A Polícia Civil, que encaminhou ao poder público cinco volumes do inquérito instaurado para apurar a morte de Marta Gouveia dos Santos, de 37 anos, ressalta que não há dúvidas da participação do filho no crime. E a motivação seria religiosa, já que ele a “tratava como uma pecadora”, conforme afirmou ao Jornal Midiamax a delegada Daniella Nunes, titular da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Nova Andradina.

No decorrer das investigações, a polícia ouviu dezenas de testemunhas e o próprio acusado, Matheus Gabriel Gonçalves dos Santos, de 19 anos, que “parecia estar contando uma história” todas as vezes e não chorou e nem demonstrou nenhuma emoção nas vezes em que era questionado, de acordo com a delegada. Ele será julgado nesta quinta-feira (28).

“Tem muitas falas que chamavam atenção e tinham a ver com questões religiosas. Coisas de pecados, ele usava muito isso. E foi uma investigação muito sigilosa, em que foram utilizadas as técnicas de investigação da inteligência. A gente acaba não podendo falar porque fica sob sigilo”, afirmou a delegada.

Questionada sobre a participação do Matheus no crime, já que ele nega veementemente os fatos, Daniela ressalta que não há “dúvida nenhuma quanto à participação dele”, principalmente porque “todos os indícios e elementos produzidos, sejam testemunhais no intuito de mostrar o comportamento, o perfil psicológico, de quem ele era, ou seja, na questão de elementos de inteligência, são perante a Polícia Civil, incontestáveis”, comentou Nunes.

Delegada Daniella de Oliveira Nunes, DAM de (Foto: Alicce Rodrigues / Midiamax)

De acordo com a delegada, a conduta do jovem pode apontar algum transtorno mental.

“É o meu ponto de vista, apesar de eu não ser médica. É uma opinião leiga, mais baseada na prática e comportamento, então, para mim é um sociopata, um psicopata. Para esse tipo de pessoa não existe um motivo plausível. Pode ser uma mera discussão, um confronto com a mãe, de algo que ele não queria que viesse à tona. Poderia ser ‘N' motivos. Para um psicopata não precisa ter uma necessidade, uma motivação. O fato de uma pessoa ser um sociopata, um psicopata, não significa que ele não tenha conhecimento do quão errado o ato dele é, até porque ele encobre tudo aquilo que ele faz. Eles são muito inteligentes”, argumentou.

Ainda segundo a delegada, os elementos trazidos pela Polícia Civil são incontestáveis, por serem técnicos, envolverem tecnologia e não deixarem dúvidas, mesmo sem a confissão do autor. “É comum também a falta de confissão quando estas pessoas praticam estes crimes bárbaros e a gente não consegue trazer isso porque a única pessoa que poderia dizer era a mãe, ou o irmão mais novo, então, no intuito de preservá-lo… claro que houve uma psicóloga acompanhando esta criança, mas, o que a gente percebe é um comportamento, um conflito típico de violência familiar”, opinou.

Pessoas terão acesso a um relatório bem detalhado, diz delegada

No caso do júri, a delegada fala que as pessoas terão acesso a um relatório de inteligência e de investigação bem detalhado. “São pessoas leigas que, na maioria das vezes, não querem acreditar que seus filhos fariam aquilo. O psicopata é uma pessoa que não tem sentimento nenhum, não tem dó e às vezes sente até prazer. Pode ser uma questão religiosa, mas, a motivação mesmo é guardada com ele, até porque ele nega. No entanto, é incontestável a participação dele naquele momento, naquele lugar. E, questionado sobre estas questões, ele não fala”, ressaltou.

Julgamento será realizado no Fórum de (Foto: Alicce Rodrigues / Midiamax)

Sobre o fato da mãe estar sem as vestes, a delegada diz que a questão do estupro não ficou comprovada. “O local do crime fala muito com a pessoa. O corpo nu pode ser uma cena para ele se defender. Tem gente que tira a roupa da mulher para envergonhá-la perante à sociedade, ou simular estupro. E ele não é imputável, tinha plena consciência do que estava fazendo. Se vai ser condenado ou não depende dos jurados”, afirmou.

Na época dos fatos, a delegada fala que houve uma passeata e o acusado chegou a panfletar em busca pela mãe, além de se mostrar “supercolaborativo” com as investigações. “A gente tinha uma investigação traçada naquela época e fomos percebendo questões comportamentais e, paralelo a isso, as questões de inteligência que demonstravam que foi diferente do que ele falava, o caso de feminicídio”, finalizou.

Assassinato

Matheus tinha 18 anos quando foi acusado de matar a mãe a golpes de faca, desferidos no rosto e no pescoço. Ele será julgado no plenário do Fórum de Nova Andradina, a partir das 8h30.

O crime aconteceu no dia 23 de janeiro de 2022, no entanto, o filho nunca admitiu a autoria. Mateus, que alega inocência, apontou um parente do ex-marido da mãe como autor do assassinato, sem dar mais detalhes, ou informar o que teria motivado o crime.

A polícia garante que o comportamento do rapaz, durante os depoimentos, foi um dois primeiros sinais de que ele tivesse matado a mãe. As investigações confirmaram a suspeita e apontaram o jovem como autor do crime.

Matheus foi preso no dia 3 de fevereiro de 2022 e 30 dias após a prisão temporária, foi transferido para a Penitenciária Estadual de Dourados, no Sul do Estado, onde permanece.

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