Comprada por R$ 198 mil, aeronave apreendida na Cavok é leiloada por R$ 1,2 milhão

Alienação antecipada de aeronave apreendida na Operação Cavok, deflagrada em 2000, visava a impedir a depreciação do bem. Ação apurou uso de aviões de pequeno porte no tráfico de drogas

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Operação Cavok resultou no sequestro de 23 aeronaves de pequeno porte (DPF, Divulgação)
Operação Cavok resultou no sequestro de 23 aeronaves de pequeno porte (DPF, Divulgação)

Pouco mais de quatro anos depois da deflagração da Operação Cavok, focada em uma quadrilha que operava o tráfico de drogas por meio de aeronaves, um dos aviões apreendidos foi a leilão por ordem judicial. Adquirida no início de 2017 por R$ 198 mil, conforme a então proprietária, a aeronave acabou arrematada por mais de R$ 1,2 milhão neste ano.

Conforme consta no Diário de Justiça Federal desta quarta-feira (13), a venda se deu como alienação antecipada de bem de um dos acusados de participação. A autorização partiu da 3ª Vara Federal de Campo Grande. O avião, um Beech Aircraft B36TC, acabou apreendido “ante os indícios de lavagem de dinheiro, com crime antecedente de tráfico transnacional de drogas, apontados pela investigação, com a utilização de interposta pessoa para ocultar a real propriedade da aeronave”.

O MPF (Ministério Público Federal) requereu a alienação sustentando ser um bem de valor elevado e sujeito à rápida depreciação. Além disso, haveria “grande dificuldade para sua manutenção”, levando a desvalorização ou descaracterização pelo tempo, desuso, defasagem ou “simples envelhecimento inevitável”.

A parte ré contestou a alienação, alegando que o avião teve origem lícita, adquirido em 23 de fevereiro de 2017 por R$ 198 mil. Parte do pagamento foi outro avião, comprado em abril de 2012 – sete anos antes da Cavok e declarado no Imposto de Renda.

Contudo, apesar dos apelos, autorizou-se a alienação antecipada da aeronave. A Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) ficou responsável pela tomada de providências. Enquanto isso, a defesa do proprietário do avião recorreu na Justiça Federal para barrar o leilão, sem sucesso.

Dono de aeronave apreendida na Cavok contestou valor ‘vil’

Com o trânsito em julgado dos recursos, os autos retornaram à 3ª Vara Federal, dando início ao processo de alienação da aeronave apreendida na Cavok. O leiloeiro providenciou nova avaliação, contestada pelo réu – que considerou o valor “vil”. Com o recurso acatado, a alienação acabou suspensa.

Desta vez, porém, coube ao leiloeiro protestar, já que havia feito “uma ampla divulgação do leilão nas mais diversas mídias, tendo, inclusive, encaminhado informações para o público-alvo”. Como resposta, o lance inicial já estava superado. “Destacou ainda que as circunstâncias indicavam que o valor da avaliação seria superado, que, por sua vez, já era superior ao valor pelo qual o bem foi adquirido, mesmo diante da necessidade de reparos significativos para seu funcionamento pleno”, destaca a decisão.

Pedido de reconsideração resultou na liberação do leilão, agendado para 16 de julho deste ano. “O Sr. Leiloeiro informou que o resultado do leilão foi positivo, de modo que o lance vencedor atingiu o valor de R$ 1.262.000,00 (um milhão duzentos e sessenta e dois mil reais)”, informou.

Com a conclusão do negócio, o leiloeiro solicitou autorização judicial para o recolhimento do valor do arremate da aeronave apreendida na Operação Cavok em conta judicial e formalização do auto de arrematação. Tal pedido teve o aval da Justiça Federal.

Operação levou ao sequestro de 23 aeronaves

Conforme divulgado pela Polícia Federal em 6 de agosto de 2020, quando a Operação Cavok chegou às ruas, o objetivo era “desarticular economicamente uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas” na fronteira entre Ponta Porã – a 329 km de Campo Grande – e o Paraguai.

Cerca de 110 policiais federais participaram da operação para o cumprimento de 21 mandados de busca e apreensão. Cumpriram-se também dois de prisão preventiva, em Goiânia (GO) e Ponta Porã, onde se deu uma prisão em flagrante por posse de arma.

Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Ponta Porã e englobaram o sequestro de 23 aeronaves de pequeno porte. Isso porque esses aviões eram usados pelo grupo para o transporte das drogas a partir dos países vizinhos. Três imóveis rurais e um apartamento de luxo em Goiás, à época avaliados em aproximadamente R$ 40 milhões, fariam parte do esquema.

Durante as investigações, a Polícia Nacional Paraguaia interceptou, em 24 de novembro de 2019, a 45 quilômetros de Pedro Juan Caballero, na região de Fortuna Guazú, uma aeronave com cerca de 130 kg de cocaína. Porém, o piloto conseguiu fugir.

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