PCC e CV ensaiam guerra pelo controle de ‘rota fácil’ do narcotráfico em Mato Grosso do Sul
Em disputa pela região de Sonora, a briga entre as facções acabou na morte de pelo menos 6 pessoas
Thatiana Melo –
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Mato Grosso do Sul pode virar palco do enfrentamento entre as maiores facções criminosas brasileiras, alertam especialistas experientes no uso de inteligência e policiamento ostensivo contra o tráfico de drogas.
Tanto o PCC (Primeiro Comando da Capital) quanto o CV (Comando Vermelho) estão de olho na ‘rota fácil’ para o narcotráfico que as rodovias de Mato Grosso do Sul representam.
Assim, fatores como a grande faixa de fronteira com o Paraguai e a Bolívia e a proximidade com rotas de escoamento para cocaína, maconha e drogas sintéticas fazem de MS área cobiçada por traficantes e contrabandistas.
Além disso, problemas estruturais no policiamento ostensivo, como corrupção de servidores da segurança pública e o baixo investimento em inteligência, aumentam o risco de MS virar palco de uma guerra que as duas facções nunca levaram até o fim em outros territórios disputados.
Com esta tática de ‘agressão contida’, o PCC, que surgiu em São Paulo, acabou dominando Mato Grosso do Sul. Já o CV, originário do Rio de Janeiro, manteve ‘pontos de interesse’ e dominou o Mato Grosso.
Somente no último mês, a reportagem do Jornal Midiamax apurou mais de seis mortes ligadas direta ou indiretamente ao embate entre as facções criminosas, em Sonora. Mas, a guerra pelo domínio do PCC no tráfico de drogas também acaba em assassinatos por ‘pontos’ de vendas, por exemplo, em Campo Grande, que começaram a se intensificar em fevereiro do ano passado, em uma disputa, principalmente no bairro Moreninhas. Pelo menos quatro pessoas foram assassinadas e as mortes tinham ligação direta ou indireta com as facções.
No dia 3 deste mês, policiais do Garras prenderam dois membros do PCC, no bairro Santa Emília, que tinham uma casa como base para a venda da droga, sendo descoberto pelos policiais que dentro do imóvel era planejado o assassinato de um membro do CV, que estava tentando montar sua base na região.
Rota para o tráfico de drogas, Mato Grosso do Sul acabou virando palco para embates entres as duas facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) – que historicamente domina o Estado há pelo menos 25 anos, onde criou uma subsede da facção – e o CV (Comando Vermelho), que agora tenta ‘invadir’ e dominar o Estado gerando guerra entre as facções.
Para o promotor de Justiça do estado de São Paulo, Márcio Sérgio, autor do livro Laços de Sangue – A História Secreta do PCC, em entrevista para o Midiamax, este embate entre as duas facções no Estado está longe de acabar, já que para o CV o Estado tem um papel importante na saída de drogas, assim como para o PCC, que tenta manter a sua hegemonia usando Mato Grosso do Sul como subsede da facção.
Neste embate que passou a surgir em Sonora, o promotor fala da relação de oportunidade que o CV viu ao tentar entrar no Estado para expandir sua rota. “Uma questão estrutural, e que deverá eclodir novamente com mais disputas entre as facções”, fala Márcio.
Mesmo depois da situação controlada pelas forças policiais que deflagraram a Operação Divisa, contra a guerra de facções, o promotor paulista não descarta novos embates entre PCC e CV. “Em algum ponto vai eclodir novamente esta disputa”, falou.
Segundo o promotor, esta escalada de violência é sazonal e deve acontecer em outro momento novamente no Estado. Márcio descarta que esta guerra que começou quando membros do CV saíram de Mato Grosso para Mato Grosso do Sul teria relação com o ‘racha’ dentro do PCC.
Aliás, para o promotor este ‘racha’ não existe, e sim uma tensão interna entre os membros que não teve consequências externas. “Neste momento não se vê uma escalada de violência dentro do PCC”, que segundo o promotor seria o indicativo que a facção estaria em crise.
Disputa pelo poder econômico
A disputa pelo poder econômico estaria ligada à guerra de facções entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), com a vinda de membros da facção rival do estado de Mato Grosso para a cidade de Sonora, a 361 quilômetros de Campo Grande. Pelo menos seis assassinatos estariam ligados ao conflito travado entre as facções.
Dois membros do Comando Vermelho foram vistos circulando pela cidade, e segundo moradores eram pessoas estranhas que nunca foram vistas antes no município. Os dois estavam em uma motocicleta, de cor preta, que teria sido usada em homicídios anteriores na cidade.
Os dois foram vistos atirando contra três homens em uma calçada. Com a chegada das forças policiais à cidade para combater a guerra entre PCC e CV, foi encontrado um depósito de drogas que era mantido pelo Comando Vermelho em Sonora.
‘Sherek’, faccionado do Comando Vermelho, acabou preso na última quinta-feira (28), quando os policiais descobriram o depósito de drogas. Durante sua prisão, ele ainda teria gritado “aqui é o comando”, fazendo menção à facção do CV.
Um dos supostos membros do Comando Vermelho, que teria tentado matar três homens na cidade, conseguiu fugir. Segundo informações, ele seria de Pedra Preta, no Mato Grosso.
Expansão PCC em Mato Grosso do Sul
Foi no Estado onde começou a expansão da facção na década de 90, quando São Paulo tentava isolar lideranças e, sem avisar, trocou presos considerados ‘problemas’ no Estado pelos dois líderes da facção que se tornaria uma das maiores da atualidade: César Augusto, conhecido como ‘Cezinha’, que veio para Mato Grosso do Sul. Já outra liderança, José Márcio Felício, conhecido como ‘Geleião’, foi levado para o Paraná.
E assim começou a expansão do PCC para outros estados brasileiros. O Governo do Estado na época não tinha ideia que ‘Cezinha’ era líder de uma facção criminosa. “Carismático, tinha facilidade de comunicação. Ele fazia discursos para a massa carcerária”, comentou o promotor de Justiça do estado de São Paulo, Márcio Sérgio, autor do livro Laços de Sangue – A História Secreta do PCC, em entrevista para o Jornal Midiamax.
Sem restrição nenhuma dentro da penitenciária sul-mato-grossense, já que ‘Cezinha’ era visto como um preso comum, ele passou a reproduzir no presídio do Estado o mesmo que era feito no interior paulista, segundo o promotor de Justiça e especialista no PCC, Márcio Sérgio. Assim, nasce no Estado o PCC. A facção se espalhou tanto em Mato Grosso do Sul, como no Paraná.
De lá para cá, a facção se especializou e modernizou, criando um organograma, com subdivisões e tarefas específicas. Toda esta ‘modernização’ veio depois de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como ‘Marcola’ e líder da facção na atualidade, que ficou preso por cerca de 1 ano, com Maurício Hernandes, conhecido como ‘Capitão Ramiro’ – militar treinado no exército da Bulgária.
‘Capitão Ramiro’ foi um dos mentores do sequestro do publicitário Washington Olivetto, que ficou 53 dias em cativeiro entre 2001 e 2002. Após este tempo em companhia do militar, ‘Marcola’ implementou novas diretrizes no PCC, que tem ‘planos de carreira’ no submundo do crime. A facção é do tráfico de drogas, como diz Márcio Sérgio. “Ninguém trafica sem o PCC permitir porque vai ser eliminado pela facção”, diz o promotor.
“O PCC exerce a tirania e se você não se submete, ele (facção) te mata. Exerce poder de vida e morte”, fala o promotor paulista. Em Mato Grosso do Sul, a facção é dominante e detém a rota da Bolívia, de onde sai a cocaína para o resto do país e para a Europa.
Segundo o promotor paulista, a rota da Bolívia é uma das mais importantes para a facção que tentou ‘tomar’ do CV (Comando Vermelho) a rota dos Solimões que fica no norte do país, mas não conseguiu. “Eles querem o monopólio”, disse Márcio Sérgio.
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