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Polícia

Bem-vindo à Cracolândia: Faixa muda de lugar, mas insegurança na região da Nhanhá continua

Comerciantes da Vila Marcos Roberto, Nhanhá e Jóquei Clube atribuem furto de fios e itens de cobre a usuários de drogas e pessoas em situação de rua
Victória Bissaco -
Faixa esticada em um sobrado - (Foto: Nathalia Alcântara)

A faixa que indica, de maneira irônica, a chegada à “Cracolândia campo-grandense”, na região do bairro Vila Marcos Roberto, não está mais estendida de ponta a ponta na rua. Na manhã desta quinta-feira (18), o protesto estampava apenas a faixada de uma casa. Mas o que não mudou nesse tempo foi a reclamação sobre os constantes furtos e roubos a fios ocorridos na região.

Essa ‘mensagem de boas-vindas’ foi colocada há cerca de duas semanas na Rua Bom Sucesso, próximo ao cruzamento com a Avenida Ernesto Geisel, como uma forma de protesto irônico de moradores e comerciantes. Os relatos são de que muitas pessoas em situação de rua e que são usuários de droga tomaram conta da via e do sossego da população.

O porquê da mudança da faixa de local é confuso, isso porque alguns relatam que os responsáveis pelo atrativo colocam e recolocam diariamente, enquanto outros dizem que os próprios usuários de droga retiraram.

Moradores atribuem furtos a pessoas em situação de rua

Um comerciante e morador do local há 32 anos, que preferiu não se identificar, conta que a movimentação de usuários na rua espanta os clientes e até mesmo os próprios residentes. Ao Jornal Midiamax, não faltaram relatos de pessoas dormindo embaixo de toldos de áreas comerciais, muita sujeira nas ruas e até mesmo perda da segurança por causa dessas pessoas.

“O número da minha casa? Não existe mais, levaram tem dois meses. Nessa semana mesmo, tentaram entrar na minha casa para furtar, até amassaram o toldo daqui. A gente não tem paz, não tem sossego”, explica. O morador, inclusive, exibe duas facas que o criminoso deixou cair durante a tentativa de levar mais materiais de cobre da casa.

Facas que criminoso teria deixado cair – (Foto: Nathalia Alcântara)

Além disso, também relata que os pontos de ônibus nesses bairros também são alvo dos usuários. “Uma cliente minha, por exemplo, contou que foi seguida por um homem do ponto de ônibus até a porta da escola dele. Ele entrou no ônibus junto com ela, desceu na mesma parada e assaltou ela e um colega”, afirma.

O comerciante explica, ainda, que precisou deixar a profissão de empresário e assumir cargo de frentista em um posto de combustível por causa da baixa na clientela, que, conforme relato dele, é motivada pelas pessoas em situação de rua.

Desvalorização da região

O mecânico Cícero de Moraes Gomes está há 15 anos em uma oficina da região e também acredita que a situação afasta a clientela, assim como a faixa, que também assusta os clientes. “A gente tem um certo receio da população que vem fazer manutenção aqui na nossa oficina chegar aqui e ser assaltado. Isso aí de Cracolândia aqui não existe”, afirma.

Para o mecânico, apenas o Poder Público é capaz de tirar as pessoas em situação de rua e usuários de droga da região, contudo, ele não se sente incomodado. O mecânico diz, também, que não notou ação do Poder Público na região, nem a intensificação de rondas. “Ninguém sabe porque eles estão na rua, o que aconteceu”, debate.

Um empresário da região, que preferiu não se identificar, tem um palpite sobre a concentração de usuários de droga. “Acho que é a questão da classe social, que vai diminuindo e faz com que as pessoas se afundem nas drogas”, avalia.

Conforme relato dele, a concentração na Vila Marcos Roberto aumentou há uns 2 anos. O comerciante que mora na região há 32 anos afirma que essa situação também compreende o Nhanhá e o Jardim Jóquei Club, bairros próximos.

O empresário explicou que nunca mexeram no comércio dele, mas tem medo. “Vai que pegam uma pedra e jogam aqui nos carros. Nossos clientes já estão com medo de vir, deixar o carro”.

Faixa estava esticada de ponta a ponta na Rua Bom Sucesso – (Foto: Ana Laura Menegat, Midiamax)

Para ele, a faixa é uma forma de tentar chamar atenção do poder público, mas conta que os próprios usuários tentaram arrancar a faixa na quarta-feira (17). Isso porque, conforme relato do empresário, eles negam que o trio de bairros tenha virado uma cracolândia.

Na oficina onde Cícero trabalha, um outro mecânico contou que o medo da região afasta não somente os clientes, mas também os investidores. O relato dele é de que imóveis avaliados em R$ 500 mil são vendidos a R$ 280 mil e, mesmo assim, “ninguém quer comprar”, afirma.

A equipe de reportagem não notou alta concentração de imóveis desocupados, para locação ou venda na região, contudo, as casas possuem concertina, cerca elétrica, sistema de monitoramento e até grades de proteção, como acessórios essenciais.

Intensificação nas rondas

A última reportagem do Jornal Midiamax nessa região foi há seis dias, informando sobre a faixa instalada pelos comerciantes e moradores. Na ocasião, a Prefeitura Municipal afirmou que reforçou o trabalho da Guarda Civil na região.

Os comerciantes e moradores ouvidos não notaram aumento de rondas. A Prefeitura foi novamente contatada para averiguar a situação. Confira a nota na íntegra:

“A SAS informa que, no tocante à política de assistência social, são realizados atendimentos e abordagens por parte do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) no local. São ofertados o acolhimento institucional, os atendimentos das Comunidades Terapêuticas, os serviços do Centro-Pop, dentre outros, observando o princípio da intersetorialidade entre as políticas públicas.

Contudo, a política pública de assistência social respeita a Constituição e não pode impedir as pessoas em situação de rua de ir e salienta que os acolhimentos para pessoas em situação de rua estão disponíveis para aqueles que assim desejarem, mas não são obrigatórios.

Cabe destacar que o SEAS realiza trabalhos contínuos, planejados e qualificados com a população em situação de rua na própria via pública, assegurando-lhes todas as garantias afiançadas pelo Sistema Único de Assistência Social.

Mediante fluxograma da Secretaria de Assistência Social, o trabalho de abordagem e escuta qualificada ocorre conforme demanda espontânea, ininterrupta ou por denúncias. Se a pessoa em tela apresenta interesse em ser acolhida, encaminhamos para os equipamentos do Centro POP/de acolhimentos, tanto da prefeitura quanto das cofinanciadas. O acolhimento possui caráter transitório, que trabalha políticas públicas de inserção na rede de saúde, moradia, emprego, documentação, entre outras demandas apresentadas pelo usuário (psicólogos, assistentes sociais, advogados, cuidadores). É importante ressaltar que temos abordagens articuladas com o consultório na rua, a fim de fortalecer o vínculo dos usuários e inseri-los em nossos equipamentos.

A Guarda Civil Metropolitana informa que mantém rondas e patrulhamento preventivos diuturnos por meio de equipes em viaturas nos espaços públicos e logradouros da Capital como atribuições primárias. A GCM atua em auxílio às demais forças de segurança pública contribuindo para a segurança nas sete regiões de .”

*Matéria editada às 16h57 para acréscimo de posicionamento da Prefeitura

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