Fotógrafo acusado de assédio sexual usa ‘atentado’ e juiz determina censura sobre o caso

Advogado do fotógrafo de Campo Grande alega que suposto ‘atentado’ pode identificar o cliente

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Imagem ilustrativa (Madu Livramento, Midiamax)

Dois dias após publicação no Jornal Midiamax sobre grave relato de assédio feito por uma estudante, por parte de um fotógrafo de Campo Grande, a reportagem inicial foi censurada. A decisão judicial impõe multa de R$ 1 mil por dia caso a matéria seguisse no ar e foi tomada com base na alegação do advogado do empresário, de que ele poderia ser identificado.

O Jornal Midiamax não citou na reportagem inicial o nome do fotógrafo, que foi alvo de denúncia por uma vítima no dia 28 de outubro na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Também não informou o bairro onde fica o estúdio do empresário.

Diferente de outros meios de comunicação de Campo Grande, o Midiamax se preocupa em preservar tais informações, para, principalmente, preservar a vítima.

Ainda assim, o advogado Gustavo Passarelli relatou na petição que caso de suposto atentado ao estúdio do fotógrafo, que ocorreu no dia 29 de outubro, um dia após o registro de boletim de ocorrência na Deam, pode identificar o empresário.

O advogado cita que o inquérito policial sobre o suposto atentado não está em segredo de justiça e que “qualquer pessoa que venha a consultar os autos” poderá identificar o fotógrafo. Vale lembrar que o acesso a inquéritos policiais e boletins de ocorrência não é aberto a público.

Ainda mais, ao invés de solicitar que tal inquérito fosse colocado em sigilo, o advogado pediu pela exclusão da reportagem do Jornal Midiamax, que trata de uma denúncia grave de assédio sexual.

Também alega o advogado que o fotógrafo é “atualmente um dos fotógrafos mais conhecidos da cidade, do Estado”. Com tais alegações, convenceu o magistrado a determinar a retirada da publicação do ar.

Determinação censura matéria

A petição foi feita pelo escritório do advogado Gustavo Passarelli no fim da tarde de quarta-feira (27), um dia após a publicação da matéria, feita com relato da vítima. Um dia depois, na quinta-feira (28), decisão da 15ª Vara Cível de Campo Grande concedeu liminarmente a tutela de urgência.

Tal decisão determina a exclusão da reportagem do site, bem como nas redes sociais, como Facebook e Instagram. Ainda conforme o magistrado, fica fixada a multa de R$ 1 mil. Com isso, a reportagem foi removida do ar pelo Midiamax, logo após a citação, cumprindo com a decisão judicial.

Vítimas denunciam casos de assédio

“Eu fiquei paralisada”, disse uma empresária de 33 anos que também foi vítima de um famoso fotógrafo de Campo Grande, acusado de assédio sexual. O ano era 2011 quando a empresária e um grupo de amigas que se formavam compraram um pacote de fotos profissionais para usarem após a formatura. Na época, as jovens tinham 20 anos.

A empresária disse ao Midiamax que, quando chegou a vez dela fazer as fotos no estúdio, o fotógrafo pediu para que tirasse a blusa para um ensaio mais sensual, o que ela achou estranho, já que as fotos eram profissionais. Então, ela não tirou a blusa.

Ainda assim o fotógrafo insistiu e falou para a empresária levantar um pouco a saia para “ficar mais sexy”, nisto ele foi até ela e levantou a saia passando as mãos em suas partes íntimas. “Neste momento fiquei paralisada, perplexa, sem saber o que fazer”, disse.

“Criei muitas coisas na minha cabeça. Cheguei a achar que estava imaginando coisas”, disse a empresária que já soube por amigas que outras mulheres passaram pelo mesmo que ela.

Na época, a empresária disse que não registrou boletim de ocorrência, mas sabe que é necessário denunciar. “Não podemos nos calar”, disse a empresária que afirmou que o fotógrafo é influente e faz ensaios e fotos de famílias da alta sociedade de Campo Grande.

Caso mais recente

Estudante denunciou um fotógrafo de Campo Grande por abuso sexual durante um ensaio, no dia 25 de outubro. O caso está em investigação pela Deam.

À reportagem do Jornal Midiamax, a vítima contou que foi até o estúdio para realizar fotos profissionais para a sua formatura. Durante o ensaio, ocorreram os abusos e, segundo ela, o fotógrafo chegou a filmar.

Com isso, ela procurou a Deam e registrou boletim de ocorrência contra ele. “Tenho todas as provas de conversas com ele. Eu passei por uma situação muito difícil lá no estúdio, pois lá dentro, sozinha, não tive reação alguma. Apenas ele fez tudo que queria fazer e eu só obedeci para poder sair logo de lá. Eu paralisei, só queria que acabasse logo”, afirmou a mulher.

Desde então, a investigação corre em sigilo. Ainda assim, a mulher procurou a reportagem por se sentir revoltada, já que o fotógrafo está em liberdade.

Assim, ela contou que o suspeito prestou esclarecimentos na delegacia e teria alegado à polícia que foi contratado para realizar fotos sensuais. Com isso, contrariou a versão apresentada pela estudante ao Jornal Midiamax. “Minha revolta é que nada aconteceu e ele está trabalhando normalmente”, disse, indignada.

Alguns registros de tela enviados por ela à reportagem mostram que o fotógrafo admite o fato, pois lhe pede perdão. “Me perdoe, eu errei, cai em tentação. Se não puder fazer por mim, faz pela minha mãe, por favor”, disse o acusado, que alega que a mãe possui diabete e está aos cuidados dele.

Violência doméstica

Além da denúncia recente de abuso sexual, o fotógrafo já responde por ameaça e injúria, no âmbito da violência doméstica, contra a ex-companheira em 2019.

Na ocasião, a mulher procurou a Deam para denunciar que o fotógrafo estaria lhe ameaçando e agredindo verbalmente, pois a chamava de “louca, p*ta e demente”.

À polícia, a vítima relatou que conviveu com o fotógrafo durante nove anos e estavam separados há 100 dias. Como o casal sempre teve um relacionamento complicado, segundo o boletim de ocorrência, ela contou que não procurou a delegacia antes por medo e dependência. 

Na delegacia, a ex-companheira do acusado relatou que ele sempre a controlou demais e eram comuns agressões verbais. Além disso, o registro policial diz que o fotógrafo ameaçava agredir a mulher fisicamente quando ela discordava dele.

Apesar da denúncia, ela optou, na época, por não representar criminalmente contra o ex-companheiro e nem solicitar medidas protetivas.

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