‘Juntou a fome com a vontade de comer’, diz assistente de acusação sobre mãe e padrasto de Sophia em júri
Janice Andrade falou que única vítima é Sophia e que o casal acusado se complementa
Layane Costa, Lívia Bezerra –
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A advogada Janice Andrade, que atua como assistente de acusação no julgamento de Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim – mãe e padrasto de Sophia Ocampo, de 2 anos – disse que a única vítima do caso é a pequena Sophia, pois o casal se complementa.
A fala da advogada ocorreu durante a réplica do júri popular que ocorre no fim da tarde desta quinta-feira (5) no Fórum de Campo Grande. Ao iniciar a acusação, Janice comenta que durante os debates foi falado bastante sobre Jean Ocampo – pai de Sophia –, contudo os únicos acusados são Stephanie e Christian.
“Muito se falou do Jean, mas o Jean hoje não está sendo julgado, porque eles (Stephanie e Christian) estão sendo julgados aqui pelo assassinato de Sophia. Não é o Jean por traição, por ausência de pagamento de pensão, são os acusados de matarem uma criança de 2 anos e sete meses”, falou a advogada.
Logo, Janice também mencionou a violência doméstica citada como estratégia de defesa por parte de Stephanie e afirmou que a mulher é apenas genitora de Sophia. “Agora, eu conheço o perfil do agressor e como deixo ele ser babá da minha filha? A gente quando é agredida liga para polícia ou por 180. Aqui não tem nenhuma vítima, eles se complementam, juntou a fome com a vontade de comer. Mãe não, genitora, porque a mãe dá a vida para uma filha”.
“A violência dos dois acusados é uma violência normalizada. Aqui não tem vítimas, quem é a vítima é a Sophia. Como que coloca uma genitora como vítima?”, questionou também a assistente de acusação.
A advogada ainda mencionou a falta de socorro à Sophia naquele 26 de janeiro de 2023, principalmente o fato de que Stephanie estudou fisioterapia e não soube dizer se a filha estava morta. “Eu queria entender como uma mãe não presta socorro para uma filha, chega na UPA ‘dura’. Ela não é uma leiga, ela fez oito semestres de fisioterapia, você conhece a anatomia”, disse Janice Andrade.
Por fim, Janice pede aos jurados: “A Sophia merece justiça, nada trará ela de volta, mas ela merece justiça. Eu só peço para vocês ouvirem o choro da Sophia, ela não foi ouvida enquanto estava viva e merece ser ouvida pelo Estado, pelo menos agora. Ela ficou um ano sendo torturada e não foi ouvida”.
Promotor se dirige ao pai e diz: ‘Eu não queria nunca ser a Sophia’
Logo após a fala da assistente de acusação, foi a vez do Promotor José Arturo Bobadilha, do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), que se dirigiu ao pai de Sophia que está na plateia do Tribunal do Júri acompanhando o julgamento.
“Não respeitaram o seu sentimento de pai, de genitor, não tiveram a dignidade de respeitar o senhor, mas eu estou derradeiramente para expor as verdades. Eu não queria nunca ser a Sophia de Jesus Ocampo, fica em meu nome e da minha instituição a minha admiração e respeito ao senhor”, falou o promotor ao Jean Ocampo.
Defesa de padrasto de Sophia mostra áudio em que Christian admite culpa ao receber notícia da morte
Durante o debate da defesa de Christian, os advogados Renato Cavalcante e Willer Souza mostraram um áudio enviado pelo padrasto de Sophia em que ele admite ser culpado da morte da menina.
Ainda, o ciclo de violência usado como estratégia pela defesa de Stephanie também foi citado pelos advogados de Christian durante o debate na tarde desta quinta-feira (5). “O fato aqui é que se julga homicídio, mas até que ponto vamos voltar no tempo para tentar justificar uma condenação tão grave”, disseram aos jurados.
Morte de Sophia fica em 2º plano e defesa tenta justificar omissão de mãe citando violência doméstica
Desde o início do júri popular, a defesa de Stephanie usa o ciclo da violência doméstica como uma estratégia para convencer aos jurados. Inclusive, durante os debates, uma das advogados afirmou que “existia uma Stephanie antes e existe uma depois (de Christian)”.
Já o advogado Alex Viana disse em plenário que não houve omissão por parte de Stephanie, justificando que ela não poderia fazer nada por estar em vulnerabilidade devido a violência doméstica. “Se ele tivesse te matado, se você tivesse morrido, você seria heroína”, falou em defesa da cliente.
Ainda nos debates da defesa de Stephanie, a advogada Herika Ratto chorou ao dizer que foi vítima de violência doméstica, assim como a cliente. Com isso, mais uma vez a morte de Sophia ficou em segundo plano.
Em sua tese de defesa, a advogada comentou que foi vítima de violência doméstica por nove anos. “Ao ponto de atingir o meu próprio filho, sabe oq eu fiz?! Nada. A Stephanie hoje está vestindo a minha roupa e eu poderia estar sentada ali no lugar dela”, relatou.
Segundo e último dia de júri ‘polêmico’ deve ter 12 horas de duração
Na manhã desta quinta (5), Christian foi interrogado durante 1h30, negou as acusações de agressões e estupro contra a menina e encerrou seu depoimento chorando. “Não tive tempo de me despedir da Sophia”, disse em plenário.
Logo, iniciaram os debates com a promotora Lívia Carla Guadanhim, do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e ao fim da sessão o Juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, conversou com a imprensa.
Na ocasião, o magistrado disse que a expectativa é que o julgamento se encerre até às 20 horas da noite desta quinta (5). “Hoje os trabalhos estão fluindo bem e eu acredito que até às 20 horas se encerra o julgamento”, disse Aluizio.
Assassinato de Sophia
Sophia morreu em janeiro de 2023, após passar por várias internações. Assim, as investigações mostraram que a mãe levou a menina até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), já sem vida. A mulher chegou ao local sozinha e informou o marido sobre o óbito.
Além disso, a polícia identificou indícios de estupro na vítima. Ainda durante as investigações, uma testemunha contou que após receber a informação sobre a morte de Sophia, o padrasto teria dito a frase: “minha culpa”.
Também uma das contradições apontadas na investigação é o fato da mãe dizer que antes de levar a filha para atendimento médico, a menina teria tomado iogurte e ido ao banheiro.
Essa versão é contestada pelo médico legista, que garantiu que com o trauma apresentado nos exames, a criança não teria condições de ir ao banheiro ou se alimentar sozinha.
Por fim, a autópsia apontou que Sophia pode ter agonizando por até seis horas antes de morrer. Após o início das investigações, a polícia prendeu o padrasto e a mãe da menina. Eles seguem presos.
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