Enquanto o calendário avança, uma mãe espera ansiosamente pelo mês de agosto. Isso porque Cleber Corrêa Gomez, acusado pelo feminicídio da namorada Natali Gabrieli da Silva de Souza, de 19 anos, no bairro Parque do Lageado, em Campo Grande, ocorrido em 1º de julho de 2023, encara o Júri Popular no dia 7 do próximo mês.
O crime completou exatos um ano e 14 dias, que têm sido difíceis para a mãe de Natali, a copeira Tatiane da Silva Rocha, de 36 anos. “Ela era minha amiga e companheira. Sinto muita falta dela, e os irmãos dela também. O pai dela se lamenta muito também sofre muito, porque ela era muito apegada a ele”, lamenta.
Uma dor que não acaba, uma ferida que talvez nunca se cure, mas a esperança, agora, é de que a pena máxima ajude a encerrar um capítulo: a espera por Justiça. “Sei que minha filha não volta, mas pelo menos ele vai pagar pelo que fez”, explica.
Essa não será a primeira vez que Tatiane encara Cléber após o crime. Isso já ocorreu durante a Audiência de Instrução e Julgamento – realizada antes dos júris populares, como uma forma de coletar as provas dos dois lados e ouvir as partes. “Nem sei se tenho coragem de olhar para cara desse mostro sem coração, porque vai vir todas as lembranças daquele dia trágico”, diz a mãe.
A mãe sentiu de perto a frieza do autor, que ficou em silêncio o tempo todo e de cabeça baixa, mas não pareceu demonstrar arrependimento. “Ele matou minha filha porque ele quis. Ele é um mostro sem coração”, afirma.
Alegre, linda e companheira
Tatiane lembra que a filha tinha uma luz que foi apagada pelo autor. A mãe conta que o autor tinha um sentimento de posse sob a namorada e era muito ciumento. “Infelizmente minha filha amava muito ele, mas ele não gostava dela o tanto que ela gostava dele”, conta.

O relacionamento conturbado afastou a jovem da família. “Ele não gostava de mim e nem eu dele. Depois que ela foi morar com ele, ela se afastou da família. Nós não tínhamos muito contato, eu ia até o portão da casa dela só para pegar a neném, mas ela nunca chegou a me chamar para entrar”, relata.
Ela e a filha, inclusive, não se viam há cerca de 1 mês antes do crime. Uma das últimas vezes que mãe e filha se encontraram foi em um casamento de um irmão da igreja. “Todas as lembranças que tenho dela são boas, mas a última festa que tive com ela, ela estava linda e feliz. Até tiramos foto juntas, sem saber que seria a última foto”.
Morta com a filha no colo
A crueldade do crime se evidencia do começo ao fim. Aos policiais militares que atenderam a ocorrência, Cleber Corrêa Gomez afirmou que ele e a namorada estavam bebendo na casa quando tiveram uma discussão. Foi então que ele começou a agredir Natali.
Segundo os familiares da vítima, o autor cortou os cabelos dela e também a acertou com uma garrafa na cabeça, ainda dentro de casa. Depois, Cleber esfaqueou a namorada, que segurava a filha no colo. Natali correu para fora de casa, colocou a criança de um ano na grama e seguiu para pedir ajuda na frente de casa.
Contudo, os ferimentos foram tão graves que a jovem acabou morrendo na frente de casa. Segundo informações passadas pelas delegadas da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), foram ao todo 15 facadas, sendo a maioria nos braços e mãos. Isso demonstra que Natali tentou se defender das facadas.
Porém, uma facada profunda no pescoço causou a morte da jovem. De acordo com a polícia, a briga começou por ciúmes quando o autor quebrou o celular da vítima e desferiu as facadas contra ela.
A mãe lembra dos momentos desesperadores. “Foi o pior dia da minha vida. Eu gritava ‘não quero ver minha filha morta’, eu gritava a todo momento naquele dia”, conta.
A filha de Natali está com a avó materna, que espera a guarda definitiva sair. “A neném está bem, está linda. Não lembra de nada, Graças a Deus, porque ela era muito pequena”, explica. A avó recorda que os primeiros dias sem a mãe foram difíceis para a filha. “Ela acordava assustada, gritando muito”.
O homem já tinha passagens por vias de fato, violência doméstica contra a ex-mulher. Contudo, Natali não tinha nenhum boletim de ocorrência contra ele registrado. Caso condenado, o autor pode ter pena de 30 anos de reclusão.