Fazendeiro que comanda narcotráfico na fronteira com MS desaparece da Justiça após liberação do STJ

Patriarca do Clã Motta foi preso dia 20 de fevereiro e solto em agosto

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Momento em que o pecuarista foi levado para Campo Grane (Reprodução, PF)

Antônio Joaquim da Mota, conhecido como Tonho, que é considerado o chefão do narcotráfico na fronteira entre Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e Pedro Juan Caballero, aproveitou uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e desapareceu.

O patriarca do Clã Mota, do qual faz parte o seu filho Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o ‘Motinha’, que está na lista da Interpol, foi preso no dia 20 fevereiro em Ponta Porã e levado para a Penitenciária Federal de Campo Grande.

Logo em seguida, foi transferido para o Presídio Federal de Brasília, onde aguardava julgamento, mas acabou solto por uma decisão do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Reynaldo Soares da Fonseca, no dia 15 de agosto.

“A defesa não foi intimada para apresentar contrarrazões ao recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público contra decisão do magistrado de origem que indeferiu o pedido de prisão do paciente”, diz um trecho da soltura assinada melo ministro do STJ.

Além de abalar as estruturas do crime organizado na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, a prisão do pecuarista e narcotraficante Antônio Joaquim Mota, o ‘Tonho’, fez estremecer os bastidores da política do país vizinho. Lideranças tradicionais e outras emergentes mantêm ligações íntimas com o brasileiro.

O pecuarista brasileiro era amigo de longa data do deputado federal paraguaio Eulálio Gomes, o ‘Lalo’, morto durante investigações da Operação Pavo Real II, em agosto em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã. Segundo versões sustentadas pela polícia paraguaia, ele resistiu à prisão e trocou tiros com agentes.

Relações além da fronteira

Considerado de muita influência na fronteira com Pedro Juan Caballero, ‘Tonho’ tem relações que extrapolam as cidades gêmeas e fazem conexão nas entranhas do poder político, envolvendo até ex-presidentes e personagens influentes no atual governo.

Boa parte da carteira de amigos do brasileiro consta nas investigações feitas pela Polícia Federal com robustas provas do MPF (Ministério Público Federal). É o que revela um dos inquéritos mais recentes e que culminou na prisão de membros da organização comandada por ‘Tonho’ e também pelo seu filho Antônio Joaquim Mendes da Mota, vulgo ‘Motinha’.

Segundo informações obtidas pela reportagem do Jornal Midiamax todos os detalhes da operação realizada em 20 de fevereiro foram mantidos em sigilo. Na última ação deflagrada contra o Clã Mota em julho do ano passado, o alvo era o filho. Avisado, ‘Motinha’ acabou resgatado em helicóptero e nunca mais foi visto.

Amigo de Stroessner

Os laços de amizade entre políticos paraguaios e criminosos com o Clã não é de agora. O precursor do núcleo familiar na região de fronteira foi o baiano Joaquim Francisco da Mota, pai de ‘Tonho’. “Ele chegou em Ponta Porã nos anos 1960 e, já na década seguinte, era considerado o maior contrabandista de café na região ao lado de Fahd Jamil e de Adilson Rossati Sanches”, diz um trecho do inquérito do MPF.

Ainda segundo informações usadas na investigação, o trio levava ilegalmente grandes carregamentos do grão produzido no Paraná, Minas Gerais e interior de São Paulo até o Paraguai e exportava o produto pelo país vizinho, pagando tributos muito mais baixos do que no Brasil.

“Do café, Joaquinzinho, como era conhecido devido à baixa estatura (tinha apenas 1,60 metro), diversificou os negócios nos anos 1980, primeiro para o contrabando de uísque e eletroeletrônicos, depois para as drogas (ele chegou a ser preso por narcotráfico no Paraguai em 1985)”, diz o documento.

Nessa época, Joaquinzinho estreitou laços com o então ditador paraguaio Alfredo Stroessner e ganhou do governo do país vizinho 2,7 mil hectares de terras públicas antes destinadas à reforma agrária em Pedro Juan. Era o primeiro latifúndio do clã.

Operação Dominus

Tonho é pai de Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como Dom e Motinha. O filho está foragido desde 30 de junho do ano passado, quando fugiu de helicóptero ao saber da operação Magnus Dominus (Todo Poderoso, em latim) realizada um dia após a fuga.

A Operação Dominus foi realizada pela Polícia Federal e autoridades paraguaias com objetivo de desarticular organização criminosa paramilitar do tráfico internacional de drogas com atuação em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

Na ocasião, a Justiça Federal expediu 11 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão contra nove brasileiros, um italiano, um romeno e um grego, em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Arsenal militar

Mais de 100 policiais federais participaram da operação que realizou prisões e apreendeu coletes balísticos, drones, óculos de visão noturna, granadas, e armamento de grosso calibre, a exemplo de fuzis .556, 762 e .50, este capaz de perfurar blindagens e abater aeronaves.

De acordo com a Polícia Federal, alguns de seus membros possuem cursos nacionais e internacionais de segurança militar privada e atuação em guerras, além de seguranças militares privados de embarcações contra piratas da Somália, recrutados justamente pela sua experiência nesse tipo de serviço.

Conhecida como “Clã Mota”, a organização criminosa já atuou no contrabando de aparelhos eletrônicos, cigarros, e no tráfico internacional de drogas, inclusive envolvendo negócios com o traficante Minotauro, que está preso.

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