Ludopatia é a compulsão de uma pessoa por jogos de azar que pode levar a graves consequências sejam elas financeiras, sociais, físicas e mentais. Febre no Brasil, o ‘Jogo do Tigrinho’ tem feito várias vítimas e consequentemente algumas acabam se prejudicando ainda mais quando percebem gravidade se a situação avançou.

Os jogos que funcionam como uma espécie de cassino on-line são ilegais no país por infringirem a Lei de Contravenções Penais. O Jogo do Tigrinho, por exemplo, simula um caça-níquel e ficou famoso por prometer ganhos fabulosos, inclusive sendo bastante divulgado por influencers Brasil afora.

Após casos terem sido agravados e divulgados também em Mato Grosso do Sul, a Polícia Civil emitiu alerta quanto às apostas que ultrapassam o limite do autocontrole.

O delegado de Polícia Civil Rodrigo Camapum, explicou, por exemplo, que a ludopatia é uma patologia mental, inclusive é catalogada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ele afirmou que é preciso falar sobre a ‘educação’ dos jogos, o risco que existe e a atividade lúdica.

“O jogo eu acho que ele é importante em todas as fases da vida, que sejam atividades lúdicas pedagógicas, ou mesmo aquelas de lazer, de distração, entretanto tudo existe um limite, e aí entra a questão do autocontrole. A gente tem que saber até onde ir, quando parar, justamente para não ingressar numa dependência dessa”, comentou Camapum.

Esse tipo de jogo fomenta a liberação de hormônios, de prazer, por exemplo, ainda mais quando a pessoa ganha alguma coisa. Ganhar dá uma satisfação e quando a pessoa perde, ela joga para tentar recuperar.

É clichê, mas é muito importante obter ajuda das pessoas ao redor. Lembrando que essas pessoas que se propõem a ajudar devem evitar julgamentos ou repreensão.

Caso uma pessoa perceba que alguém esteja nesse ciclo vicioso, o ideal é monitorar a situação, sem tecer críticas. 

“Oferecer verdadeiramente ajuda, conversar com a pessoa, dar uma atenção e não só tecer críticas, porque se ela somente tecer essas críticas, a pessoa vai se sentir julgada e na hora que ela tiver uma situação em que ela não encontra saída, ela não vai procurar o amigo, não vai procurar o parente, porque ela já avisou, ele já falou e ela sabe que a pessoa vai falar isso aí”, explicou.

Jogo de apostas (Ilustrativa)

Dependência e Mentiras

Em Mato Grosso do Sul, alguns casos ganharam repercussão envolvendo o ‘Jogo do Tigrinho’. No mês passado, uma enfermeira de São Paulo, foi localizada em Campo Grande depois de ser dada como desaparecida. Familiares afirmaram que ela sofria de depressão e era ‘viciada’ no jogo do tigrinho, uma espécie de caça níquel online.

A jovem, de 23 anos, teria uma dívida de R$ 20 mil por conta dos jogos. Ela desapareceu por uma semana e depois ligou para o pai dizendo que estava no Aeroporto Internacional de Campo Grande, para o pai buscá-la em Guarulhos.

Outro caso envolvendo o tal jogo de apostas é também grave. Uma jovem, de 26 anos, que fez uma falsa denúncia ao dizer que foi sequestrada e estuprada, sendo roubada pelo suposto criminoso. Depois de minuciosa investigação, a polícia descobriu que ela mentiu após perder R$ 1.147 em apostas.

A jovem chegou a dar detalhes e repassou características de um homem, mas os investigadores perceberam inconsistências nas informações e depois de ser questionada, ela confessou que mentiu.

Agora responderá por falsa comunicação de crime, podendo pegar de um a seis meses de prisão.

Bicicleta da vítima que denunciou falso sequestro (Divulgação PCMS)

Em Campo Grande, um rapaz, de 19 anos, foi preso depois de tentar aplicar golpe em uma cafeteria no Centro, consumindo R$ 57 no local na companhia de um adolescente. 

Ele ainda tentou comprar eletrodomésticos e fazer uma tatuagem com pagamento no Pix, com a transação agendada com data futura, sem sucesso.

Já na cafeteria, ao ser pego em flagrante disse que tinha a intenção de pagar tudo, inclusive dos outros estabelecimentos, mas estava sem dinheiro. Ainda afirmou ser divulgador do jogo do tigrinho, mas que não recebeu nenhum dinheiro até aquele momento. 

Para os militares, a dupla disse que tinha R$ 1 milhão no banco. Eles disseram que tinham ganhado o dinheiro no jogo do tigrinho e que o banco deveria estar ‘doido’ com tanto dinheiro que estavam ganhando, bloqueando assim as suas contas.

Crimes correlacionados

Sobre a conduta de falsa comunicação de crime, ocorre com certa frequência, segundo o delegado Camapum. “Normalmente para justificar uma perda, um atraso, alguma conduta que ela tenha tido e depois se arrependeu, algumas pessoas procuram a polícia, infelizmente, fazendo essa falsa comunicação de crime. A gente tem dois crimes ali, que é a falsa comunicação de crime e a denunciação caluniosa, que é um pouco mais grave, mas essa daí normalmente a pessoa imputa a determinada pessoa um fato criminoso e é instaurado ali um procedimento apuratório”, detalhou.

No caso da jovem que sumiu e apareceu em Campo Grande, o delegado explica que ela provavelmente se sentiu insegura em contar a alguém e pedir ajuda. 

“Por conta dessa questão de jogo acabou perdendo uma certa quantia de dinheiro, pegou dinheiro emprestado e ela não tinha suporte ali que pudesse ajudá-la, não se sentia confortável o suficiente e segura o suficiente para poder chegar num amigo e num parente, quais são as causas que geraram isso a gente não sabe, isso aí é foro íntimo dela né, mas a gente percebe que se ela se sentisse segura e tivesse um amparo familiar dos amigos ela não teria fugido para Campo Grande”.

Reconhecer que não está bem e que está passando dos limites é ter autoconhecimento e pode evitar problemas maiores.