Auxiliar aponta recrutamento falho e diz ter pedido demissão ao ver agressões em escola de alto padrão

Relato chocante ainda diz que as funcionárias pouco se preocupam com a alimentação e o sono dos alunos

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Desenhos feitos pela criança durante escuta especializada com psicólogo

Uma auxiliar denunciou o recrutamento falho e pediu demissão ao ver as agressões contra os bebês e crianças que estudam na escola de alto padrão, em Campo Grande, onde uma menina, de 5 anos, teria sido abusada no mês de setembro.

A denúncia foi enviada ao Jornal Midiamax após o caso vir a tona na última quarta-feira (30), quando uma auxiliar de sala foi acusada de estuprar a menina, agredir outras crianças e fazer terrorismo psicológico com os alunos.

O caso é alvo de investigação policial da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) após a mãe da menina de 5 anos perceber que a filha estava com as partes íntimas vermelhas com sinais de inflamação e procurar a especializada para registrar um boletim de ocorrência.

À reportagem do Jornal Midiamax, a ex-funcionária relatou que soube da vaga de emprego por uma amiga, entrou em contato com a escola – localizada na região central de Campo Grande – e uma entrevista foi agendada para o dia seguinte.

Durante a entrevista, ela observou que pouco foi interrogada sobre sua vida profissional e pessoal, disse que apenas foi informada sobre a vaga de auxiliar, carga horário e remuneração, fato que gerou estranheza.

Além disso, ela relata que há professoras sem formação atuando na escola. Inclusive, enquanto esteve trabalhando na unidade, houve um aumento na quantidade de alunos de uma referida turma e, com isso, a auxiliar de sala responsável passou a atuar como professora dos alunos, sem ao menos ter formação profissional para exercer a função.

Porém, o estopim para que a funcionária pedisse demissão da escola de alto padrão foi quando ela presenciou as professoras e outras auxiliares apertando os braços das crianças, dando beliscões e até ameaçando levá-las para o banheiro, como forma de castigo.

“Eu senti raiva quando vi essas coisas acontecendo, pois tenho filhos e, por isso optei por não continuar lá”, disse, revoltada.

Segundo o relato dela à reportagem, quando as crianças, que tem entre 2 a 5 anos, não obedeciam, as mesmas eram levadas para o banheiro, onde ficavam sentadas no chão e trancadas por quase 30 minutos. Outro castigo era levar os alunos para um canto da sala de aula onde não tinha câmera de segurança.

“Todas as salas têm um canto onde não tem câmera de segurança, aí se as crianças não param quieta, elas levam para esse canto, apertam o braço dos alunos e ficam ameaçando ‘se não parar, vou te levar para o banheiro’”, disse a ex-auxiliar.

Ainda de acordo com o relato da ex-auxiliar, uma funcionária da escola já foi humilhada pela diretora em outra ocasião. Logo, a funcionária optou por pedir demissão da unidade.

‘Comeu, comeu, se não, fica com fome’

O relato chocante que reafirma algumas das acusações contra a escola ainda diz que as funcionárias pouco se preocupam com a alimentação e o sono dos alunos . “Elas levam quatro crianças por vez para as refeições e elas se alimentam sozinhas. Porém, se o aluno não comeu, elas não se importam. Se comeu, bem, se não comeu, fica com fome”, relata a mulher.

Já em relação ao horário de soneca das crianças, a denúncia diz que elas dormem sozinhas sem nenhuma supervisão. “Fica uma auxiliar na sala quando as crianças estão dormindo, mas quando os alunos vão acordando e cada turma vai para sua sala, elas (crianças) ficam em uma sala sem nenhuma auxiliar”, denuncia a ex-funcionária.

A mulher também relata que, em uma das ocasiões, o pai de um aluno viu uma funcionária pegando no braço de seu filho através da câmera de segurança e foi até a escola. “Ele ameaçou chamar a polícia e a diretora mandou a auxiliar embora na hora”, conta.

Contudo, a ex-funcionária diz que a diretora está ciente das agressões e torturas feitas com os alunos. “Já cheguei a perguntar para uma professora sobre o que poderia acontecer, caso a diretora visse as crianças sendo ameaças e ela me respondeu que a diretora sabe de tudo, pois se ela visse, não ia dar em nada”, relata.

‘Furto’ de fraldas

Outra denúncia feita pela ex-auxiliar da escola de alto padrão é de que as professoras e auxiliares ‘furtam’ as fraldas e itens de higiene pessoal das crianças. “Elas tiram quatro fraldas da mochila e se não usa tudo, elas não colocam novamente na mochila, pois levam embora para casa”. 

Brinco, shampoo e sabonete também estão entre os itens que muitas crianças não retornam para a casa com os mesmos na mochila. “Elas pegam brinco, shampoo, sabonete. Quando a mãe pergunta se os itens estão na escola, elas falam que não veio na mochila”, afirma a ex-auxiliar. 

“O banho é só joga água e lava o cabelo para ‘dar um cheiro’. Quando faz cocô, elas falam para os pais que lavam, mas é tudo mentira, pois não lavam”, complementa.

Outra informação revelada pela ex-funcionária é de que algumas crianças já foram retiradas da escola após as últimas notícias publicadas pelo Jornal Midiamax.

Jornal Midiamax entrou em contato com a escola novamente na tarde dessa quinta-feira (31), mas a linha telefônica constava como ocupada.

Professora agrediu criança na mesma escola 

Imagens do circuito interno da mesma escola de alto padrão onde a menina de 5 anos teria sido abusada por uma auxiliar de sala revelam que uma professora já agrediu um menino, com apertos e beliscões.

Pelas imagens, que são de 2022, é possível ver que a criança se movimenta na cadeira, quando, em seguida, é puxada pela professora. O menino pega na blusa da profissional e logo depois a criança é mantida presa na cadeira.

A criança tenta sair da cadeira, mas tem o braço apertado pela professora – que depois a tira da cadeira e a coloca em outra mesa da sala de aula. O relato passado ao Jornal Midiamax é que a criança constantemente era beliscada pela professora, e soma-se à denúncia de estupro publicada na última quarta-feira (30).

Na mesma época do vídeo, a mãe da menina que teria sido abusada por uma assistente pedagógica relatou à reportagem que procurou a direção da instituição para relatar que a filha estava reclamando de ser colocada constantemente de castigo e de receber tapas da professora. Quando a mãe relatou os fatos, e disse ter conhecimento do caso retratado no vídeo, a direção confirmou os fatos e demitiu a professora.

Um áudio enviado à mãe pela direção da escola, ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, confirma os fatos: “Oi, Maria*. Lembra daquele dia que você falou do play (vídeo interno), passamos a monitorar e é isso mesmo. Mandamos ela (professora) embora. Pode ficar tranquila”, traz o áudio (Maria é nome fictício para preservar a identidade da genitora).

“Vou morrer, mãe?”

Sentimento de impotência: É assim que a mãe da menina de 5 anos abusada na escola de alto padrão tem se sentido ao lidar com os indícios de crime cometido contra a sua filha, por uma auxiliar de professora.

“Estou me sentindo péssima. Minha filha está fazendo terapia”, disse a mãe da criança abusada pela auxiliar de professora. Ao Jornal Midiamax, a mulher contou que a filha está muito assustada e que tem crises de ansiedade e reforçou que outras crianças também teriam sido agredidas e sofrido agressão psicológica.

Conforme o relato da mãe da criança, a filha teria perguntado, ainda, se iria morrer. “Ela está com medo porque a professora falava que o monstro viria pegar, caso contassem alguma coisa para alguém”. Ainda de acordo com a mãe, desde o ano passado, muitos pais passaram a desconfiar do comportamento dos filhos, e quando foram até a escola para conversar foram ameaçados.

“A escola tem esta conduta de fazer ameaças. Você não pode falar nada da escola”, disse a mãe que ainda acrescentou que a escola disse que processaria os pais, caso não abafassem o caso. “Muitos pais estavam passando por problemas em casa, e começaram a acreditar que isto seria o estopim para o comportamento dos filhos”, disse a mãe.

Denúncia de abusos na escola

Localizada no bairro central da cidade, a escola tem mensalidade de cerca de R$ 1,8 mil e atende principalmente crianças e bebês. Após os episódios, a menina passou a desenhar momentos de terror vividos com a auxiliar.

A mãe da menina procurou a delegacia no dia 30 de setembro, após descobrir o crime. No dia 26 de setembro, a mãe percebeu que a criança estava com as partes íntimas vermelhas e inchadas, com sinais de inflamação. A menina chorava de dor e não deixou a mãe higienizá-la.

Conforme a mãe, a criança sempre ia tomada banho e trocada para a escola. Antes desse episódio, não houve nenhum outro indicativo de manipulação das partes íntimas da menina na unidade de educação. 

Assim, quando a mãe perguntou para a criança, ela acabou respondendo que a professora tinha secado a região com força.  Desconfiada, a mãe da menina marcou a pediatra da filha para uma consulta, e a médica pediu encaminhamento para uma psicóloga. Assustada, a mulher procurou a delegacia especializada, onde foi feito o registro da ocorrência.

‘Carimbo do beijo’

A criança foi ouvida em depoimento especial na delegacia, como também por uma psicóloga particular. Durante as sessões, a menina fazia desenhos de língua, beijos e de monstros. Para a psicóloga, a criança relatou que a professora havia secado suas partes íntimas com a boca.

Ela ainda revelou que era o ‘carimbo do beijo’, que a professora dava nos alunos. Desta forma, a auxiliar de sala ‘ganhava a confiança’ das crianças fazendo uma espécie de jogo. Ela beijava o rosto, os braços e relatava que aquele era o ‘carimbo do beijo’. Assim, beijava também as partes íntimas, chamando o ato de ‘carimbo do beijo’.

Os abusos aconteciam durante o banho das crianças, já que é o único local onde não há câmeras de segurança na unidade escolar. 

Ainda de acordo com informações, outras crianças teriam sido abusadas pela professora. Conforme informações obtidas com exclusividade pelo Jornal Midiamax, a auxiliar de sala também mostrava vídeos de monstros para as crianças, dizendo que o bicho iria ‘comer suas pernas e braços’.

A mulher ainda agredia as crianças com tapas nas pernas e pedia para que elas não contassem nada a ninguém, senão ‘o bicho viria pegá-las’. A menina abusada pela professora começou a apresentar comportamentos agressivos.

Conforme informações, a criança passou a bater no irmão pequeno e a fazer xixi na cama. Além disso, passou a fazer desenhos estranhos, pedindo para que colocassem fogo e jogassem em um vaso sanitário.

Informações são de que outras crianças sofreram terrorismo psicológico e agressões da professora.

Pedido de câmeras de segurança

A advogada da família da criança entrou com pedido para acesso às câmeras de segurança. “Imprescindível a solicitação de todas as imagens do circuito interno de câmeras de segurança do estabelecimento, entre os dias 25/09/2024 a 26/09/2024 para apuração da dinâmica dos fatos e apuração dos dados para solucionar como se deu o abuso sexual que vitimou a filha da Autora e possivelmente mais duas crianças da mesma idade e turma.

“Objetivo: verificar imagens para elucidar os fatos de quem deu banho na criança, de tempo de duração, se a porta estava fechada e avaliar o comportamento da vítima e da suposta agressora, não só no dia da agressão (abuso sexual na hora do banho), mas no dia anterior, verificar um padrão de trabalho das professoras”, diz o pedido. 

Jornal Midiamax entrou em contato com a escola para saber se a auxiliar de sala foi afastada ou quais procedimentos foram adotados e foi informado, em ligação gravada, que a professora ‘nunca fez parte do quadro de funcionários da unidade escolar’.

A informação é rebatida por mães de alunos, já que ainda na última terça-feira (29), ao buscar o filho na escola, foi relatado avistamento da auxiliar na unidade escolar, trabalhando e transitando normalmente.

⚠️ Informação ao leitor

Jornal Midiamax e demais veículos de imprensa são proibidos pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) de informar nomes de escolas ou qualquer informação que identifique a criança ou adolescente vítima de violência, conforme estabelecido no Art. 18. Essa restrição é fundamental para proteger a identidade da criança, evitando que a menção ao nome da escola ou alguma característica revele quem ela é, em consonância com o direito à preservação de sua imagem garantido pelo Art. 17.

Caso necessário, o responsável deve acionar à DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Agradecemos a compreensão.

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