Mais de 40% das armas que entram no Paraguai vão parar nas mãos de facções criminosas brasileiras

Em volume, as armas de paradeiro desconhecido poderiam abastecer 100% das Forças Armadas ou 80% da Polícia Nacional

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Armas entram e desaparecem do Paraguai (Foto: reprodução, Senad)

A Dimabel (Direção de Material Bélico) fez uma denúncia formal nessa quinta-feira (24) ao Ministério Público sobre uma rede de tráfico de armas que envolve 55 membros da Polícia Nacional e 46 militares do exército do Paraguai.

Levantamentos mostram que grande parte dessas armas que entraram legalmente no Paraguai podem estar a serviço do PCC (Primeiro Comando da Capital) e também do CV (Comando Vermelho).

Dados do órgão revelam que cerca de 100 armas foram entregues ao crime organizado no Brasil. Ao todo, nos últimos anos 17.369 armas entraram legalmente no Paraguai e depois desapareceram.

“Tecnicamente, trata-se de uma apresentação de prova documental sobre uma suposta comissão relacionada ao livre tráfico de armas ilícitas”, afirmou o ministro da Defesa, Óscar González, durante entrevista à imprensa paraguaia.

De acordo com investigações preliminares, os envolvidos cobraram cerca de G. 800 mil guaranis para emprestar seus nomes para as organizações criminosas brasileiras. Segundo as autoridades, paraguaias, os agentes foram ‘recrutados’ por comerciantes que importam armas.

Conforme as autoridades paraguaias, esses mesmos dados indicam que as armas estariam a serviço de organizações criminosas que atuam nas cidades que fazem fronteira com o Brasil. Isso representa 41% das armas importadas legalmente pelo país nos últimos quatro anos, que chegaram a 41 mil unidades.

Daria para abastecer o exército

Em volume, as armas de paradeiro desconhecido poderiam abastecer 100% das Forças Armadas ou 80% da Polícia Nacional. A estimativa faz parte do SID (Sistema Integrado da Direção de Materiais de Guerra), utilizado para a rastreabilidade de armas desde a importação até o comprador ou usuário final.

As pistolas e fuzis entraram legalmente através dos importadores. Em seguida, foram vendidos por eles para casas comerciais. Neste ponto, a trilha se perdeu. As casas não conseguiam justificar nas vendas a inexistência das armas nos seus armazéns e em muitos casos fecharam, desaparecendo, assim como as armas.

Os números revelam também que cerca de 22 lojas, de modestas casas de caça e pesca a distribuidores de multiprodutos, foram as que, entre 2022 e 2023, permitiram a fuga de 17.369 armas do mercado legal para o mercado ilegal.

Armas que, segundo o SID, deveriam estar em armazéns de algumas dessas casas foram apreendidas no Brasil.

No centro das operações estão Assunção e Central, que apresentam o maior número de vazamentos de armas, com 11.939 unidades. Em seguida vem Amambay com 3.813 e, por fim, Alto Paraná com 1.617.

Pedro Juan lidera ranking

Pedro Juan Caballero detém o recorde. Em uma única casa comercial é responsável pela perda de cerca de 3.813 armas. Sob este mesmo modus operandi, existem 6 casas em Assunção que não podem responder pelo paradeiro de 3.412 armas.

Em San Antônio são 2.030, num local que, longe de ser um local de armas, é endereço de venda de roupas de uma rede de ofertas.

Em San Lorenzo, dois shoppings em nome do mesmo proprietário totalizam 2.950. Em Limpio, três chegam a 2.190. E em Ciudad del Este, cerca de 5 casas somam 1.617. Enquanto em Capiatá, um local é responsável por cerca de 769. E por fim, Lambaré acrescenta mais 542 armas.

Dados da PRF

A base da PRF (Policial Rodoviária Federal) de Foz de Iguaçu, somente neste neste ano, apreendeu 73 armas do Paraguai, identificadas pelas marcas de entrada no país fornecidas por Dimabel.

A maioria foi encontrada em fundos falsos em veículos ou com mulas, que geralmente são pessoas de baixa renda que são recrutadas por organizações criminosas. “Vimos mulheres com bebês pequenos tentando passar armas presas ao corpo”, conta uma agente da PRF.

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