele e ele some. Por coincidência do júri, tinha sumido e nós tivemos que ir atrás dele, achá-lo, mas não tem nada a ver com os fatos aqui apurados”, comenta.

O caso

O crime ocorreu em 16 de fevereiro de 2020 quando Douglas e os autores, que eram vizinhos, iniciaram uma discussão por conta do volume do aparelho de som. William efetuou disparos contra Douglas, mas não o acertou. William tentou fugir quando Douglas jogou uma pedra em sua direção para evitar a fuga. Vivaldo com um pedaço de madeira teria agredido Douglas.

Nesse momento, Lucas tentou apartar a briga, quando Willian voltou e atirou contra Lucas e Douglas. Ambos foram socorridos, mas Lucas morreu. 

Segundo a denúncia, o crime foi cometido por motivo torpe, em vingança por conta da desavença anterior devido ao som alto, e recurso que dificultou a defesa da vítima. Willian chegou a dizer que era ameaçado por Lucas, que ele havia brigado com seu pai. Disse que a discussão entre a vítima e seu pai era por conta do consumo de água, já que o local era uma ocupação. 

Ao chegar em casa na madrugada daquele dia, William disse que pediu para que Lucas e Douglas abaixasse o volume do som, sendo que Lucas teria dito que ia lá dentro e já voltava. O pai chegou e pediu para o filho ir embora.

Ao olhar no retrovisor do carro, teria visto o pai sendo agredido pela dupla. Ao ver o pai caído e sangrando, Willian teria dado ré e desceu com a arma na mão. Lucas teria sacado uma arma preta e então, para se defender, Willian atirou contra Lucas, e disse que não tinha intenção de acertar Douglas.

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