Golpe do câncer: Mulher diz não ter recebido nenhum centavo e aponta briga familiar

Mulher acusada de fingir câncer para os familiares procurou a reportagem, mas não mostrou documentos de suposto tratamento

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(Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Na última terça-feira (15), um caso de estelionato gerou repercussão entre os leitores sul-mato-grossenses. Isso porque uma mulher foi acusada de deixar um prejuízo de mais de R$ 40 mil ao aplicar golpe do câncer, fingindo ter a doença, para conseguir dinheiro dos familiares em Campo Grande. 

A irmã da acusada foi quem procurou a delegacia para registrar boletim de ocorrência e informar sobre o golpe. A mãe da mulher também procurou a polícia para denunciar a própria filha por perseguição após um pedido de R$ 80 mil.

Porém, a acusada do estelionato procurou a reportagem do Jornal Midiamax para apresentar a sua versão da história, que começou em dezembro de 2023, quando ela perdeu o marido de 39 anos, vítima de infarto fulminante. 

Meses antes da morte do companheiro, em junho, a mulher alega ter sido diagnosticada com câncer, pois foram encontrados dois nódulos malignos em seu intestino reto. Posteriormente, descobriu um nódulo inoperável no rim e outro no útero, sendo que precisou retirar o útero.

No entanto, nenhum laudo foi apresentado por ela à equipe de reportagem, pois a mesma alega que os documentos e exames estão na casa de sua mãe. Como possui medida protetiva em seu desfavor, ela afirma que não consegue acessá-los.

Ela disse que a irmã que registrou o boletim de ocorrência acompanhou parte do tratamento oncológico e ajudou com uma quantia de R$ 100 a R$ 200 por alguns meses. Depois disso, ela deu continuidade ao tratamento, mas não quis expor a situação nas redes sociais, esclarecendo o fato noticiado anteriormente de acordo com o registro policial. 

“Ela alega muito que eu não publiquei nada na internet, porque eu escondia. Mas, eu sempre quis todos os dias esquecer o problema de saúde que eu tinha, porque eu falei ‘vai passar, eu vou me levantar”, explicou. 

Luto e brigas

Bastante abalada, a mulher disse que seu marido era autônomo e morava de aluguel, mas após uma longa insistência da irmã, ambos resolveram comprar uma casa a preço de R$ 700 mil na Vila Planalto. Porém, como o esposo não tinha renda fixa, a irmã dela ofereceu para que o contrato fosse realizado no nome dela. 

Contudo, para dar a entrada na venda, ela precisou sair do emprego – onde atuava como supervisora de compras – com o marido e seus dois filhos, para receberem o acerto e juntar o valor necessário. Conforme a versão dela, eles conseguiram juntar o valor de entrada e chegaram a arrecadar cerca de R$ 200 mil para pagar o imóvel. 

Mas, foi no dia 19 de dezembro de 2023 que a vida da acusada mudou, quando recebeu a notícia do falecimento do companheiro. Ela afirma que ficou uma prestação de R$ 4 mil mensal, mas não conseguiu pagar, já que estava desempregada. 

Viagens e pedido de dinheiro

Posteriormente, a mulher viajou com um de seus filhos para Recife, mas retornou ao estado sul-mato-grossense. Em outro período, ela foi para Recife novamente, onde morou por dois meses de favor em um flat até que conseguisse reorganizar as finanças. Durante esse tempo, ela afirma que tentou pedir ajuda aos familiares, mencionando a acusação da mãe que diz que a filha exigiu R$ 80 mil para ela, a ameaçou e solicitou medidas protetivas em seu desfavor. 

“Eu pedi para fazer empréstimo, mas ela negou. Eu não ameacei ela, mas insisti porque ela tinha condições”, disse a mulher à reportagem.

Como não conseguiu mais pagar as parcelas do imóvel adquirido na Vila Planalto no nome da irmã que lhe acusa, a situação foi se agravando e as duas passaram a não se falar mais, a ponto dela ser despejada da casa. “Ela falou ‘eu sugiro que você só pegue suas roupas do corpo e deixe toda a benfeitoria que você fez que eu vou negociar’”, contou. 

Após não conseguir negociar com os familiares e não ter onde morar, a acusada passou a residir na casa da sogra, onde recebeu a equipe do Jornal Midiamax para dar sua versão dos fatos.

Além da briga familiar durante todo esse período, a mulher alega que descobriu uma traição de sua mãe, o que acredita que a revoltou e motivou o registro do boletim de ocorrência por ameaça. Mas, a maior batalha nos últimos meses é o luto pela perda do marido que, segundo ela, era sua base. 

“Eu nunca quis abrir a boca até a advogada falar. Eu não tenho advogado e nunca quis mexer nisso, porque tenho vergonha. Para mim, isso é briga por dinheiro”, diz. 

Hoje, ela acredita que a irmã usou de sua fragilidade do câncer e da perda do marido para conseguir dinheiro. Acusada de lucrar R$ 40 mil com o golpe, ela nega a acusação e diz que nunca recebeu nenhum valor deste mencionado no registro policial. A servidora de compras também nega que seus familiares tenham raspado a cabeça, como afirmado pela advogada da irmã anteriormente.

Agora, a mulher – afastada por motivo de doença pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) – confecciona bolsas de crochê para tentar levantar R$ 7 mil para ir embora de Mato Grosso do Sul com os filhos. “Eu estou dentro de um quarto trancada 24 horas por dia fazendo meu artesanato, porque eu preciso levantar R$ 7 mil para ir embora”, finalizou.

Durante a entrevista à reportagem, a acusada alega que o tratamento oncológico foi realizado em um hospital particular de Campo Grande. Por isso, o Jornal Midiamax acionou a unidade acerca do tratamento, mas foi informado que informações relacionadas a pacientes não são repassadas. 

“Temos como política não repassar informações relacionadas a pacientes, visando preservar sua integridade e de seus familiares. Ressaltamos que tanto para assistência como para tratamentos, seguimos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas baseados em evidência científica”, disse em nota.

Golpe do câncer

A vítima foi até a delegacia acompanhada de sua advogada e relatou que no dia 15 de agosto, sua irmã disse que estaria com câncer no reto, útero, ovário e rim, em estágio grave e deixou toda a família preocupada. 

A mulher teria passado por uma cirurgia para retirada de nódulos e realizava quimioterapia, sendo necessário raspar a cabeça devido à queda de cabelo. 

Segundo o registro policial, a estelionatária contou para a irmã que seu plano de saúde não estaria cobrindo os custos dos medicamentos. Com isso, os familiares se mobilizaram para arrecadar fundos para auxiliar no tratamento.

Ainda conforme o relato da vítima na delegacia, a irmã teria saído de seu emprego em março deste ano devido à doença e perdeu o plano de saúde, o que aumentou ainda mais as despesas. 

Assim, familiares e amigos fizeram vários empréstimos para ajudar a suspeita com as despesas durante esse período. Inclusive, a vítima ajudou a irmã com R$ 40 mil para o suposto tratamento médico. 

Contudo, no dia 1º deste mês, a vítima relata ter descoberto que o tratamento era uma farsa após receber a foto de um suposto laudo médico e ir até o hospital averiguar. 

No hospital, a equipe constatou que houve uma fraude no documento, pois o médico que teria fornecido o laudo não reconheceu o mesmo, além do nome da estelionatária não constar no cadastro de banco de dados de pacientes que realizam tratamento relacionado ao câncer. 

Após a descoberta, a vítima continuou procurando os exames da irmã e constatou que os mesmos não apontam nenhum diagnóstico de câncer, concluindo que as alegações da familiar foram feitas apenas para ‘arrancar’ dinheiro da família e amigos. 

Na delegacia, a mulher contou que apenas os valores arrecadados por ela totalizam em média R$ 40 mil, fora os outros familiares. Ou seja, possivelmente o valor ultrapassa os R$ 40 mil.

O caso foi registrado como estelionato e falsidade ideológica na 6ª Delegacia de Polícia Civil.

Advogada disse que familiares da acusada teriam raspado a cabeça

Conforme a advogada Bruna Garcia, que representa a irmã da acusada, a família está bastante abalada com a situação. Alguns familiares chegaram a raspar a cabeça em gesto de solidariedade, sem saber do golpe do câncer.

A mulher teria informado à família que estava com câncer há pouco mais de um ano. “Disse que o plano de saúde não arcaria com os custos dos medicamentos, e a família se comoveu e começou a ajudar”, explicou.

Denúncia de perseguição

A mulher procurou a delegacia no dia 28 de setembro, onde relatou que a filha estava morando em Recife e fazia tratamento oncológico e psiquiátrico há 1 ano. Neste período, a mulher passou a pedir dinheiro aos pais, já que não trabalhava.

Ela chegou a exigir R$ 50 mil em um primeiro momento e depois pediu R$ 30 mil, sendo que os pais negaram o dinheiro. Com isso, passaram a ser ameaçados pela própria filha. “Eu sei que estou errada, mas a única forma de conseguir dinheiro é jogar sujo”, disse a mulher. “Vou falar mal de vocês para toda a família”, teria dito aos pais, fazendo ameaças.

Em julho deste ano, a mulher voltou a morar em Campo Grande e intensificou seus pedidos de dinheiro, de modo a causar transtornos para os pais, pois ambos já estavam prestando toda assistência financeira. Após as ameaças, a mãe resolveu procurar a delegacia e pedir por medidas protetivas contra a filha.

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